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Carlos Drummond de Andrade ganha homenagem do Google em seu aniversário

No dia em que o poeta completaria 117 anos, recebe um Doodle como homenagem. Relembre cinco poemas marcantes de Drummond.

Por Da redação
Atualizado em 15 jan 2020, 07h55 - Publicado em 31 out 2019, 10h26
RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 2, 2016: A monument to Brazilian poet and writer Carlos Drummond de Andrade on Avenida Atlantica (Atlantic Avenue) near the Copacabana beach. Valery Sharifulin/TASS (Photo by Valery Sharifulin\TASS via Getty Images) (Valery SharifulinTASS/Getty Images)
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Se estivesse vivo, Carlos Drummond de Andrade completaria 117 anos neste 31 de outubro. Um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, e o mais influente do século 20, Drummond nasceu em 1902 em Itabira, Minas Gerais, e viveu até os 84 anos, quando morreu, no Rio de Janeiro, vítima de um infarto do miocárdio.

Algumas das mais populares poesias brasileiras são assinadas por Drummond, como “No Meio do Caminho“, “Poema de Sete Faces“, “Quadrilha” e “José“.

Formado em Farmácia pela Universidade Federal de Minas Gerais, ele veio a se consagrar pela paixão que tinha pelas letras. Durante a maior parte da vida ele foi funcionário público, e paralelamente escrevia e publicava poesias, contos e crônicas. Ele foi influenciado pelo movimento modernista, defendendo o valor do verso livre, sem depender de métricas fixas, mas sua poesia transcendeu o movimento e foi muito além.

Estatua de Carlos Drummond de Andrade
Drummond recebeu uma linda homenagem na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro – uma poética estátua a beira-mar. (Valery SharifulinTASS/Getty Images)

Aproveitando a data, o Google homenageou Drummond com um Doodle em sua página principal. A ilustração foi feita pela artista Olivia Huynh, autora de diversos Doodles. 

doodle carlos drummond de andrade
(Google/Reprodução)

No aniversário de 117 anos do poeta, relembre cinco de suas mais famosas poesias:

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Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

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O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

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José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

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Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

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