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Guta Nascimento

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Guta Nascimento é Diretora de CLAUDIA

Por que amamos Jussara, a mãe barraqueira de Sintonia

Era pra gente detestar a antagonista à mocinha. Mas ao fazer de tudo para proteger a filha, na série de Kondzilla sobre a periferia, ela nos conquista.

Por Guta Nascimento Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 fev 2020, 20h48 - Publicado em 19 fev 2020, 18h11
Rosana Maris interpreta Jussara, a vilã que amamos odiar (Arquivo Pessoal/Divulgação)
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Foi uma comoção.

Quando a Netflix anunciou no Festival TUDUM que estava confirmada a segunda temporada de Sintonia, os fãs da série presentes ao evento, no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, no fim de janeiro, enlouqueceram. Em êxtase, eles puderam assistir ao trailler num telão, junto com os atores protagonistas, Bruna Mascarenhas, Christian Malheiros e Mc Jottapê,  aplaudindo, gritando, postando. Apesar da Netflix não revelar quando será a estreia – e, como diz a piada ao fim do trailler, “quem perguntar a data vai parar nas ideias” – a confirmação de 6 novos episódios foi o suficiente para as redes sociais surtarem, especulando quando será o lançamento.

Sintonia tem uma legião de fãs apaixonados. Eu entre eles! Lançada em 9 de agosto do ano passado, foi sucesso imediato. Numa ação inédita da Netflix, mais de 600 mil pessoas assistiram ao primeiro episódio disponibilizado durante 48 horas primeiro no YouTube do Kondzilla , o produtor musical criador da série e dono de um dos 5 maiores canais do YT no mundo. Quatro meses depois, em dezembro, a série foi anunciada pela plataforma como a terceira mais assistida no Brasil (em primeiro ficou a terceira temporada de La Casa de Papel e em segundo lugar, The Witcher).

Para quem não viu, Sintonia conta os sonhos e dilemas de três jovens numa interconexão de música, crime e religião, na periferia de São Paulo. Doni, Nando e Rita cresceram juntos na mesma comunidade, influenciados pelo contexto que envolve funk, tráfico de drogas e igreja. Um quer ser astro da música, o outro é traficante e Rita vende muamba no centro da cidade. Rapidamente conquistaram fãs. Além deles, uma outra personagem também ganhou adoradores. Jussara, a vizinha barraqueira. A série nem havia estreado ainda e uma cena já viralizava nas redes. Num trailler clipado, editado ao som da batida funk, a intérprete de Jussara, a atriz Rosana Maris, com olhar feroz e de punho fechado, voava pra cima de Bruna Mascarenhas, a intérprete de Rita, e desferia um murro na cara da protagonista. Foi o que bastou para a cena virar meme no Twitter, em grupos de WhatsApp e ganhar inúmeras figurinhas.

Confira alguns memes de Jussara:

Não fosse a intensidade de Rosana Maris, atriz paulistana de 39 anos, Jussara talvez seria apenas uma personagem coadjuvante – a mãe de Cacau, melhor amiga de Rita. Mas ao brilhar nos cinco últimos minutos do primeiro episódio, na tal cena do murro, ela se torna aquela antagonista à mocinha que a gente, por hábito da dramaturgia, deveria odiar mas por quem acabamos nos apaixonando.

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Na briga de socos e pontapés, uma frase de Jussara– a qual não vou contar aqui para não ser spoiler para quem ainda não  viu  – é interpretada com tamanho talento por Rosana que a partir dela, nos episódios seguintes, toda vez que Jussara aparece, a gente não sabe se fica com medo dela aprontar alguma com Rita ou se já começa a rir, aguardando a atuação da atriz, que mescla de maneira não óbvia o temperamento explosivo da personagem com humor.

O que a atriz conta sobre o sucesso da personagem

“A repercussão da Jussara foi incrível! O público se mostrou muito cúmplice dessa mãe protetora, ainda que ela use de extremos no cuidado da filha. Penso que, talvez, as pessoas percebam que embora a Jussara seja uma pessoa que tenha pavio curto, personalidade irritadiça, uma mulher que ainda resolve as coisas através da violência verbal ou física, tudo isso não passa de uma defesa de alguém que mora num lugar onde a vida é difícil, que claramente teve uma vida muito dura, que teve uma educação muito parecida com a que ela dá para filha. E isso de alguma forma  aproximou as pessoas da realidade e da humanidade dela.

A personagem vai se mostrando durante a série alguém que tem muito amor pela filha, que significa toda a família que ela tem. E a defesa disso pra ela torna-se algo de leoa mesmo, esse lado de defesa maternal que é irracional, no cuidar da cria. A Jussara é uma pessoa que não obtém tão facilmente, nem do Estado, nem do lugar que ela mora, tudo que ela precisa. Ela precisa se virar, criar uma força gigantesca pra continuar existindo como indivíduo,  como cidadã e mulher negra  periférica. Então eu acho que essa representação, focada na verdade dessa mulher que vive aquele dia a dia, trouxe um lugar de respeito do público. De “talvez eu não concorde com seus meios que você utiliza, mas entendo por que faz”.

