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Lia Rizzo

Por Revolução das Mulheres Comuns Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A editora é mãe da Catarina, "boadrasta" do Bruno e par do Rodolfo. Ela aprende sempre com o que chama de revolução das mulheres comuns. Compartilha suas histórias e as histórias de gente interessante

Minha história de amamentação

Quando engravidei, ouvi tudo e mais um pouco a respeito do parto, mas absolutamente nada sobre como seria amamentar Catarina depois que ela nascesse

Por Lia Rizzo
Atualizado em 2 ago 2018, 00h13 - Publicado em 1 ago 2018, 15h02
 (Arquivo Pessoal/Reprodução)
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Quando minha filha Catarina nasceu, sabia que a amamentação, nosso desafio seguinte, poderia não ser fácil. Uns quatro anos antes, minha irmã deu à luz meu sobrinho. Os acompanhei bem de perto e me lembro sem saudade do martírio para ela conseguir perseverar no aleitamento. O mesmo ocorreu com minha melhor amiga, em meio a um puerpério pesadíssimo. E depois de algum tempo, deu tudo certo para ela também. Então era óbvio que eu ia conseguir.

Na maternidade, uma enfermeira bem gentil trouxe minha bebê para meu peito uns minutos após ela sair da minha barriga – sim, teve isso também, o trabalho de parto não evoluiu e optamos por uma cesárea. Agitada, Catarina teve dificuldades para se entender com o bico plano do meu seio. Espreme dali, espreme daqui, algumas gotinhas de colostro caíram em sua linguinha. Mas o mamar de verdade, deixamos para depois.

Seguimos juntas para o quarto. Ela dormiu um pouco e, após uma horinha, nova tentativa de amamentar. Lembro vagamente, mas creio que foram umas três ou quatro mamadas naquele dia e outras duas de noite. Chegamos a evoluir. Porém, junto com a saciedade dela, vieram as primeiras lesões em meus mamilos. No dia seguinte, sangrava e doía absurdamente, mas seguimos na luta.

Já em seus primeiros dias de vida, Catarina era o que chamam de “bebê bonzinho”. “Mais do que isso”, disse o dr. Oscar, nosso pediatra, quando a levei para a primeira consulta e expliquei que ela não acordava para mamar durante a noite. De acordo com o médico, eu era a primeira mãe que chegava reclamando que um neném de sete dias dormia muito. Mesmo assim, resolvemos que eu tentaria despertá-la, não apenas por ser muito pequena, mas para estimular a minha mama.

Foi um desastre. Cada vez que eu me atrevia a interromper seu sono noturno, levava um tempão para acalmá-la e depois tranquilizar os vizinhos, jurando que a quarta guerra mundial ainda não tinha sido iniciada. Nossos corpos começaram a sentir. O dela não ganhava peso, o meu – tenso e cansado – produzia menos do que parecia ser suficiente para alimentá-la. Por indicação médica, passei então a tomar um remédio para ajudar na produção de leite, aumentei ainda mais o consumo de água e adotei alguns truques nas mamadas durante o dia. Por minha conta, também estabeleci que acordaria em intervalos de duas a três horas durante a noite para ordenhar o peito com bomba elétrica.

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Ela tinha pouco mais de dois meses quando veio a sugestão de, junto ao leite materno, começarmos a complementar uma vez por dia com uma fórmula, o temido leite artificial. Fiquei em silêncio, sentindo o rosto queimar e os olhos encherem de lágrimas. Eu, até então elogiada por ser uma mãe prática e tranquila, sentia pela primeira vez o peso pesadíssimo da culpa, da impotência, do medo da patrulha. O peso de quem falhou. Com muita sensibilidade, o dr. Oscar tratou de me acalmar e incentivar a não desistir, encarando aquilo como um novo gás para nós duas. Foram mais dois meses e meio de aleitamento materno combinado com fórmula. Até que, não sem muita dor, física e emocional, encerramos este capítulo em nossa história.

Por que te conto isso?

Engravidei há pouco mais de três anos (nem faz tanto tempo, viu?). E na época, ouvi tudo e mais um pouco a respeito do parto, de como deveria me preparar, qual o melhor método, de que médicos fugir, que exercícios fazer, como estimular isso e aquilo. Foram nove meses planejando como a bebê ia sair. Mas nenhum segundo – eu disse nenhum – pensando em como ela se alimentaria a partir dali. Para mim era natural e óbvio. Não tinha mesmo a menor chance de não dar certo. Ou melhor, tinha sim. Tanto que deu errado.

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Quando conversamos em CLAUDIA sobre fazer uma reportagem com este tema a partir de um estudo inédito que realizamos pela Abril Inteligência em parceria com a MindMiners, percebi com surpresa, que todos os meus dramas, dilemas e arrependimentos estavam de volta. Achava que estava muito mais resolvida em relação a isso.

A pontada de tristeza veio não apenas quando me reconheci nos resultados da pesquisa, que apontou que 65% das 5480 mulheres participantes tiveram muitas dificuldades no início do aleitamento. Me vi também nas palavras da Vitória que, em prantos, deu a primeira mamadeira com complemento quando constatou que a filha havia perdido muito peso, enquanto tentavam se entender no amamentar. E no depoimento da neurologista Tatiane, que tinha vergonha de dar mamadeira para o filho em público até ele completar seis meses. A única lembrança positiva foi quando Gabriela contou que tinha tanto leite que, além da filha, deu de mamar simultaneamente para um sobrinho, já que sua irmã não conseguia fazê-lo por conta do peito lesionado. Assim como minha irmã fez em uma tarde quando, após amamentar minha sobrinha, me socorreu com seu leite, amamentando em seguida Catarina, que chorava muito depois de uma mamada e não saia mais nada do meu seio.

Vitória conseguiu driblar as dificuldades e ainda amamenta Carolina, de um ano e dois meses, hoje apenas no peito. Tatiane soube depois de os filhos já estarem crescidos, que faz parte de uma estatística rara de 1 a 5% das mulheres cujo corpo não produz leite. Gabriela amamentou tranquilamente também o segundo filho.

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Além delas teve Elaine, que usa da experiência bem-sucedida com os três filhos para ajudar outras gestantes a se prepararem para a missão. E as pediatras Kelly e Luciana e a fonoaudióloga Fernanda, mulheres que se dedicam a acolher e orientar outras mulheres para esse momento de muita importância, mas de bastante insegurança e desafios. Porque sim, ajuda especializada pode fazer imensa diferença e tornar possível para quase todo mundo!

Todas elas nos ajudaram a construir a reportagem que você lê em nossa edição de agosto (que chega às bancas no próximo dia 7), algo que eu particularmente gostaria de ter lido lá em meados de 2016, quando Catarina precocemente desmamou. Mas, sobretudo, me ajudaram a entender que não há regras ou romance em mais este tema relacionado à maternidade. E que o compartilhar de experiências, empatia e informação é o que deveria nos unir a outras mães, para além de discussões sobre a insistência, a introdução ou não da fórmula, o tempo e a forma como cada uma vai alimentar o seu filho e o vínculo com ele.

O leite sempre será o alimento mais benéfico para o bebê, amamentar pelo máximo de tempo que puder sempre será a melhor opção. E, preferencialmente, em livre demanda. Isto é indiscutível. Porém, dos seus limites e do que funciona em seu dia a dia, só você sabe. E não será menos mãe por nenhuma decisão que tomar.

 

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