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Verdadeira Natureza, por Mariana Ferrão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Mariana Ferrão é jornalista, palestrante e CEO da Soul.me, empresa especializada em bem-estar, qualidade de vida e desenvolvimento humano. Aqui, marca um encontro quinzenal com as leitoras - e consigo mesma
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Férias escolares

E assim caminha a maternidade: nesta eterna, deliciosa e desafiadora ambivalência

Por Mariana Ferrão
26 jan 2023, 11h52

Na segunda semana de janeiro, eu fiz um post no Instagram que teve mais de 2600 comentários, mais de 10 vezes mais que a maioria dos meus próprios posts. Tinha verdade naquele vídeo e naquele texto. A verdade poderosa das emoções que eu estava vivendo exatamente naquele momento: a raiva, o cansaço e a frustração.

Eu tinha acabado de chegar a um resort, estava de óculos escuros, chapéu e biquíni sob o sol forte e o lindo céu azul da Bahia, mas estava fixada na minha própria exaustão e no fato de eu não estar conseguindo aproveitar nada daquilo. Com certa revolta, cheguei a dizer no post: “sei que estou chata e, se você não quiser, não precisa me ouvir até o fim.” Mas o fato é que muita gente me ouviu até o fim daquele vídeo. Me ouviu contando da viagem que começara de madrugada, do caminho do aeroporto, seguido de transfer de carro e depois de balsa – tudo com mochilas e malas pesadas e meus dois filhos querendo colo e atenção – o que acabou por me render uma tremenda dor nas costas.

Miguel e João, como sempre, haviam dormido no voo, estavam com plena energia e já se divertiam no tobogã aquático. Foi uma luta para conseguir passar protetor solar nos dois, tamanha a excitação! E eu nem relaxar na espreguiçadeira consegui, com receio de que desmaiasse de sono e não visse se algo acontecesse com eles na piscina. Nos comentários do post, havia de tudo: gente agradecendo por não ter tido filhos, gente comentando que no hotel havia babás disponíveis e que eu poderia contratá-las para conseguir descansar um pouco,  pessoas dizendo que eu deveria aproveitar e brincar com eles porque esta fase passa muito rápido, algumas dizendo que eu poderia proibi-los de sair do quarto sem protetor, outras dando dicas de marcas de protetores solares que você pode usar com os filhos molhados, e muita, muita gente dizendo que estava vivendo exatamente o mesmo que eu naquele momento. Raiva, cansaço e frustração – relatos típicos de uma mãe em férias escolares que depois fica desejando as férias das férias. As férias para mim estavam sendo diferentes, era a primeira vez que eu e o Thiago, meu atual marido, convivíamos tantos dias seguidos com o Miguel e o João no mesmo quarto: 15 dias, nós 4.

Estou divorciada do pai deles há pouco mais de três anos e normalmente a gente divide as férias em blocos de 10 ou 15 dias, mas, este ano, tanto eu quanto o André queríamos fazer viagens longas com nossos atuais companheiros e combinamos de ficar mais tempo sem as crianças. O que, para o outro, significa mais tempo com as crianças. 

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Mãe separada que faz guarda compartilhada aprende na marra a ficar sem os filhos. Eu sofri muito nas primeiras semanas em que eles iam para a casa do pai e eu me deparava comigo, no silêncio da casa, sem conseguir fugir da minha solidão. Mas eu também aprendi a gostar da minha solitude, da minha companhia, de ter um tempo só meu. 

É fato: a maternidade pode nos distrair de nós mesmas porque a lista de tarefas é infindável, a demanda gigantesca e, na maioria das vezes (como é o meu caso), o amor maior ainda. A gente faz porque ama fazer. Mas a gente cansa. E muito! Mas não deixa de fazer. E, pelo menos para mim, tem um lado egóico em tudo isso. Percebo que muitas vezes gosto de pensar que só eu sei fazer do jeito que eles querem, do jeito que eles gostam – não é verdade! Muitas vezes nestes dias de viagem eles pediam para o Thi ajuda-los a se secar depois do banho, a se vestir, a acompanha-los na piscina.

No auge do cansaço, eu fiz um combinado com eles que a cada “mamãe” que dissessem para pedir algo, tinham que falar pelo menos um ”Thi”. Quando propus o combinado, achei que não ia funcionar e lá no fundinho, confesso, talvez sentisse um estranho prazer e um certo orgulho se eles continuassem a falar mais mamãe. Mas funcionou e algumas vezes eles nem falavam mamãe para chamar por ele. O que senti? Um alívio. Um enorme alívio e uma fina emoção de presenciar a confiança e o amor entre padrasto (que palavra feia!) e enteados nascendo diante de meus olhos! Estamos construindo. E eu estou reconstruindo minha família. Uma nova família.

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Dá trabalho. Eu e o Thi também tivemos que negociar muito nestes dias as nossas vontades: como casal e individualmente. “Que horas vou andar de caiaque? Será que rola um banho de mar? Quem vai no banheiro primeiro? Agora adoraria ler meu livro. Eu preciso meditar um pouco. Mas e namorar, vamos conseguir?” É desafiador: se dividir em alguns momentos para conseguir dar conta, se dando conta de que só faz sentido porque escolhemos estar juntos. No dia seguinte do post, meu irmão chegou ao hotel com meus sobrinhos. Meus filhos são apaixonados pelos primos, especialmente pelo mais velho, de 14 anos. Tomavam café e já saíam para brincar. Foram ficando mais independentes à medida que se acostumavam com os caminhos do hotel. No dia de ir embora, ninguém queria que as férias terminassem.

E chegou a minha vez de ficar um mês sem as crianças. Quando acordei e me dei conta de que eles não estavam mais no quarto, chorei baixinho minha enorme saudade antecipada ainda na cama. Agora estou com meu amor em um voo para Bali com os olhos brilhando pelo que nos espera do outro lado do mundo.  

E assim caminha a maternidade: nesta eterna, deliciosa e desafiadora ambivalência.

 

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