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Bailarina e jornalista, ou jornalista e bailarina. Tanto faz. A coluna fala sobre métodos, histórias, entrevista pessoas, mostra tendências, espetáculos, entre outros assuntos relacionados, mas colocando em tudo isso o mais importante: seu grande amor pela dança
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A “Maria” do momento: Giulia Nadruz em ‘West Side Story’

A atriz Giulia Nadruz vive a protagonista de um dos maiores musicais da história, “West Side Story” (Amor Sublime Amor), em cartaz no Theatro São Pedro

Por Flávia Viana e Ana Claudia Paixão
4 ago 2022, 08h26

O papel de Maria em West Side Story está longe de ser fácil. Mais do que o aspecto dramático, o desafio técnico coloca o papel como um dos mais difíceis – e sonhados – para uma artista, especialmente de musicais. Para Giulia Nadruz esse foi especialmente o caso. A temporada nacional do clássico musical encarou muitos obstáculos, desde a pandemia que interrompeu os ensaios no auge, às coisas normais de temporada, e a atriz emocionou – e se emocionou – no palco.

A estreia em um papel icônico, mesmo depois de ter encarado clássicos como O Fantasma da Ópera ou mais populares como Shrek, foi marcante, mesmo que versatilidade sempre tenha sido uma das principais qualidades de Giulia. É que “sua Maria” trouxe um frescor à história, uma personalidade que mesmo diante de tantas comparações (desde Natalie Wood até Rachel Zegler, das versões cinematográficas) a colocam em destaque. A inocência da porto-riquenha recém-chegada à Nova York, que se apaixona por Tony à primeira vista, desafia a autoridade de seu irmão, os preconceitos culturais e luta por sua felicidade tem uma evolução natural e emocionante na pele e voz de Giulia, nos envolvemos com ela (mesmo sabendo a história). Com uma voz linda e um alcance incrível, é a emoção que fica com a gente quando acaba o espetáculo e já coloca Giulia entre uma das melhores “Marias” do momento. Quando a conhecemos vemos que Maria tem muito de Giulia, sua doçura, sua força e sua simpatia. O papo que a atriz teve conosco traduz muito dessa positividade e inspiração que ela nos passa nos palcos e fora dele.

West Side Story
A versão de Maria de Giulia Nadruz emociona e encanta. (Heloisa Bortz/Divulgação)

Em que momento sua vida pessoal ou profissional se encontra com a obra “West Side Story”? Quando e como foi o primeiro contato?

West Side Story é um dos maiores clássicos do teatro musical e eu, como estudante de teatro, logo assisti ao filme original de 1961 e estudei algumas músicas da personagem Maria logo nas primeiras aulas de canto, afinal as músicas dela sempre se encaixaram muito bem na minha voz por ser um repertório para sopranos. Sempre fui apaixonada pela obra!

Embora já tenha vivido tantas personagens importantes, Maria pode ser considerada um sonho antigo? O auge de uma atriz? 

Eu tenho a alegria de ter interpretado personagens icônicas na minha carreira como Christine Daaé de O Fantasma da Ópera, Molly Jensen de Ghost e Princesa Fiona de Shrek, mas de fato a Maria tem algo muito especial. A obra como um todo é uma obra-prima na minha opinião. Tudo se encaixa perfeitamente, as canções, as coreografias e o roteiro. A personagem tem um arco dramático muito bem construído, começa ingênua e sonhadora e amadurece através da dor da tragédia de sua vida. Além disso, as canções são lindíssimas e muito desafiadoras vocalmente, cheias de nuances e notas agudíssimas. O papel em si é muito desafiador e demanda uma certa maturidade do artista, fico feliz que essa oportunidade tenha chegado na minha vida neste momento. Hoje, depois de tudo que vivi e aprendi na minha trajetória profissional, me sinto pronta pra ela. Está sendo um grande marco na minha carreira.

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filme 'West Side Story', de 1961
A versão cinematográfica de ‘West Side Story’, de 1961. (Divulgação/Divulgação)

Quando as audições para esse musical foram anunciadas, o que sentiu? Se preparou diferente para os testes em função do desejo do papel?

Fiquei muito animada quando soube das audições porque, como disse anteriormente, sempre amei a peça e sabia que era um papel perfeito pra mim. Já conhecia muito bem a obra e as canções, mas mergulhei ainda mais fundo na pesquisa e estudei as canções novamente em aulas de canto. Me dediquei muito!

