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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.
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Além das roupas impecáveis, a coleção de Verão 2024 da Dior foi um abraço

Com uma passarela rica em códigos da maison francesa, Maria Grazia Chiuri mantém diálogo direcionado às mulheres com sensibilidade e verdade

Por Renata Brosina
Atualizado em 30 set 2023, 06h50 - Publicado em 30 set 2023, 05h19

Foi no dia 27 de fevereiro de 2019 que entrei em um dos prédios da Avenue Montaigne para entrevistar Maria Grazia Chiuri, a diretora criativa da Dior. Antes de entrar em sua sala, já admirava sua posição, força e capacidade de liderar, há algumas temporadas, as coleções femininas da maison francesa. Afinal, ela foi a primeira mulher a ocupar o comando criativo de uma marca francesa nascida na década de 1940, após cinco homens, além de Christian Dior.

Eu, que era fã absoluta de Raf Simons, confesso que vivi um mixed feelings com a sua primeira passarela, mas superei facilmente a falta do designer belga. A estilista romana, que já tinha formado dupla com Pierpaolo Piccioli, na Valentino, e passou pela Fendi, era poderosa. Aliás, ainda é.

Essa sua última passarela de Verão 2024 para a Dior mexeu demais comigo. Antes de falar o porquê, vale um pequeno retrospecto para alcançar o ponto que é mais sensível. Apesar de formarem um duo romântico, profundo e poético, Maria Grazia e Pierpaolo não exalavam tantas manifestações quanto ela, na marca francesa, vem fazendo desde a sua entrada, em 2016. Por isso, talvez, a minha falta de interesse pela sua estreia na maison francesa.

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Entretanto, suas camisetas com a frase “We Should All be Feminists”, com referência na obra de Chimamanda Ngozi Adichue, foram além de uma peça comercial. Como ela mesma descreve na introdução do seu primeiro livro para a marca, intitulado “Her Dior”, que reúne imagens criadas por mulheres fotógrafas durante seu tempo de casa: “Procurar um diálogo desde o início com estas artistas, escritoras e ativistas, em tempos distantes de mim e da moda, foi parte integrante do meu foco nas razões e nas situações que eu acreditava serem urgentes, e que eu queria colocar no centro do meu processo criativo”, explica Chiuri.

A sua mensagem por trás de absolutamente todas as duas criações, seja Couture, Prêt-à-Porter ou capsule collections, tem algum foco de força e nos leva a encontrar nomes que já percorrem essa busca, por direitos das mulheres, de uma maneira tão rica e honesta.

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Com essas decisões e apostas da estilista, confesso que me senti muito feliz em descobrir quem são essas artistas, dançarinas e ativistas que trabalham diariamente com feminilidade e feminismo.

Entre as experiências mais especiais que tive relacionada à maison (e, talvez, à moda no geral) está o cenário desenvolvido por Tomaso Binga para o desfile de Inverno 2019/2020. Tomaso, na verdade, é o alter ego de Bianca Pucciarelli, uma artista conceitual feminista italiana, que, durante a década de 1960, deu início a uma série de trabalhos provocativos relacionados ao sexismo.

O pseudônimo masculino surgiu nos anos 1970, a fim de questionar o machismo enraizado no mundo da arte, e foi inspirado em Marinetti, um poeta surrealista, que serviu de referência para a artista ao longo da vida. Foi durante esse mesmo período, em 1977, que Binga realizou uma das suas maiores performances, com seu corpo nu formando as letras do alfabeto – neste caso, a obra aplicada na cenografia do desfile. Nas temporadas seguintes, a prioridade em manter seu discurso – e missão – vivo foi cada vez mais surpreendente.

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Na mais recente, de Verão 2024, ela convidou a italiana Elena Bellantoni para trazer seus vídeos como o pano de fundo para uma coleção construída por belíssimos looks compostos por alfaiataria, camisaria repaginada, peças fluídas, plissados e uma série de ícones da maison, com destaque para a clássica jaqueta Bar. Os tons neutros dos visuais davam espaço aos tons vibrantes da passarela e da arte de Bellantoni, com frases marcantes como “Eu não sou apenas uma mãe, mulher, filha. Eu sou uma mulher”.

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Ainda que as roupas tenham me deixado encantada, toda a atmosfera construída por ela me deu um outro gatilho – e, por isso, esse desfile tenha me deixado mais sensível nos últimos dois dias. O recado da diretora criativa “bate” de uma forma diferente.

Não é um produto, não é um casting dos sonhos ou uma trilha emotiva. É quase uma conversa de mãe para filha. Sabe quando uma mãe olha para você, fala algo que, talvez, no momento, não faça sentido, mas, anos mais tarde, você entende? Do meu encontro com ela, tive um resultado semelhante.

Ela, que preferiu o nosso bate-papo em italiano, sua língua mãe, em determinado momento disse o quanto era importante que essa ideia de sororidade chegasse da melhor maneira para o público. E, ainda que em uma passarela de moda, com grande interesse comercial, pudesse ser verdadeiro. A partir da palavra “verdade” migramos para um outro ponto.

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Lembro bem sobre quando falamos do feminismo não ter sido descoberto, da sua forma mais pura e amorosa, por muitas mulheres. Um dos ângulos que mais me bateu e hoje, anos mais tarde, faz muito sentido é sobre mulheres que se escondem por trás de um movimento tão sério para justificar seu comportamento tóxico. Um exemplo? Senti na pele (e por dentro também) o quanto é danoso ver alguém falar sobre sororidade, terapia e abraçar “as manas” em posts nas redes sociais, mas fazendo, com muita frequência, ameaças e ataques agressivos em mensagens diretas (por causa de: homens).

Ironicamente, Elena Bellantoni, em uma das suas artes, brinca com a possibilidade de “salvar o casamento” por “passar bem as roupas a ferro”. A gente ri, mas a batalha por quem prega a sororidade (do jeito errado) por homens ainda existe. A conta fecha? Não. Como a gente consegue bater de frente com tamanha hipocrisia – e agressividade – velada dessa forma?

E é por esse tipo de atitude, com uma sinalização de virtudes diária na internet, mas com covardia e descontrole em mensagens privadas, que esse progresso acaba não acontecendo. E, toda vez que vejo isso acontecer, lembro da conversa de 44 minutos que tive com Maria Grazia – e isso me faz sentir abraçada.

Com essas palavras, que me conquistaram para sempre, toda vez que ela entra na passarela para se despedir, não vejo ela como uma diretora criativa. Vejo uma mulher.

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