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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.

A evolução das matérias escolares

Da educação financeira à inteligência emocional, Stéphanie Habrich reflete sobre temas que gostaria de ter aprendido no colégio

Por Stéphanie Habrich Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 jul 2022, 12h44 - Publicado em 21 jul 2022, 08h01
escola
Precisamos dar aos nossos filhos as ferramentas para que olhem dentro de si e do próximo.  (CDC/Pexels)
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Minha irmã me disse, recentemente, que tem medo de reencarnar e de ter que passar pela escola novamente. Apesar do tom de brincadeira, essa frase me deixou bastante reflexiva, porque eu também, sem dúvidas, não gostaria de ter que viver tempos de colégio mais uma vez, sentar passivamente na aula, aprender fórmulas de química e passar por cada episódio de bullying. Até hoje, anos depois de me formar na faculdade, sonho algumas vezes que estou de volta ao período da graduação, perdida entre as matérias e salas de aula… e tentando finalizar essa época da minha vida.

Isso tudo me faz pensar nas diversas questões que fazem parte do ambiente escolar e em suas mudanças ao longo do tempo. Hoje, tenho a oportunidade tanto de acompanhar de perto a educação dos meus filhos quanto de conversar com professores de diversas escolas ao redor do país, já que o Joca está presente em colégios de todos os estados brasileiro. Acompanhar a transformação do ensino básico faz parte do meu dia a dia profissional e pessoal.

Tenho certeza de que as gerações anteriores, como a minha, teriam se beneficiado (e muito) de algumas disciplinas que não eram ministradas nos colégios antigamente, mas que hoje começam a fazer parte do currículo escolar. Para mim, um dos exemplos é o da educação financeira. 

A educação financeira, tema que vem ganhando cada vez mais destaque nas conversas dos adolescentes e jovens, não poderia deixar de ser explorada no Joca. Em entrevista ao veículo, o professor Paulo Robson de Souza Silva, que dá aulas sobre o tema na Escola Estadual de Educação Profissional Comendador Miguel Gurgel, em Fortaleza (CE), explica que o assunto é importante não apenas para quem precisa controlar o próprio dinheiro. “[A educação financeira] permite viver um estilo de vida de qualidade. Poder gastar sem comprometer os recursos de emergência requer planejamento”, diz. 

A robótica e a culinária são só mais algumas das disciplinas que foram retratadas em matérias do Joca no último ano que, apesar de fazerem parte da rotina dos estudantes de hoje em dia, as gerações anteriores nem sonhavam em ter. Enquanto a primeira incentiva as crianças e adolescentes a pensar em soluções para os problemas do cotidiano, a segunda mostra, na prática, que é possível introduzir escolhas alimentares saudáveis e fáceis. Na minha opinião, conhecimentos que sem dúvidas agregam ao amadurecimento.

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Muito além do currículo 

Acredito que o currículo escolar seja um exemplo evidente da transformação e evolução da educação ao longo dos anos. Mas não posso deixar de mencionar o quanto eu acredito que essas mudanças podem ser vistas também na mentalidade das escolas.

Quando minha mãe era criança, por exemplo, ser canhota (como ela) era algo que requeria uma “correção”. Ao longo da vida escolar, ela foi obrigada a escrever com a mão direita para se adequar ao padrão. Já eu, também canhota, sempre tive a liberdade nos colégios pelos quais passei, tanto na Alemanha quanto no Brasil, de escrever como preferia. Uma mudança relativamente pequena, mas que, acredito, reflete a postura dos colégios de deixar de tentar inserir as crianças e adolescentes em um padrão tão rígido e passar a acolher as diferentes necessidades dos estudantes.

É claro que na minha época de escola o ensino não tinha passado por tantas evoluções como hoje – e como acredito que terá se atualizado ainda mais no futuro. Dou mais um exemplo. Uma das minhas irmãs, que quando tinha cerca de dez anos foi diagnosticada com dislexia, teve que repetir duas vezes de ano e, mais tarde, foi obrigada a mudar de escola pelo colégio em que estudava por não se adequar ao ensino padrão. Hoje, um dos meus filhos, que possui o mesmo diagnóstico, é visto de uma forma completamente diferente no ambiente escolar. Sua dislexia é percebida como uma forma diferente de se pensar e, portanto, algo com o qual seus colegas e professores podem aprender. 

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O caminho ainda é longo

Desde o ano passado, a programação faz parte do currículo obrigatório de escolas estaduais do Ceará. Na minha opinião, essa prática, que ensina a fazer com que o computador execute determinadas tarefas através de comandos, demorou tempo demais para ser vista como importante – isso sem contar que ela ainda não foi implementada na maioria dos colégios ao redor do Brasil.

Acho que, do mesmo jeito que a programação demorou para ser parte da vida dos estudantes, outros temas também estão levando tempo demais para chegar até as escolas. O principal deles, para mim, é lidar com as emoções e o autoconhecimento.

Tenho absoluta certeza de que, se eu tivesse sido incentivada a explorar os sentimentos desde criança, seria mais segura de mim e teria educado melhor meus filhos – entre outros incontáveis benefícios dos quais não aproveitei. O problema é que, diferentemente da programação, as questões subjetivas acompanham uma série de polêmicas. Como explicar para uma geração de pais (que, muitas vezes, ainda são resistentes a práticas como a da terapia) que o Português e a Matemática não solucionam todos os problemas dos alunos? E que, por isso, é preciso abrir um espaço na grade escolar para que eles possam falar sobre o que sentem e os problemas que enfrentam?

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Preciso deixar bem claro que de forma alguma estou menosprezando a importância do Português, tampouco da Matemática. Sei o quanto essas disciplinas são essenciais para que possamos construir um pensamento lógico e racional e nos comunicar com os demais. Mas acredito que, da mesma forma que essas matérias são vistas como essenciais, aprender a lidar com os sentimentos (seus e dos outros) também é uma prática que merece ter seu lugar ao Sol. 

Lembro que, na escola, tive que decorar dezenas de fórmulas de física e de química que nunca usei. Talvez, em uma época anterior aos smartphones, isso realmente fizesse sentido. Mas hoje, em que a informação está a poucos cliques de distância, me questiono se a tal da “decoreba” é realmente eficaz. É por isso que acredito tanto em metodologias como o Problem-Based Learning (PBL, ou Aprendizagem Baseada em Problemas), que incentiva os alunos a fazer conexões ao invés de simplesmente memorizar os conteúdos. 

Isso porque, hoje em dia, ficou evidente que os melhores profissionais precisam saber lidar com as adversidades que enfrentam na rotina – e, consequentemente, ter inteligência emocional para isso. Não existe nenhuma fórmula no mundo capaz de ajudar nesse sentido. Na minha opinião, estamos perdendo gerações. Quantas mais serão necessárias para que se entenda a importância de lidarmos com as emoções desde cedo?

Aqui na coluna, sempre falo sobre a importância dos jovens se informarem. Dessa vez, acrescento um adendo: não basta incentivarmos nossas crianças e adolescentes a saber o que está acontecendo ao redor delas mesmas. Precisamos dar a elas ferramentas para que olhem dentro de si e do próximo.

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