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Fábio Garcia escreve sobre televisão desde 2012, mas consome a telinha desde que se entende por gente. Ama programas ruins que dão a volta e ficam muito bons
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Por que ‘Avenida Brasil’ é a maior novela da década?

Será que ‘Avenida Brasil’ é a novela que representa o Brasil da década de 2010?

Por Fábio Garcia
Atualizado em 17 jan 2020, 09h53 - Publicado em 7 out 2019, 10h24
Carminha (Adriana Esteves) e Nina (Débora Falabella), em "Avenida Brasil" (Renato Rocha Miranda/TV Globo)
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Antes de falar sobre o sucesso de ‘Avenida Brasil‘, é necessário voltar um pouco no tempo. Reza a lenda que o capítulo final de ‘Roque Santeiro‘, com a decisão de Viúva Porcina (Regina Duarte) sobre qual homem escolheria, chegou perto dos 100 pontos de audiência. Uma década antes, o Brasil parou com a revelação da segunda identidade da protagonista de ‘Selva de Pedra‘. Muitos anos mais tarde, a resolução do mistério do Opala preto de ‘A Próxima Vítima‘ esvaziou as ruas do país inteiro na hora da exibição da novela. Durante esses anos de novelas no Brasil, muitas histórias conquistaram o público e esse fenômeno é algo impossível de se prever ou premeditar, ele apenas acontece. Considerando nossa década atual, podemos dizer que o fenômeno da vez foi ‘Avenida Brasil’, que será re-exibida no ‘Vale a Pena Ver de Novo‘ a partir de hoje (7).

Para uma novela fazer sucesso, existe um fator importante a ser cumprido. Qualidade técnica, grandes atores e história bem contada não são necessariamente importantes, porque isso não explicaria o sucesso de ‘Os Dez Mandamentos‘ e outras novelas nessa década, o que conta mais é o fator de identificação. A novela, por sorte, tem que mostrar o que o brasileiro quer ver… sem que ele saiba o que quer ver.

Avenida Brasil (2012)

Em 2012, quando ‘Avenida Brasil’ estreou, o Brasil vivia uma boa fase econômica. Com a ascensão da Classe C, e o aumento do poder de consumo, houve uma pequena mudança de costumes e essa nova parcela da população precisava se ver representada na televisão. Talvez essa não fosse a intenção principal do autor João Emanuel Carneiro, mas sua história representou perfeitamente o Brasil daquele momento, que se enxergou no fictício bairro do Divino. E essa população ainda não sabia que queria ser retratada numa novela.

A história de vingança de Nina (Débora Falabella) não é necessariamente inédita, já acompanhamos outra centenas de histórias parecidas desde o sucesso de ‘O Conde de Monte Cristo‘, mas conquistou o país com uma protagonista forte e uma vilã extremamente carismática, Carminha (Adriana Esteves). ‘Avenida Brasil’ foi um sucesso desde os primeiros capítulos, e a partir desse ponto nada mais poderia dar errado.

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Silvio de Abreu, atualmente Diretor de Teledramaturgia da Globo, contou uma vez em uma entrevista que, quando uma novela faz sucesso, não importa o que acontecer o público continuará com ela até o fim. ‘Avenida Brasil’ tinha muitos problemas, indo desde furos de roteiro (alô, pendrive da Nina!) e personagens cansativos (estamos falando de você, Cadinho), mas o público já tinha abraçado a novela.

Mas ‘Avenida Brasil’ tem um fator de ineditismo que não vimos em um ‘Roque Santeiro’ da vida: a popularização na internet. A novela de João Emanuel Carneiro foi a primeira a transformar as redes sociais em uma grande sala na qual todo mundo comentava a trama. Com isso piadas simples se transformaram em memes até hoje (“eu quero ver tu me chamar de amendoim”) e acompanhamos uma comoção próxima de grandes séries americanas, como ‘Game of Thrones‘.

‘Avenida Brasil’ é tecnicamente uma novela muito bem feita, mas seus principais méritos são outros. Por ter mobilizado o país, feito pessoas esvaziarem a cidade numa sexta-feira e ainda causar um temor sobre uma possível sobrecarga de energia elétrica durante a transmissão do último capítulo, não restam dúvidas que se trata da novela mais importante da década. Um fenômeno que não acontece todo dia.

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