Qual foi a sensação de ser aprovada para Maria? Consegue se lembrar das emoções e sensações do dia?

Foi muito emocionante! Audições são sempre momentos tensos, nós temos poucos minutos para mostrar todo o nosso valor e convencer a banca de que podemos fazer o papel. Receber uma aprovação é sempre um momento de grande alívio e celebração, mas ser aprovada para esse papel foi especialmente incrível! Um grande sonho realizado, fiquei muito emocionada e comemorei muito!

Maria é uma das mais famosas personagens do teatro musical e também uma das mais difíceis. Teve algum momento específico em que sua ficha caiu diferente? Quando bateu a responsabilidade de fato?

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Maria é uma personagem que demanda bastante vocal e cenicamente. Quando estávamos estreando, depois de um mês intenso de ensaios, que realmente senti o desgaste físico. Tive que aprender a administrar a entrega em cena para conseguir manter a integridade física e fazer 6 shows por semana. Entender como conseguiria entregar a qualidade artística sem prejudicar o corpo. Graças a Deus, está funcionando! Tem sido um processo de muito aprendizado e autoconhecimento.

west side story
Eu e Ana Claudia Paixão, também colunista de Claudia, com Giulia. (GPress Comunicação/Divulgação)

Consegue enxergar semelhanças e diferenças entre você e Maria? 

Eu me identifico bastante com a personagem. Me identifico com seu entusiasmo, sua inquietação, sua força interior, sua forma ativa e apaixonada de encarar a vida, sua impaciência e principalmente por enxergar o amor como a coisa mais importante da vida. Entretanto, acredito que eu não seja tão impulsiva e ingênua como ela, pelo menos não mais (risos).

Apesar da história antiga, ela fala de amor, que é um tema atemporal. Buscou construir uma Maria que se comunicasse melhor com as garotas de hoje em dia? Como descreveria a sua Maria?

Algo muito interessante das histórias de Shakespeare é que, apesar de se passarem há séculos atrás, elas abordam questões universais e essenciais da natureza humana e seus conflitos de relacionamento. Maria, assim como Julieta, é uma jovem superprotegida pela família, mas cheia de vida e personalidade, que anseia por crescer, descobrir seu caminho, conhecer o amor. Ela, dentro da sua ingenuidade otimista, faz de tudo para que o amor possa superar a violência, a raiva e as disputas de poder que rodeiam a sua realidade. Ela luta para decidir o próprio caminho de sua vida dentro de uma sociedade patriarcal e castradora e amadurece pela dor dos desígnios do destino. Acredito que, por todos esses motivos, essa personagem se mantém atual, ela poderia facilmente existir aqui e agora.

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Maria se vê encantada e entregue a um sentimento e um relacionamento de forma quase instantânea, e enfrenta a desaprovação. Já teve a experiência de algo parecido? Acredita em amor à primeira vista?

Acredito sim, especialmente se tratando de jovens que sentem tudo intensamente. Adolescentes tendem a enxergar as coisas dessa maneira “vida ou morte”, como se o mundo fosse acabar por conta de um coração partido. Quem nunca passou por isso? Eu já, algumas vezes (risos). Meus pais já desaprovaram alguns namorados, mas nunca foram tão radicais como a família da Maria. Lógico que a situação dos jovens protagonistas é específica e cercada de desafios e perigos, nada nessa história é banal, o que traz um peso muito maior para essa relação. O que acho mais bonito nessa história é a força do amor, que supera tudo e todos, e espero que histórias de amor como a de Tony e Maria (ou Romeu e Julieta) não precisem terminar de forma trágica no mundo de hoje.

Em relação às Marias já vividas nos palcos e telas, chegou a se inspirar em alguma delas? Há algo que tenha escolhido trazer para a sua?

