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Crônicas de Mãe

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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária

“Saber brincar e rir é coisa para quem está viva/o”

Um acidente retirou todas nós de nossas rotinas e colocou em cena para as crianças a impermanência do viver

Por Ana Carolina Coelho
3 Maio 2022, 09h29
esperança
Na correria do mundo e na necessidade do trabalho, a vida passa e, de repente, o que era junto fica separado e o que era caminhada vira despencar. (Aleksandr Ledogorov/Unsplash)
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Alguns escritos são curtinhos no compasso de um coração apertado. É quando a vida mostra o quanto ela é frágil e passageira. Mães, em geral, fazem planos a longo prazo: “meu filho fará tal curso, pois é importante para o futuro dele”, “minha filha daqui alguns anos terá tal formação”, e por aí vamos projetando futuros imaginados em nossas crianças que, muitas vezes, estão apenas brincando e rindo. Nós, pessoas adultas, esquecemos desses verbos tão simples, de tão preocupadas que estamos com a vida, contas, compromissos e trabalhos. “Saber cozinhar é coisa para que tem fome”, foi uma frase que eu ouvi essa semana de um rapaz, felizmente, argumentando ser machismo pensar que é “coisa de mulher” ter que fazer a comida da família. De fato, a vida acaba nos cobrando um preço pela correria de termos que “nos virar” para sobreviver.

E de repente, em um segundo, sem termos feito nada de errado, a gente derrapa na estrada por causa da areia que outras pessoas deixaram lá e tudo muda. Nesses últimos dias a nossa família ficou em suspenso literalmente por causa disso: um acidente, que retirou todas nós de nossas rotinas e colocou em cena para as crianças a impermanência do viver. Entre idas e vindas do hospital, duas meninas me olhavam e perguntavam: “papai vai voltar? ele está bem?”, e a mais velha, que já viu a morte em outras situações chorava em silêncio.

“Ele está vivo”, eu repetia como uma oração e um mantra, todos esses dias. A cadeira de rodas na sala me olha dizendo que a luta será árdua e ele terá que reaprender a andar, e que teremos que caminhar lentamente nesse processo em novos passos. Mas “ele está vivo” e outra opção é tão insuportável que pensar nela me retira o ar ainda. A mais nova amanheceu domingo vomitando – misto de algo que comeu e nervoso – e a mais velha me abraçou tanto à noite que eu percebi o quanto estávamos em estado de tensão, como uma vida que se colocou em suspensão sem hora para voltar a existir.

Um acidente que ocorreu em um segundo. No meio dessa confusão, a enfermeira do plantão foi gentil comigo me explicando o processo de recuperação e o atendente da portaria ao me ver disse “é preciso saber sempre viver de maneira leve, tem muita coisa ruim que acontece no mundo” e me deixou entrar para ver meu esposo, ao perceber que eu iria esperar quantas horas fossem necessárias para poder vê-lo.

“Saber brincar e rir é coisa para quem está viva/o”, porque na correria do mundo e na necessidade do trabalho, a vida passa e, de repente, o que era junto fica separado e o que era caminhada vira despencar. E é sempre em boa companhia que viver é melhor. É possível sermos melhores, sempre! Dias Mulheres virão!

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Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para: ana.cronicasdemae@gmail.com ou mensagem pelo Instagram: (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores aqui e acompanhe as próximas!

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