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Diário De Uma Quarentener

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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.

Você conhece Beatriz Nascimento?

Além de intelectual, ela foi também professora, poeta e roteirista

Por Juliana Borges
Atualizado em 13 jul 2020, 16h27 - Publicado em 12 jul 2020, 22h58
 (Biblioteca Nacional/Reprodução)
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Hoje, Maria Beatriz Nascimento completaria 78 anos. Uma das mais potentes intelectuais brasileiras, teve sua trajetória interrompida por um feminicídio, porque tentava ajudar uma amiga a sair da violência doméstica.

Ao refletir sobre seu legado, não tem como não pensar em como fui atravessada pela força de natureza que é essa intelectual. Acerca de 5 anos, ela mudou totalmente o modo como vejo e reflito o mundo, como observo e produzo escrita e disputo narrativa. Beatriz Nascimento foi historiadora importante, principalmente pelas disputas que fez a partir de formulações sobre a contribuição do negro na construção da sociedade brasileira, questionando a hierarquia à qual essa contribuição era submetida. Mais do que apresentar essa contribuição, Beatriz Nascimento insurgia ao reposicionar historicamente essa contribuição, retirando o negro da condição de submisso  e passivo ao processo escravocrata. Ou seja, muito interessava a historiadora a reconstrução dessa história não apenas a partir da versão dos colonizadores, mas mais importante dos que foram sequestrados e aqui escravizados. Assim, Beatriz Nascimento pesquisou e formulou sobre os quilombos no país, suas relações com África, mas principalmente sobre como se reconfiguraram dada a situação do sistema de opressão no Brasil. Aqui que os quilombos se redimensionaram como espaço político não apenas de resistência, mas como alternativas ao sistema político-econômico e social vigente no país. E, por isso, foram tão violentamente massacrados.

Mas Beatriz Nascimento também apresentou uma importante provocação: quais seriam os resquícios dos quilombos na contemporaneidade? Esses resquícios existiam? Em diálogo com o pensamento de vários outros intelectuais negros, a historiadora, e também poeta e roteirista, aprofundou-se sobre as renovações das resistências negras no Brasil, no aquilombamento – que de modo bem superficial, eu colocaria como a reunião, o juntar-se de negros e negras para construir resistência e outras agendas e narrativas políticas não apenas sobre suas existências, mas sobre o mundo – como estratégia política de reflexão sobre nosso país. Como disse, a intelectual foi também professora, poeta e roteirista, sendo nessa última ocupação a forma como a conheci, a partir do documentário “Orí”, junto da diretora Raquel Gerber, que me foi indicado por uma amiga. Nunca mais fui a mesma. Em “Orí”, navegamos sob a “orí-entação” de Beatriz Nascimento por diversas esferas da formulação de saber que é pelo pensamento que se espraia em diversas linguagens. A resistência do quilombo passa pela disputa e resistência que se presentifica em territórios, mas que se embrenha de tal forma que se corporifica. A afirmativa de Beatriz Nascimento é poderosa: o corpo negro é também um quilombo.

As formulações dessa intelectual brilhante tem sido cada vez mais retomadas, estudadas e utilizadas como embasamentos teóricos fundamentais para entendermos a história do negro e a história brasileira. Para conhecer mais de suas formulações, eu indico “Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento”, um livro que é fruto de pesquisa e escrita do antropólogo Alex Ratts e publicado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – e disponível online.

Que o pensamento de Beatriz Nascimento ecoe!

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