Realmente Maria é uma personagem icônica, e, portanto, uma grande responsabilidade! Quanto mais famosa a personagem, mais o público tem referências e fontes de comparação. Maria já foi interpretada no teatro e no cinema por grandes atrizes/cantoras como Carol Lawrence, Natalie Wood, Josefina Scaglione, Rachel Zegler (recentemente, na versão de Steven Spielberg) e eu tento trazer uma nova versão da personagem, inspirada em todas essas artistas maravilhosas, mas, também, algo original a partir do meu próprio material artístico e vivências. Acredito ser impossível para o ator realizar um bom trabalho, preenchido de entrega e verdade, tentando reproduzir algo criado por outro artista. Todas as minhas pesquisas serviram de ponto de partida para criar, junto com a direção, algo que fizesse sentido com a nossa visão sobre a obra e que conseguisse comunicar com o nosso público aqui e agora. Minha Maria é uma jovem cheia de vida, força, personalidade, entusiasmada, inquieta, impaciente e apaixonada .

O Fantasma da Ópera
Giulia em outra produção teatral de sucesso, ‘O Fantasma da Ópera’. (Divulgação/Divulgação)

Durante seus estudos, certamente assistiu a muitos vídeos e ouviu muitas versões das clássicas canções. Existe alguma que te atraia/agrade mais?

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Sim, ouvi muitas versões desse repertório! Muitas incríveis, mas acredito que a que mais usei de referência foi a gravação da montagem de 2009 da Broadway.

West Side Story ganhou um remake recente nos cinemas, sob a direção de Steven Spielberg. Quais são as principais diferenças de contar essa história no palco?

Amo os dois filmes, esse segundo especialmente fez diversas adaptações nos números e no roteiro, que achei muito interessantes. Debatemos muito sobre essas mudanças do filme durante os ensaios, afinal o remake foi lançado poucos meses antes do início da nossa montagem, mas a maneira como a peça é construída funciona perfeitamente para o teatro. Nos inspiramos, mas mantivemos a essência da peça original. Essa obra é muito impactante, e acredito que a emoção de ver tudo ao vivo é sempre incomparável, o público se sente realmente dentro da história.

West Side Story é inspirado em Romeu e Julieta, um clássico. Acha que isso contribui para que o espetáculo seja sucesso há 65 anos, atravessando gerações?

Eu já conhecia a obra Romeu e Julieta (quem não conhece? Risos) e outras de Shakespeare, mas quis mergulhar a fundo no universo deste grande dramaturgo para compreender melhor a história e suas personagens. Romeu e Julieta, assim como West Side Story, traz como seus principais temas a violência, a intolerância, a exclusão social, a marginalização, os problemas de uma sociedade patriarcal e as disputas de poder. Esses temas, infelizmente, não envelhecem e nós, ainda hoje, somos tocados ao assistir essa obra pois vivemos na pele todas essas questões em nossas vidas cotidianas. E a grande mensagem da peça ainda se faz necessária, mais do que nunca: o amor e a empatia são o caminho para um mundo melhor.

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Sobre West Side Story

Um dos maiores musicais da história, estreou no Theatro São Pedro em São Paulo no dia 08 de julho de 2022 com a participação da Orthesp (Orquestra do Theatro São Pedro). West Side Story (Amor, Sublime Amor), foi adaptado por Ernest Lehman de um bem-sucedido musical da Broadway, lançado em 1957, com libreto de Arthur Laurents e encenado por Jerome Robbins, que foi também o autor da ideia. Tanto o musical teatral quanto o filme são uma adaptação livre, ambientada na década de 1950, de Romeu e Julieta de William Shakespeare. Lançado nos cinemas em 18 de outubro de 1961, o filme foi sucesso de crítica e público.

É o musical mais premiado da história do cinema tendo ganhado 10 Oscars, 3 Globos de Ouro e 2 Grammys em 1962, além do Directors Guild of America, o National Board of Review e o New York Film Critics Circle Awards em 1961.

Amor à primeira vista acontece quando o jovem Tony vê Maria em um baile do ensino médio em 1957, na cidade de Nova York. O romance dos dois ajuda a alimentar o fogo entre duas gangues rivais que disputam o controle das ruas de NY: os Jets e os Sharks. Em 2021, o premiado e aclamado diretor de Hollywood, Steven Spielberg lançou um remake do musical que também foi um grande sucesso.

O musical é a primeira produção do gênero a abrir as cortinas do tradicional Theatro São Pedro em São Paulo, conhecido especialmente por sua programação operística. Com direção de Charles Möeller e Claudio Botelho e direção musical do maestro Cláudio Cruz, a curta temporada, com sessões de terça a domingo, terminam este mês na capital paulista.

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