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Ponto Final

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A convite de CLAUDIA, escritoras refletem sobre temas da contemporaneidade e das vivências femininas

Os filhos na equação da vida

Hoje percebo que minha carreira me faz ser uma mãe melhor, e ser mãe me faz uma executiva melhor

Por Andrea Dolabela, Diretora de Produtos, Marketing e Experiência da Dasa
Atualizado em 8 Maio 2022, 11h04 - Publicado em 8 Maio 2022, 09h55
Andrea Dolabela, Diretora de Produtos, Marketing e Experiência da Das.  (Arquivo pessoal/Divulgação)
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Como mãe e executiva, o que é inegociável para mim? Frequentemente faço essa pergunta, principalmente quando me vejo em encruzilhadas relacionadas à carreira e ao cuidado dos meus dois filhos. Tenho quase 20 anos de experiência como líder em marketing e, durante esse tempo, vi o mercado de trabalho evoluir de forma positiva para as mulheres. As empresas valorizam cada vez mais as soft skills inerentes ao gênero e perceberam que times com mais mulheres lucram mais.

Enquanto qualidades como resiliência, flexibilidade, paciência, empatia, planejamento e intuição são admiradas nas profissionais, e procuradas pelas empresas, ainda enfrentamos alguns obstáculos quando o nosso universo começa a concorrer com o cuidado materno.

No mercado de trabalho, é esperado as mulheres desempenharem um certo papel. Quando se trata de líderes em cargos C-level, essa cobrança pode ser ainda maior. Paira no ar a exigência de que temos que ser ainda mais exemplares, perfeitas e disponíveis, uma forma de provar que somos adequadas ao cargo de liderança que estamos ocupando. Além disso, a cultura empresarial do “always on” acaba afetando de maneira desproporcional as mães.

Na minha trajetória, para chegar a uma posição de liderança estratégica, tive que fazer muitas escolhas que colocaram a maternidade e o trabalho em posições opostas. Investir na carreira e, paralelamente, participar do desenvolvimento e educação dos meus filhos (Helena, de 11 anos, e Rafael, de 8 anos) foi uma tarefa árdua, que apresenta desafios até hoje. Trago aqui um exemplo que aconteceu há poucas semanas.

Eu tinha na agenda a apresentação de teatro da minha filha em São Paulo. Ela se preparou muito para encenar a peça e tinha uma expectativa grande de que eu fosse vê-la. Fui convidada, para o mesmo dia, a participar de um jantar importante de negócios no Rio de Janeiro. Qual foi a minha escolha? A peça da minha filha, sem arrependimentos. Nesse caso, fiz a mim mesma a pergunta que abre esse texto e a resposta foi que participar desse momento importante na vida da Helena era inegociável.

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Esse limite estabelecido me ajuda, inclusive, a seguir mais satisfeita e confiante na minha carreira, porque quando o pessoal e o profissional estão equilibrados, nos tornamos mais autoconfiantes. Ah, uma curiosidade: perguntei para alguns colegas homens o que fariam e todos me disseram que iriam ao jantar.

Sei que nem todas as profissionais têm o privilégio de poder escolher pelos filhos em dilemas parecidos, ou estão em um ambiente corporativo em que as relações familiares são respeitadas. Mas hoje percebo que minha carreira me faz ser uma mãe melhor, e ser mãe me faz uma executiva melhor. Ter uma profissão em que sou valorizada e que me satisfaz pessoalmente me deixa com mais energia e prazer em estar com meus filhos. E, ao mesmo tempo, a maternidade me ajudou a desenvolver a sensibilidade e a tolerância que incorporei ao meu estilo de liderar. Principalmente, faz com que eu abrace as responsabilidades do trabalho de forma mais natural.

Uma pesquisa realizada em 2022 pela consultoria Filhos no Currículo, em parceria com o Movimento Mulher 360, mostra que outros profissionais com filhos compartilham a mesma percepção. O levantamento perguntou às mães (e aos pais) sobre quais habilidades que exercem na criação dos filhos que te agregam como profissional. Quase todos (98%) afirmaram que desenvolveram alguma habilidade a partir da relação com o filho que agrega no currículo.

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Em seu livro A Hora de Voar, Melinda Gates fala de forma inspiradora sobre os obstáculos que mulheres do mundo todo enfrentam para conseguir a autonomia da própria vida. Em uma das passagens que me marcaram, ela diz que, depois de ter filhos, presumiu, automaticamente, que teria que parar de trabalhar. E ficou em casa durante muitos anos. Apesar de não ter se arrependido, ela nem cogitou em conciliar as duas demandas por uma questão cultural da época – isso ocorreu na década de 70. Hoje, Melinda luta por equidade entre homens e mulheres em políticas públicas e no mercado de trabalho.

Empresas que contratam mães e pais sem esse olhar para os desafios de conciliar a vida pessoal e profissional estão promovendo a igualdade de forma vazia. A verdadeira equidade é enxergar a diversidade e tratar as pessoas de forma diferentes, de acordo com que elas precisam. E os filhos precisam ter, sim, um peso importante na equação entre vida pessoal e trabalho. Empresas que entenderem e incentivarem essa fórmula, só têm a ganhar.

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