Vida de solteira: entre encontros, contas gigantes e apartamentos vazios
Porque vidas solteiras também importam, viu, família?
Estou eu aqui numa sexta feira à noite sentada no chão do meu apartamento recém-alugado e sem móveis. E fiquei pensando na estrutura da sociedade que só presenteia quem casa. Estamos em 2023 e todos meus primos casaram e receberam moveis – e pacotes de viagens caríssimas de amigos e todos meus parentes. Eu, uma mulher de 30+, não tenho um sofá e uma cafeteira para chamar de minha.
Não estou nas olimpíadas de sofrimento, afinal, arduamente pago um aluguel e, às vezes, ostento em um look parcelado em mil vezes – e como uma torrada com atum no fim do dia para equilibrar as contas. Mas se for para pensarmos friamente, a sociedade só valoriza quem se une aos pares, e pinguins.
A estrutura patriarcal só homenageia quem se junta, e há aqui a reclamação também daquelas que se separaram e tiveram que se reconstruir sozinhas e muitas vezes com filhos pequenos.
“Ah, porque não fazer um open house?”
Queridos, eu já fiz e o máximo que recebi foram cabides e Tupperwares (odeio). Nada de uma TV de muitas polegadas ou uma máquina de lavar, quiçá um pacote para andar de balão na Capadócia.
Amigos, parentes, sociedade, não estão preparados e não querem minimamente participar da conquista árdua da mulher que decidiu viver uma vida sozinha, sem homens e, logo, em PAZ.
Luto aqui pelo direito de sermos reconhecidas e dizer que o número de pessoas que moram sozinhas aumentou – Na estimativa do IBGE, foram contabilizados 212,7 milhões de residentes em 2021, sendo 108,7 milhões de mulheres (51,1%).
Não tem uma plantinha esturricada, um cacto, um mini espelho para aparar as sobrancelhas. Nada.
Será que precisamos desse holofote que, sim, é um problema?
Somos solteiras e queremos uma casa legal e com alguns móveis básicos (se for um parente abonado e quiser ostentar, não reclamo) .
Se rolar uma viagem para gente conhecer gente e transar, um plus a mais. Já sabemos que casais em lua de mel mais brigam do que transam – prometo a Deus que se isso acontecer comigo eu honro minha fama de fogosa e menos barraqueira.
Então esse texto serve para você abrir o olho, ajudar sua amiga solteira, recém-separada e para o governo federal criar uma bolsa auxílio ou o famoso #ajudaluciano.
Nem no supermercado temos paz, compramos um kit queijo e presunto tamanho família que estraga na geladeira. Nem nisso pensam em nós. E se for tamanho menor o preço é igual.
Pensem: solteiros pagam em dobro TUDO. Casais dividem. Essa conta NÃO FECHA.
A gente já tem que lidar com encontros, dates, caras babacas e nossa conta ainda é gigante.
Fique um apelo: pensem em nós. O sistema patriarcal só válida quem se molda à tradição de um casamento. Desculpa, fomos escolhidas pelo destino a desafiar isso.
Amigos e familiares, vocês montaram a casa de todos que conheço. Esse recado fica pra vocês. “Ai, faz uma festa e te dão presentes”. Meus caros, eu faço festa há 35 anos e depois dos 10 anos você não recebe mais presente decente. Encarem os fatos.
Esse texto pode ser interpretado como uma grande mágoa, mas reflete 100% a vida de uma solteira que se equilibra em contas que não fecham e recém-separadas que vivem o luto e têm que se restabelecer pagando mil advogados.
Vidas solteiras IMPORTAM.
Martchela