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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Escolas parceiras: como ações simples podem romper barreiras sociais

Não é preciso estar envolvido em uma imensa ação de solidariedade para fazer a diferença

Por Stéphanie Habrich
28 jul 2020, 11h00
Ensino bilíngue.
Ensino bilíngue. (krisanapong detraphiphat/Getty Images)
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No último texto desta coluna, falei sobre crianças e adolescentes que estão ajudando alunos em situação de pobreza a estudar na pandemia. No artigo, destaquei como ações como esta são importantes para rompermos os muros invisíveis que separam pessoas de diferentes classes sociais no Brasil.

Quero seguir falando sobre esse assunto, que acredito ser de extrema importância para a construção de um país mais integrado. Meu sonho é convencer cada vez mais escolas particulares e públicas a se associarem e se tornarem escolas irmãs – desenvolvendo projetos juntas e promovendo o encontro entre jovens e professores de realidades distintas.

Abaixo, relato algumas ações que já ajudei a organizar e que trouxeram resultados extremamente positivos para todas as crianças e adolescentes participantes. Um pequeno início rumo a esse sonho de parcerias. E uma grande demonstração de que não é preciso estar envolvido em uma imensa ação de solidariedade para fazer a diferença. Se cada escola privada procurasse um colégio público da sua vizinhança para implementar uma primeira atividade de melhoria e integração, uma enorme contribuição estaria acontecendo coletivamente pelo país.

Espero que algumas dessas ideias inspirem os leitores da coluna a desenvolverem ações semelhantes. Vamos, juntos, romper as bolhas em que vivemos.

Troca de cartas

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A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) determina que alunos do terceiro ano do ensino fundamental devem estudar sobre o gênero carta. Por que não aproveitar essa deixa para promover uma troca de cartas entre alunos de escolas públicas e privadas?

Há sete anos, uma escola pública e uma escola privada da cidade de São Paulo fazem essa troca, na qual um estudante de uma instituição se comunica, via carta, com um aluno da outra. Eles podem falar sobre o que quiserem: comida, games, filmes, família…

O mais interessante é que, ao final, os dois acabam descobrindo que têm muito mais em comum do que imaginavam. Muitas vezes, os estudantes gostam das mesmas coisas, têm os mesmos hobbies, demonstram interesse pelas mesmas matérias… Essa dinâmica os aproxima e os ajuda a enxergar as diversas semelhanças entre eles – apesar dos endereços, muitas vezes, tão diferentes.

Ao final da dinâmica, a escola privada convida os alunos da escola pública a passar o Dia das Crianças na instituição, com direito a muita festa e brincadeira. Nesse dia, os alunos se encontram e conhecem pessoalmente os colegas com quem trocaram cartas. Depois, alguns até levam a amizade adiante e continuam a se comunicar – por ferramentas que são mais próximas do universo deles, como o WhatsApp.

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Cinema na escola

Muitos alunos de uma escola pública que eu ajudo nunca tinham ido ao cinema. Foi ao descobrir isso que eu, funcionários do Joca (primeiro jornal para crianças e jovens do Brasil) e alguns estudantes de colégios particulares resolvemos promover uma sessão de cinema na instituição.

Escolhemos os filmes, compramos pacotes de pipoca, preparamos uma “barraquinha” para entregar “ingressos” (tudo de brincadeira, só queríamos simular a experiência de um cinema de verdade) e exibimos as produções em um telão que alugamos especificamente para o evento.

Os estudantes das escolas particulares participaram de todo o processo, desde a preparação dos equipamentos para a execução dos filmes até a distribuição da pipoca para os alunos. No final, algumas crianças até disseram que nunca iriam se esquecer daquele dia. Sem dúvida, foi uma tarde divertida para todos!

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Doação de brinquedos

No Dia das Crianças de 2017, o jornal Joca lançou uma campanha incentivando leitores a doarem brinquedos para aqueles que tinham boas condições financeiras (muitas crianças recebem o jornal por meio de doações). Foi um grande sucesso! Alunos de várias escolas assinantes do jornal doaram seus pertences e conseguimos arrecadar mais de 1.200 brinquedos. Mais de 500 crianças foram beneficiadas.

Para as crianças que não tinham boas condições financeiras, aquelas doações, é claro, foram incríveis. Era a chance de ter um Dia das Crianças do jeito que deveria ser: com presentes e diversão. Para quem doou, também foi uma experiência rica, que ensinou o valor do desapego e da solidariedade. Até crianças de escolas públicas arrecadaram brinquedos para doar para outras escolas públicas.

Reforma da escola

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Na cidade de São Paulo, uma das escolas públicas que recebe o Joca por doação estava com a estrutura bem deficitária: não existia biblioteca, a quadra precisava de manutenção e não havia muitas opções de entretenimento para os alunos se divertirem no intervalo entre as aulas.

Assim, eu, um grupo de mães e alunos de escolas particulares nos reunimos para fazer uma reforma na escola. Além de promover a manutenção dos espaços com problemas de estrutura, nosso desejo era criar ambientes agradáveis na instituição para que as crianças de fato aproveitassem o tempo que passavam ali.

Fizemos um levantamento de tudo o que precisaríamos mudar e o que teríamos que fazer para alcançar nossos objetivos. Depois, promovemos um bazar na própria instituição para arrecadar verba. Todos os itens tinham preços bem acessíveis para que os frequentadores pudessem adquirir os produtos. Com o dinheiro das vendas e de doações feitas por alguns apoiadores, conseguimos criar uma biblioteca, uma horta e um espaço com jogos na escola.

Todos esses processos, desde o bazar até a criação dos espaços na instituição, contaram com a participação ativa dos estudantes das escolas particulares. No bazar, eles doaram alguns de seus pertences para vender e ainda ajudaram no dia do evento. Além disso, para a criação da biblioteca, arrecadaram livros e colaboraram com o trabalho de separar os títulos por faixa etária.

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Ver na prática como funciona uma escola diferente da que eles frequentam, e entender como a mobilização de um grupo de pessoas pode fazer a diferença na vida de muitos, foi uma experiência e tanto para esses jovens de realidade privilegiada. E os estudantes da escola pública ficaram muito felizes com os novos espaços.

Por ora, fico nesses exemplos. Nas próximas colunas, abordarei outras práticas que ajudam a romper fronteiras e que trazem alegria e experiências positivas para todos. Como já mencionei, espero que essas ações incentivem outras pessoas a saírem de suas zonas de conforto, de modo que possam entrar em contato com o que há para além dos muros de sua própria casa. Quanto mais pessoas estiverem envolvidas em projetos dessa natureza, maiores serão as chances de entregarmos um país mais justo e tolerante para as novas gerações.

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