O deboche jovem
Entre olhares e boas risadas, a convivência com uma adolescente é o tema escolhido pela escritora Juliana Borges no diário de hoje
São Paulo, 25 de agosto de 2020
Não sei você, mas nessa quarentena tenho me sentido uma senhora. Não que eu tenha profundos problemas com isso e já falamos sobre isso aqui: adoro meus gatos e não tenho problema em ser a tia dos gatos, apesar dos problemas cada vez maiores com a visão estarem me incomodando um pouco. Também não tenho problemas em estar desatualizada dos hits do momento – apesar de eu amar o Harry Styles.
Mas estou me sentido tia por causa do deboche. Sabe aquela expressão adolescente para qualquer coisa que falamos? É um olhar um pouco difícil de ser descrito, mas facílimo de ser percebido. Você fala que a jovem precisa arrumar o quarto, porque está uma zona e ela te mede, de cima para baixo, balança o corpo e olha para frente. Você pergunta o que foi. “Nada”, é a resposta. O contra-argumento em minha defesa é de que é o meu papel, como tutora, garantir que ela se torne uma adulta organizada. Ok. O olhar de deboche cessa.
Mas há variações nesse deboche. Tem aquele que parece cheio de amor, mas é debochado. Como quando você se confunde com alguma palavra, esquece algo ou tem dificuldade para enxergar algum papel. Daí é um olhar de deboche condescendente, meio carinhoso, acompanhado de “é tão fofinha, a bichinha”. E você se sente a Rose lançando seu colar ao mar, no final de Titanic.
A convivência ao lado de uma adolescente na quarentena deveria ser uma experiência para ser relatada em separado, tamanhas as nuances, os sufocos, as risadas (porque, ao contrário de muitos, eu acho adolescentes engraçados, no geral) e o deboche. Esse é imbatível.