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Dani Moraes é escritora, jornalista e especialista em escrita terapêutica
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Sem energia pra tanta injustiça

Enquanto o corpo de uma mulher puder ser violado em troca de milhões de euros, continuaremos sendo carne à venda o mercado putrefato do patriarcado

Por Dani Moraes
23 mar 2024, 15h00

Sim, estou com a faca nos dentes essa semana. Bom, na verdade, toda semana. Afinal, mulher. Não me faltam motivos para revolta, estresse, indignação. Sim, porque, além das demandas particulares da vida, sou daquele tipo de gente que parece que é um pouquiiiiinho mais da metade da população brasileira – ao menos de acordo com a última estimativa do Tribunal Superior Eleitoral, realizada em 2022 –, que se importa com a condição de vida dos coleguinhas. No meu caso, das coleguinhas.

Assim, como uma semana que se preze começa no domingo, devo contar que por aqui iniciamos com falta de energia. Dias de calor e desespero, do altinho do meu privilégio – que no Brasil substitui o que em muitos lugares chamam de direito.

A excelentíssima empresa privada que distribui energia elétrica no Estado de São Paulo, esse lugarzinho metade reacionário, metade sobrevivente, mais uma vez não foi capaz de prestar o seu serviço – conhecido como básico para manutenção da vida.

Não pensem que sou intransigente e que não considero, afinal, as intempéries e os erros, humanos ou não, que podem impactar a qualidade da prestação de qualquer serviço. Não, de modo algum. Eu até me considero tolerante.

Puxa vida, choveu tanto, caíram tantas árvores, um acidente aconteceu … só… que… não. Não houve nada disso, ao menos desta vez. Ao menos não houve nada que tenha sido comunicado ou esclarecido à população que, como o capitalismo prefere nomear, também atende por clientes ou, melhor, consumidores.

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Sem energia elétrica, diversos estabelecimentos comerciais da região central de São Paulo – a maior cidade da América Latina, que concentra 10,3% do PIB do país (sim, a cidade!!), equivalente ao PIB de países como Argentina, Suécia, Bélgica e Dinamarca – estão sem condição de funcionamento, perdendo estoques, desperdiçando alimentos e tomando prejuízos que, dificilmente, serão ressarcidos.

Mas não vamos nos ater nisso, ora. Sabemos que as condições climáticas são alarmantes, e que macetar o tal apocalipse, anunciado por Baby, não será tão fácil quanto gostaríamos.

Sabemos que, mais cedo ou mais tarde, a autossuficiência em energia, água e outros recursos naturais determinará não só a condição, mas a própria preservação da vida no planeta. Conviveremos cada dia mais com intempéries de uma natureza devastada, consumida – afinal, capitalistas somos, né não?!

Mas não nos preocupemos tanto. A humanidade criou mecanismos de defesa para suas próprias atrocidades. Vamos nos insurgir contra as arbitrariedades, os abusos, o descaso.

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Vamos fazer com que instituições e seus responsáveis sejam punidos por ações desastradas e maléficas, por romper acordos e convenções que determinam, ainda que não garantam, o funcionamento equânime da vida em sociedade.

Mas peraí: será que dá pra confiar nessa tal Justiça criada pelo homem (termo aqui muito bem empregado)? Justiça essa que não prevalece sequer diante de casos de condenação inconteste. Justiça essa que oprime desde sempre as mesmas camadas da sociedade. Justiça essa que não é igual para todos, que dirá para todas.

Quando um estuprador e seus parças milionários compram liberdade – ainda que não possam comprar, por hora, a própria absolvição –, automaticamente, a condenação é transferida à vítima, numa inversão de valores que faz duvidar inexoravelmente da capacidade humana de regeneração.

Mais uma vez estamos todas nós, mulheres e minorias, encarceradas, cerceadas do direito de existir e preservar a própria existência. Enquanto o corpo de uma mulher puder ser violado em troca de um milhão de euros, continuaremos sendo carne à venda no mercado putrefato do patriarcado.

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Estamos presas e hoje também sem luz.

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