Mulherada, parabéns!
Celebro ter tido uma voz, mas vejo que, para mudar mesmo, temos que gritar sem cessar
E começa, no mundo, o mês internacional da MULHER.
Olho no calendário, vejo os mil e um posts comerciais, leio sobre as muitas ações que empresas e organizações irão promover. E penso quietinha: As coisas estão mesmo mudando? Será?
Não vou fazer um texto cronológico sobre as sufragistas, a queima dos sutiãs, o barulho pró-aborto, a vomitação contra o assédio.
Faço uma análise pessoal, uma régua do tempo me usando como base. Eu menina, bolinada na escola pelos garotos safados. O olhar tarado dos tios mais velhos na família. Transei com namoradinho. Não gostei. Fui tentando, passei o rodo.
Já mocinha, o primeiro emprego e aquela olhada deles na minha bunda. O beijo roubado sem o meu consentimento. A mão no meu seio no escurinho do cinema. A dedada na noite lisérgica. Bebedeira, balada, maconha com violão, cantoria, sacanagem nas festas e fins de semana. O primeiro marido. Os filhos. Um amante apenas durante a relação. Fiquei doente. Separei. Encalhei.
Morri em vida e ao encontrar um ex-namorado vi que ainda ardia. Me casei novamente. Hoje, plena, em meio a um furacão de emoções, celebro ter 53 anos. Celebro meus pentelhos brancos. Celebro ter tido uma voz e sobretudo ouvir as vozes de outras mulheres. Mas vejo que,para mudar mesmo, temos que gritar sem cessar.
Dedico esta coluna as mais de 100 meninas nigerianas sequestradas essa semana pelo grupo extremista Boko Haram.
Até quando?