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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.
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Arte no Palazzo: A celebração de um dos maiores artistas da Itália

Fendi sedia exposição de Arnaldo Pomodoro no seu headquarters, que visitei em Roma

Por Renata Brosina
Atualizado em 12 jun 2023, 09h30 - Publicado em 12 jun 2023, 09h29

Durante a tour pela exposição Il Grande Teatro delle Civiltà (O Grande Teatro das Civilizações, em tradução livre), me deparei com uma coincidência interessante entre o autor homenageado na mostra, o prédio que abriga as trinta obras — entre pinturas, esculturas e instalações — e uma experiência de infância.

O edifício onde está acontecendo a exibição, que vai até 1º de outubro, é o Palazzo della Civiltà Italiana, em Roma, também conhecido como Colosseo Quadrato. Por estar localizado a caminho do aeroporto de Fiumicino, toda vez que passava ali, ficava intrigada com a construção arquitetônica, símbolo do racionalismo e modernismo italiano dos anos 1930 e 1940, decorando o horizonte.

Ele se destaca no meio de um cenário limpo, sozinho e, como o segundo nome sugere, quadrado. Sempre quis saber o que tinha dentro dele, mas, como não era aberto para visitação ao público, este ícone ficava como um mistério para mim. E, na Itália, o que não faltam são construções com histórias enigmáticas.

Eis que, em 2015, ele foi reapropriado pela Fendi, marca nascida em Roma que tem como compromisso apoiar e preservar a arte, cultura e arquitetura local como uma forma de valorização das suas raízes. A grife transformou o lugar em headquarters e permite passeios por algumas áreas.

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A prova disso é que, cá estou eu, andando pelo andar térreo, vendo cada uma das obras de Arnaldo Pomodoro, um artista que também sempre teve essa curiosidade por saber como os objetos eram por dentro. Desde a sua infância, na década de 1920, o escultor nascido em Morciano se aventurava em descobrir mais sobre o interior de algo que viesse da natureza (ou não).

Na sua arte, um reflexo sobre essa inquietude, esculturas com partes distorcidas e abertas revelam o que pode existir como componente interno de uma obra. A curadoria, feita por Lorenzo Respi e Andrea Viliani, traz uma narrativa interessante, abrangendo desde a época que Pomodoro trabalhava com joalheria até as suas mais recentes criações, finalizadas em 2021. 

Para celebrar um dos maiores nomes da arte italiana, Fendi sedia exposição de Arnaldo Pomodoro no seu headquarters, que visitei em Roma

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Nas duas salas, cada uma delas separada por obras em preto e branco, um resumo bem feito das técnicas desenvolvidas por Pomodoro ao longo dos seus 70 anos de experimentações, com um arquivo riquíssimo de fotografias, documentos, rascunhos e desenhos inéditos. Muitos, inclusive, documentam o início de tudo.

Entre eles, as técnicas na época em que estava projetando joias: ele desenvolveu maneiras de construir pequenas (e minúsculas) pecinhas de metal para brincos, colares, pulseiras e anéis em ossos de sépia, estrutura que facilitava o rascunho de cada parte. Uma quantidade generosa desses fragmentos está presente no painel do Ingresso nel Labirinto.

Pomodoro, hoje aos 96 anos, é conhecido por desbravar a interligação das artes visuais e cênicas, destacando a relação entre o componente de planejamento da obra e a sua criação.

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Há uma estética que celebra uma combinação de civilizações, sejam elas arcaicas, antigas, modernas ou mesmo fantásticas, às quais suas criações constantemente se referem, originando formas e materiais que são memória do passado e visão de futuro.

Assim, ele consegue ressignificar os nossos saberes e imaginários, nossa experiência de tempo e espaço, e de história e mito. Assim como a memória romana.

Para celebrar um dos maiores nomes da arte italiana, Fendi sedia exposição de Arnaldo Pomodoro no seu headquarters, que visitei em Roma

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Quando perguntei aos curadores sobre a ausência de uma das obras mais conhecidas, a Sfera con Sfera, Lorenzo respondeu sem hesitar: “Porque é a mais famosa”.

Ela também carrega uma característica forte do seu trabalho: o movimento. Como a vida, que está sempre carregando perfeições e imperfeições.

A maneira dele de tirar objetos da inércia está nos mínimos detalhes – ou nos mais impressionantes. Entre os principais exemplos, na área externa da exibição, que cria uma espécie de liga entre as duas salas, há uma icônica criação batizada Rotativa di Babilônia (1991).

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Sua forma circular mostra uma ideia cíclica sem fim. Ainda do lado de fora dos janelões do prédio, há quatro esculturas que já sinalizam uma mudança na programação do Palazzo: Forme del mito, Il potere (Agamennone), L’ambizione (Clitennestra), La macchina (Egisto) e La profezia (Cassandra), que foram inspiradas nas máquinas cênicas feitas para o ciclo teatral do artista Emilio Isgrò, inspirada no livro Oresteia de Ésquilo.

A conexão do artista com a indumentária também é exposta, por meio dos figurinos que ele criou para as apresentações teatrais de La tragedia di Didone, de Christopher Marlowe, e de Oedipus Rex, de Ígor Stravinski. Ambos feitos com materiais esculturais, como a ráfia, para destacar as técnicas tradicionais de construção de vestimenta africanas e asiáticas.

A relação entre Fendi e Pomodoro, portanto, se dá pela celebração mútua de respeito ao legado da arte e da moda, e uma atenção generosa às linguagens artísticas.

A parceria entre a Fundação Arnaldo Pomodoro e a grife já existe desde 2013. E trata-se de uma evolução natural a partir de uma coincidência.

O headquarters milanês da marca, na Via Solari, era um antigo espaço expositivo da fundação. É ainda o local que abriga a obra ambiental Ingresso nel labirinto, uma das mais significativas da trajetória artística de Arnaldo.

Descobrir o que está por trás da arte é desvendar o melhor mistério.

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