As linhas de dona Anita
Aos 90 anos, Anita Guimarães escreveu seu primeiro livro "Seguindo a linha: Trabalhos manuais tecidos pela vida" para exaltar feituras manuais e memórias
Seguir a linha era inevitável para Anita Guimarães, essa linda mulher de olhos iluminados que ganhou fama muito além das Gerais, aos 90 anos, quando lançou seu primeiro livro Seguindo a linha: Trabalhos manuais tecidos pela vida (Gulliver Editora).
Filha de um agente de estação ferroviária, ela vivia mudando de cidade e, “seguindo” essa linha do trem, conectou-se com diversas pessoas e saberes que fizeram dela essa riqueza que é hoje.
Para além dos caminhos e dos trilhos, ela aprendeu a usar as mãos e fazer maravilhas em família, desde muito cedo, seguindo as linhas de bordar, crochetar, tricotar…. Aos 7 anos, já se interessava pelo crochê, que a mãe lhe ensinou, e com a tia Aída, conheceu as tramas do tricô.
Como não tinha os materiais para fazer a trama, imediatamente, deu um jeitinho: adaptou dois palitos e linha de carretel para fazer os primeiros trabalhos, pois sempre se virou.
A jovem Anita sempre caminhou nos conformes, respeitando as regras impostas a uma moçoila de família de sua época, “seguindo a linha”, mas dava seu jeito de contornar as adversidades.
Para evitar que a saia se prendesse ao aro da bicicleta, ela tramou uma rede de filé para andar com tranquilidade e ainda conseguia “esconder” a bike para encontrar o namorado, quando a vontade batia e a família impunha as costumeiras barreiras.
A carreira de professora foi um carinho natural para ela, com seu jeito delicado e amoroso. Moradora de Itabirito desde muito tempo, ela tem alunos saudosos espalhados por toda a região.
Mãe de 6 filhos, – sendo um deles gerado aos 50 anos! – , também se engajou em iniciativas sociais e filantrópicas como o Rotary Club, o Movimento Escoteiro, o Clube de Mães e Alfabetização de Adultos, só para citar alguns. E, claro, em todos eles, compartilhou os saberes dos trabalhos manuais.
Sobre o livro
A ideia inicial era bem mais simples: transmitir o que sabia para familiares e conhecidos, mas numa conversa com o filho caçula e uma de suas noras, resolveram transformar essa riqueza em livro, que pode ser adquirido neste site.
A produção virou uma verdadeira odisseia que durou cerca de 5 anos e envolveu muita gente. A obra, que é um afago na memória, tem o objetivo de ensinar realmente as feituras manuais e traz junto disso recortes da história de sua criadora, além de causos ilustrados, como o episódio da bicicleta que contei acima.
E não pense que dona Anita parou de aprender e ensinar. Atualmente, ela interage com os nove netos e com quem mais lhes trouxer novidades. Suas mais recentes aventuras são com o smartphone, onde navega pela internet, conversa pelo WhatsApp e vai papear comigo, no dia 9 de junho, dentro do projeto “CONVERSA DE VÓ”.
Para ver mais histórias com esta e acompanhar minha “curadoria de avós e avôs”, acesse nataliadornellas.com.br ou @nataliadornellas, no Instagram. Ah, e se conhecer personagens que mereçam ter suas vidas contadas aqui, me deixe saber.