O amor não precisa ser nada
Quem precisa ser, se é que precisa, somos nós
Ouvi, outro dia, na série Breeders que o amor não precisava ser sólido, porque coisas sólidas quando caem quebram. Ao contrário, o amor precisaria ser flexível como bambus, que envergam com o vento, mas seguem firmes. Achei bonito naquele momento. Printei e postei nas minhas redes sociais.
Mas agora, colocando mais energia nessa metáfora, chego à conclusão de que o amor não precisa ser nada. A verdade é que o amor não existe sem a pessoa que ama. O amor não existe sem a gente e, então, não precisa ser nada. Na verdade o amor só é porque nós dissemos que é. Quem precisa ser, se é que precisa, somos nós. Mas também não acho que precisemos ser nem sólidas, nem flexíveis.
Quando entramos sólidas nas relações, não permitimos que nada flua. Sem fluir, sem movimento, a relação não se desenvolve. A gente, ao contrário das plantas, não cresce sem poder sair do lugar, sem poder ventar, sem poder escolher novos espaços ao Sol. Solidez pode ser também sinônimo de rigidez, estagnação, armadura. Às vezes, é tudo que temos para conseguir ficar de pé. Outras tantas, foi aquilo que precisamos ser para seguirmos nossas jornadas da vida. Mas com o tempo, aparecem as rachaduras e fica pesado.
Ser flexível demais, entretanto, não é o antídoto. Se muito flexíveis, nos perdemos da gente. Deixamo-nos invadir. Invadimos. Os bambus são excelentes referências de força e flexibilidade. Mas crescem rápido demais. Ao piscar de olhos, já ocuparam longas extensões, fecharam toda a vista que se tinha e nos impediram de apreciar outras possibilidades. O bambu resiste. Mas as relações não precisam ser sobre resistência. Aliás, quando são, tendem a trazer dor e deixar marcas profundas.
Sim, podemos resistir. Muitas vezes precisamos resistir no mundo que nos quer obedientes. Mas essa não pode ser a meta. Nem dos relacionamentos, nem da vida e nem da nossa existência.
Mergulhar nos relacionamentos, nos amores, permitir-se vincular é um exercício também para experimentarmos tudo isso. É a vivência que nos leva a novos mundos dentro da gente, dentro do outro e dentro de dimensões nossas que sequer existem ainda. Ora entramos sólidas. Ora flexíveis. Ora encontramos o equilíbrio, um equilíbrio que não é o meio do caminho, mas a compreensão de que sempre há alternativas.
Muito mais do que precisar ser flexível, sólida, rígida ou leve, precisamos ser gentis e respeitosas com os nossos processos. Gentis e respeitosas, inclusive, quando não é possível se amar por inteiro, amar o outro por inteiro. Gentis e respeitosas com todos os outros sentimentos que fazem parte do pacote dos relacionamentos.
Não existe fórmula para se relacionar. É uma daquelas coisas que a gente aprende fazendo. E aí, a cada tentativa temos a chance de fazer novas descobertas, que são sempre descobertas sobre a gente mesma.