Boas críticas

“Como atriz, eu fiquei absolutamente feliz com a resposta do público. Ter essa empatia das pessoas foi um feedback de que minha compreensão dessa personagem resultou em algo verdadeiro e que abre portas para que possamos falar sobre todos os assuntos que cercam a realidade em que ela vive. As pessoas notam que ela tem humanidade e que é uma pessoa cuidadosa, que vai proteger quem ela ama, custe o que custar.”

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Fãs

“Tenho recebido muitas mensagens carinhosas de adolescentes e de adultos. Algumas crianças também têm me reconhecido nas ruas, por incrível que pareça, porque a série é para pessoas acima de 16 anos… rs. Perguntam muito sobre minha filha Cacau… Tenho me divertido bastante com o fato das pessoas acharem que realmente a Danielle Olímpia, atriz que faz a Cacau, seja minha filha de verdade, porque somos muito parecidas…rs.”

Legado

“A experiência é realmente incrível. Eu sempre trabalhei com teatro onde a  repercussão é ali direta com o público e de um tamanho muito menor do que quando você faz uma série desse tamanho e com essa proporção que a Netflix dá, que uma produção audiovisual alcança. É uma coisa nova que eu tô me divertindo bastante. E agora também estou ansiosa para que a gente possa continuar esse trabalho e possa na próxima temporada fazer esses personagens continuarem a contar suas histórias, garantindo a integridade de suas falas e conseguindo sempre dar a humanidade que as periferias têm, além de fomentar essa discussão do que as comunidades precisam. Torço para que fiquemos mais atentos a todas as questões de representatividade, sobretudo dessa mulher brasileira de periferia, que possamos trazer também todas as questões que essa mulher traz consigo e que todos precisam entender melhor, uma vez que ela é de um número gigantesco nesse país e que precisa de toda a nossa atenção para que possamos evoluir como seres humanos e como nação que acredita e deve cuidar dessas mulheres”.

O que dizem outros fãs de Jussara, Rosana e Sintonia

Johnny Araújo, um dos diretores de Sintonia: A Rosana Maris, independentemente da personagem é uma excelente atriz, foi um prazer enorme trabalhar com ela. Ela tem uma entrega e uma verdade que é um presente pra qualquer diretor. Essa verdade ela imprimiu na criação da Jussara. Uma mãe que como a grande maioria das mães de uma comunidade, criam seus filhos sozinhas além de ter que cuidar de absolutamente tudo, trabalho, educação, etc.. Na minha opinião a Jussara representa a força dessas mulheres, independente do gênio forte, explosivo, ela cuida daquela filha com muito amor e isso cativa as pessoas. Mesmo com o jeito agressivo, a Jussara é verdadeira com os seus valores. E isso aproxima a personagem das pessoas. Existe uma identificação imediata com aquela mulher que luta pra criar a filha. Além disso, a Rosana trouxe uma ironia divertida para a personagem. Essa mistura foi muito positiva no resultado final.

Bruno Gagliasso, ator: “Em Sintonia, todos ali são heróis. Personagens reais, vivos… uma série com um roteiro impecável!!! Já tô louco para ver a segunda temporada e com destaque para JUSSARA!”

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Laís Bodanzky – cineasta, diretora de “Bicho de Sete Cabeças” e “Como Nossos Pais”: “A série transbordou o seu público-alvo, primeiro pela qualidade da dramaturgia. Além de ter uma trama de suspense que prende qualquer pessoa, ela tem bons personagens. Nos primeiros minutos da série você entende o drama de cada um, mesmo não tendo muitos detalhes, você quer estar com eles, torce e compreende os dramas e imperfeições. Aliás isso que é bacana, nenhum deles é perfeito. O que chama atenção da personagem da Rosana, é que não parece atuação. É de uma verdade. Parece que a câmera chegou ali e documentou uma cena acontecendo de verdade. Primeiro que é uma cena de ação. Ela bate na menina de um jeito. Não estamos acostumados a ver isso na nossa produção audiovisual, alta qualidade em uma cena de briga. Destaco essa cena porque ela é o ápice do episódio. Está na intenção, no figurino, na maquiagem, no cabelo e na atitude dela. É uma atriz que não está preocupada com o seu melhor ângulo, ela está preocupada com a verdade na intenção do personagem, ela foi 100% verdadeira e o telespectador reconhece e se identifica. É muito chocante, é uma cena que poderia ser bem novelesca e não é. É na medida. Temos a sensação de que poderíamos estar passando na rua e ter visto essa cena. Então por isso que ela anda na rua, as pessoas reconhecem e vem falar. “

Dandara Ferreira, cineasta: Mulher, mãe, periférica, de personalidade forte e pavio curto. Essa é Jussara, brilhantemente interpretada pela Rosana Maris. Jussara pode parecer de início uma mulher agressiva, que gosta de confusão. Mas com um olhar mais profundo, percebemos que se trata de uma mulher do cotidiano de quem vive em um ambiente em que é preciso batalhar para sobreviver, que a vida é dura, e sendo uma mãe super protetora, idealiza uma vida melhor para sua filha, mesmo, às vezes, reproduzindo uma educação dura. Rosana consegue humanizar esta personagem e trazer verdade na atuação. A empatia vem daí.

Então, enquanto a tão esperada segunda temporada de Sintonia não chega…

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