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Mais mulheres na política: um jogo de soma zero

Falta de representatividade feminina nos espaços de poder é um problema antigo não só na política, mas também no setor privado

Por Laiz Soares
10 ago 2022, 08h31

O tema mais mulheres na política tem dominado a pauta nos últimos tempos. A falta de representatividade feminina nos espaços de poder é um problema antigo não só na política, mas também no setor privado. Para ter uma ideia, na Câmara dos Deputados, por exemplo, das 513 cadeiras, apenas 77 são ocupadas por deputadas, o que corresponde a 15% do total. No Senado, somente 12 mulheres foram eleitas para as 81 vagas, o que equivale a uma participação feminina de 14%. Os números são insuficientes e decepcionantes já que somos a maioria no eleitorado brasileiro (52,5%), a maioria da população que paga os impostos.

Ou seja, nós pagamos a maior parte da conta, mas não podemos escolher como queremos que o dinheiro seja usado nem gasto, pois não estamos nos espaços de decisão.

Vejo muita gente falando disso, mas poucos com conhecimento de causa.  Já cansei de assistir palestras, aulas, ler artigos e livros sobre o quanto é ruim para todos nós essa falta de mulheres na política e o que precisa ser feito.  Acho que está faltando a gente ouvir, de fato, as mulheres que têm uma visão crítica sobre o sistema e compreendem, por meio da sua vivencia o que de fato impede que mais mulheres ocupem cargos públicos de decisão no país.

A falta de preparo, de repertório, de rede de apoio e de recursos levam muitas mulheres a desistirem de lutar para serem eleitas na política. Política é disputa de poder e quando se fala em jogo de interesses complexos, de atores relevantes e bem articulados, o desafio é muito maior. Afinal, a gente tem que entender que quando uma mulher quer ocupar uma cadeira de prefeita, de vereadora, de deputada, de governadora ou de presidente, alguém que já ocupa aquela posição ou está acostumado a ocupar vai ter que levantar para aquela mulher se sentar.

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É algo que em Teoria dos Jogos na ciência política a gente chama de “jogo de soma zero”, ou seja, para um ganhar, alguém tem que perder. Na minha experiência, vi o quanto é difícil a luta para uma mulher self made que começou do zero, que não vem de uma estrutura familiar que já é da política, tentar se eleger em um ambiente dominado por gente poderosa, influente, com dinheiro e que está disposta a tudo para continuar mandando no país. Infelizmente tenho que atestar que isso é muito pior do que as pessoas imaginam. Já vi e passei por muita coisa, mas ainda estou aqui de pé e disposta a ir longe.

Entrei na política em 2018, por acaso ou destino, para ajudar uma amiga que, aos 24 anos, após ter estudado em Havard, resolveu ser deputada federal para mudar a educação no Brasil. Elegemos a Tabata Amaral como uma das mulheres mais votadas do país. Trabalhei em Brasília com ela, conheci os bastidores. Decidi construir meu caminho e começar do zero na minha terra. Fui candidata à prefeita na minha cidade natal em Divinópolis, em Minas Gerais. Perdi a eleição, mas fui a mulher mais votada da história da minha cidade. Fiz algo inédito na minha região, mobilizei milhares de mulheres e jovens (21.514 para ser mais precisa). Mas, mesmo não sendo eleita, aprendi muita coisa nesses últimos 4 anos desbravando esse universo paralelo desconhecido por todos que é a política.

Tentei e tento inovar, fazer diferente. Aprendi o quanto é difícil, de fato, a gente mudar as coisas, mas o quanto as pessoas querem a mudança. O quanto é importante sermos verdadeiros, o quão importante é mobilizar as pessoas com paixão. Aprendi que de fato o Brasil precisa e merece pessoas boas, mas que o sistema é falho. Entretanto, de uma coisa estou certa: a mudança é lenta e gradual, mas ela já começou a acontecer.

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Cada vez mais vejo um movimento de mulheres querendo ir para a política se candidatar, se colocar na linha de frente no campo de batalha. É um ato de coragem. Exige muito, é muita exposição. Contudo, há tantas reivindicações femininas que só nós mulheres participando da política conseguiremos conquistar. Por isso, meu pedido para você, mulher, que me lê, é que apoie mulheres, que  conheça e busque conhecer as que estão na sua região tentando mudar as coisas.  Se você quer se candidatar, não desista e procure mentoras e mulheres que já viveram alguma experiência na política para te orientar.

Afinal, não basta a mulher ser inteligente, competente, preparada e comunicativa, ela tem que ter apoio, dinheiro, articulação política, estar num partido que acredite nela. Em breve viraremos essa página e poderemos ser maioria ou pelos menos ter o mesmo número de vagas no legislativo e executivo desse país, para que a nossa democracia seja mais eficiente e conseguia responder aos anseios da maioria da população que é feminina.

*Laiz Soares é formada em Relações Internacionais pela PUC Minas e pela ESSCA na França. É consultora, tem 10 anos de carreira e atuou liderando equipes e projetos no setor privado, em ONGs e no Congresso Nacional.

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