Como saber se é a pessoa certa?
Quem fica quando você não é o que parece ser? Essas costumam ser as pessoas certas
Eu nunca busquei o amor romântico. Nunca senti aquela angústia de não saber se um dia encontraria a minha pessoa no mundo. E não, não tinha nada de especial sobre mim. Não fui uma jovem desconstruidona e autossuficiente. Eu acreditava em alma gêmea e em amores para toda uma vida. Mas havia em mim a certeza de que eles aconteceriam assim, sem grandes empreitadas.
Fato é que nasci carregando características que me permitiram nunca temer a solidão. Uma mulher branca, magra, de cabelos lisos. Padrão. Para mim, havia sido reservado na história, na sociedade e na vida o lugar de ser “amada” e cuidada. Nunca me faltou cortejo, galanteio e pretendentes. Então, verdade seja dita, não foi por acaso que nunca senti medo de não encontrar um par.
Preciso dizer, no entanto, que tive a sorte de encontrar pessoas certas pelo caminho. E também pessoas erradas que ficaram tempo suficiente para que eu soubesse que não eram certas, mas foram embora antes que pudessem causar danos irreparáveis. Esbarrei com gente muito errada e que deu certo. Tentei me envolver com gente certa, mas que deu errado.
Mas eu tenho respostas dessa vez. Ao longo dos meus mais de 10 namoros, 1 casamento, muitas amizades falidas e algumas bem sucedidas, aprendi a identificar pessoas certas. E, posso dizer? É muito mais óbvio do que se possa imaginar.
É sobre como ela, a sua pessoa, reage quando você tira a roupa. E essa roupa, talvez, seja literal mesmo. Mas, principalmente, aquelas camadas e camadas de roupas que a gente veste para ser aceita, sabe? Aquela que te deixa mais alegre, aquela outra que te esconde, aquela que te faz parecer culta, madura, equilibrada.
Porque a gente não é madura o tempo todo. Eu não sou. Também estou longe de ser moderada, elegante, doce. Sinceramente, nem quero ser. Mas e aí, quem fica quando você não é o que parece ser? Essas costumam ser as pessoas certas.
Outro dia, fui viajar com a minha namorada e um casal de amigos. Em meio a uma brincadeira ingênua de bilhar, senti gatilhos profundos serem ativados. Eu não aprendi a perder na infância. Não aprendi que podia errar na vida e, então, não aprendi a competir. Sempre evitei todo tipo de competição. Mas, ali, entre amigos, me permiti. E foi horrível. Eu gritei, fiz birra, me joguei no chão como se tivesse 5 anos de idade. Fiquei despida. Deixei a minha criança falar e minha adulta parecer “ridícula”.
Respirei. Contei para eles o que estava acontecendo, e eles? Eles contaram dos seus gatilhos, me abraçaram e agradeceram por ter ficado confortável o suficiente para dividir a minha parte que dói. Aquelas eram as pessoas certas.
Pessoas certas são as que ficam. Ficam não apesar de, mas por tudo que somos. E não ficam porque se nutrem das nossas dores, medos e sombras. Ficam porque também podem estar nuas, porque desejam nossa completude e porque sabem que há algo muito especial nesse espaço tão raro em que podemos apenas ser. São certas porque mesmo quando partem, deixam saudade daquilo que foi bom e a lembrança do que não foi. São certas porque não são perfeitas, mas são tudo que podem ser.