Ação permite contratar pocket show live de presente para alguém querido
A serenata virtual recupera o ânimo de quem a recebe e reforça a conexão entre amigos e familiares distantes nesse momento
Um dia qualquer da quarentena (depois que a gente já tinha perdido a conta de quanto dias faziam que estávamos em casa), uma amiga mandou uma mensagem avisando que eu receberia um presente e que deveria aguardar contato de um número desconhecido. Nada como um mistério para animar esses dias confusos.
Pouco tempo depois, Paulo Neto me mandou uma mensagem perguntando qual horário era bom para ele me ligar. “Você acaba de ganhar uma canção ao vivo enviada pela Sayonara”, disse. No domingo, numa tarde de sol e céu alaranjado, Paulo me ligou. Só no papo inicial já fui às lágrimas. O artista me perguntou como andava minha rotina durante a quarentena, como estava a cabeça e o coração. Dedo na ferida. Em seguida, ele cantou uma música de composição própria, que falava sobre amor e a entrega de uma pessoa para cumplicidade da relação.
Paulo faz, em média, 15 ligações por dia. O pernambucano é cantor em São Paulo, onde mora com o namorado, Zé Ed, também cantor. No início do isolamento, os dois ficaram sem chão. Como seria o futuro sem a renda das apresentações? Foram dias difíceis. Não tinha nem previsão para a volta das atividades. “Eu tenho muitos amigos artistas e eles tinham o mesmo drama. Como ia comprar comida. Sentamos, eu e meu namorado, para pensar em uma forma de fomentar o nosso trabalho”, lembra. Surgiu o @adoteoartista. Em vez de uma live com bastante gente, o que seria impessoal, uma ligação por vídeo com um show particular para mudar os momentos de cada um vivendo essa situação difícil que enfrentamos.
Na primeira apresentação, cantou para a mãe de uma garota catarinense que estava comemorando o aniversário longe da filha durante o isolamento. A menina achou o projeto rodando pelo Instagram. A mãe demonstrou estranhamento a princípio de fazer uma chamada de vídeo com um estranho, mas logo cedeu e entregou-se ao momento. Foi ela que usou o termo que melhor descreve o projeto: uma serenata virtual.
Sintonia através da tela
“A vibração é coletiva, então se a pessoa chora, eu divido a emoção. Mas, se está muito difícil não chorar, o que já aconteceu várias vezes, eu me concentro na letra, na melodia e evito olhar para a expressão da pessoa, encaro só a câmera”, admite Paulo. A experiência da troca tem sido gratificante. Foi assim que Paulo ouviu muitas histórias e descobriu realidades diferentes da sua durante a quarentena.
As canções são todas inéditas, autorais. “Elas falam sobre coisas que estamos todos reavaliando nesse momento, a existência, amor, afeto. Escolho a canção a partir do encontro, da conversa. Vejo o que tem mais a ver com ela. Isso é especial, porque é muito personalizado, é muito particular”, diz.
A história de como Paulo chegou até a pessoa também pesa muito na decisão. Em uma das ligações, cantou para o pai de uma jovem que não conseguiu voltar para a casa dos pais, na Bahia, no isolamento. Depois da apresentação, o homem chorou, algo que não fazia há 15 anos, como contou para Paulo. “Foi arrebatador. A gente revê tanto agora parado, a gente presta atenção em coisas que não via antes”, diz.
A arte é um bálsamo, um alívio em meio à tensão absoluta que passamos. Para algumas pessoas, é um respiro necessário e, como é enviada por alguém muito querido, normalmente chega na hora certa. “Já cantei para um marido, presente enviado pela esposa. Eles têm 20 anos de casados e estavam numa crise. Quando eu cantei, eles estavam lado a lado e começaram a se beijar, reataram ali mesmo”, conta o cantor.
Impacto pessoal
Paulo e Zé passam o dia todo em cômodos separados fazendo as serenatas virtuais. À noite, se encontram para trocar experiências e relatos do dia. “Sempre tem muita história pra contar”, diz Paulo.
Há uma semana, a dupla incluiu mais artistas no rol de colaboradores do projeto e a ideia é continuar crescendo e apoiando mais pessoas da área, que foi gravemente afetada pela necessidade de isolamento.
Hoje, quem se interessar pode contratar uma música, um show de 20 minutos – que pode ser para mais de um amigo. Os preços variam de 20 a 50 reais. O contato é feito pelo Instagram ou pelo número disponibilizado no perfil @adoteoartista.