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Crônicas de Mãe

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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Diversidade de amaternares já

Não essa idealizada e pouco colocada em prática, mas uma que trate das inúmeras possibilidades do maternar com cuidado e respeito

Por Ana Carolina Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
15 nov 2023, 06h35
Ser mãe hoje em dia, possui os mesmos signifcados que todas temos? A chave está na pluralidade e reconhecimento dos desníveis sociais que este papel materno impõe (Getty Images/Reprodução)
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“Como é ser mãe hoje em dia?” tem sido a pergunta que eu mais recebo. Enquanto mãe e com base em relatos feitos por outras mães e em pesquisas realizadas sobre maternidades, posso tentar traçar alguns pontos comuns a respeito do tema.

A questão que mais me intriga é a necessidade de uma definição única da maternidade. A própria é plural, múltipla e variada, e depende, dentre tantos fatores dos recortes de raça e classe para que possamos ter uma noção das condições históricas das mulheres e como elas poderiam ou eram impedidas de exercerem seus amaternares. A subjetividade é, portanto, atravessada por questões sociais, políticas, econômicas e culturais.

No Brasil escravista do século 19, o uso das amas-de-leite (mulheres negras recém-paridas escravizadas) por mulheres brancas significava a falta de leite materno para as crianças negras. Essas mulheres negras cuidavam de crianças brancas ao longo de toda a sua infância. Pouco ou nada lhes restavam de tempo e convivência para maternarem suas próprias crianças.

As heranças de cuidados domésticos e cotidianos ultrapassam o período escravagista e adentram o século 20. Os relatos de exploração da mão de obra das empregadas domésticas “quase da família”, são exemplos. Elas abdicam do tempo e da convivência com suas filhas e filhos para cuidar das crianças da patroa, zelando pela casa por meio do pouco dinheiro recebido por isso.

Quando eu ainda não era mãe e lecionava história em uma escola da periferia carioca, perto de onde fui criada, vivi uma experiência impactante. No corredor da escola, uma de minhas alunas pintou o cotidiano de seu bairro: uma padaria, pessoas assustadas, em primeiro plano o carro da polícia com a placa “caveirão” e balas voando.

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O que me impressionou foi o formato de olhos nas balas, ou seja, elas viam quem estavam atingindo e, ao mesmo tempo, eram as grandes testemunhas daquela situação bélica. Fiquei emocionada e discutimos coletivamente sobre os efeitos da violência.

Mas nada me fez esquecer aquele desenho feito por uma menina tão nova. Tenho certeza de que se ainda morasse no Rio de Janeiro o meu maternar teria as marcas deste lamentável cenário histórico da “cidade maravilhosa”.

Como é ser mãe nos dias de hoje? Depende de quem responde. Se estivermos falando das mães de crianças pequenas atualmente, como marca de uma geração, somos um grupo de mulheres cada vez mais conscientes de que maternar é uma tarefa social e política que envolve toda a comunidade. As pesquisas atuais sobre o assunto são relevantes para termos um cenário embasado cientificamente sobre as demandas desse aspecto da vida de tantas mulheres no mundo.

Por isso, ouvir é tão essencial, como apontado no livro organizado por mim, Vanessa Clemente e Camilla Cidade, Maternidades Plurais: os diferentes relatos, aventuras e oceanos de mães cientistas na pandemia, que reúne mais de 150 relatos.

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Ele é, entre outras possibilidades de análise, a comprovação de que criar uma definição exclusiva da maternidade significa excluir outras formas de maternar. As maternidades são diversificadas e é preciso respeitar as diferentes narrativas das mulheres sobre suas práticas maternas.

Compreender os atravessamentos de geração, classe, raça, etnia, geografia é fugir de uma explicação artificial e única. Esta é quase sempre descolada da realidade e, muitas vezes, utilizada como um ideal inalcançável, um perigo ideológico que gera insegurança e abalos emocionais nas mulheres mães.

A força no combate às desigualdades reside na pluralidade de vozes que lutam juntas por uma sociedade mais justa. É possível sermos melhores, sempre! Vamos conversar? 

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