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Cynthia de Almeida

Por Mulher S.A. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Coluna da jornalista e estudiosa do comportamento feminino Cynthia de Almeida

Procrastinar pode ser um excelente exercício de criatividade

Uma tarefa por fazer, segundo o cientista social americano Adam Grant, mantém a mente ativa em torno do assunto.

Por Cynthia de Almeida Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
13 jun 2017, 15h45
 (AntonioGuillem/ThinkStock)
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Confesso que procrastinei. Já deveria ter escrito e enviado esta coluna há uma semana. Mas tenho um álibi. Graças ao cientista social americano Adam Grant, um inovador estudioso da área de recursos humanos, aprendi que a procrastinação, mais do que uma palavra feia que significa adiar, postergar, deixar para depois – e é quase sinônimo de preguiça –, é também uma virtude que pode nos levar a um resultado mais criativo e original.

Em seu novo livro, Originais – Como os Inconformistas Mudam o Mundo (Sextante, 39,90 reais), Grant, consultor de diversas empresas do Vale do Silício, nos Estados Unidos, ensina como qualquer pessoa pode aprimorar a criatividade, confiar no instinto e fazer um mundo melhor. A originalidade, diz, começa com a geração de uma ideia, uma empresa, um conceito ou produto que seja ao mesmo tempo novo e útil. “Pessoas originais não são só as capazes de pensar algo assim, mas as que tomam a iniciativa de transformar sua visão em realidade.”

E o que tem isso a ver com “empurrar com a barriga”? Muito. Primeiro, trata-se de impedir que a ânsia de terminar logo bloqueie a inspiração que vem com o tempo certo para a reflexão. Grant, que é também professor de administração e psicologia da Wharton School, cita a tese de doutorado de Jihae Shin, sua aluna, que comprovou a hipótese de que, ao adiar uma tarefa, ganha-se tempo para pensar sobre ela de modo livre, em vez de fechar o foco em uma ideia particular. Nossas respostas iniciais são normalmente as mais convencionais. Tendemos primeiro a replicar conceitos existentes em vez de introduzir novos. Quando procrastinamos, deixamos a mente viajar livremente.

Muito antes da Revolução Industrial, já se reconheciam os benefícios da procrastinação. No Egito, havia dois verbos para procrastinação: um denotava preguiça; o outro significava esperar pelo momento certo. Em 1927, a psicóloga russa Bluma Zeigarnik identificou que as pessoas se recordavam mais facilmente de trabalhos incompletos do que de concluídos. Ao finalizar algo, deixamos de pensar a seu respeito. Uma tarefa por fazer, segundo Zeigarnik, mantém a mente ativa em torno do assunto.

Outra boa notícia para procrastinadores como eu: estamos em ótima companhia. Da Vinci passou cerca de 15 anos desenvolvendo a ideia para A Última Ceia; Abraham Lincoln terminava seus discursos quase no momento de fazê-los, com o argumento de que organizava seus pensamentos com vagar e método; Steve Jobs era um procrastinador contumaz. Quando alguém criticava Aaron Sorkin, o brilhante roteirista da série West Wing, por só entregar seus textos na última hora, ele respondia: “Você chama isso de procrastinar. Eu chamo de pensar”.

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Além de fornecer mais tempo para a geração de ideias inovadoras, a procrastinação, segundo Grant, nos mantém abertas à improvisação. Quando planejamos com antecedência, ficamos presos à estrutura criada e nos fechamos às possibilidades que poderiam surgir. A célebre frase “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King, foi um caco introduzido em seu inesquecível discurso – que ele passara a noite escrevendo e terminara poucos minutos antes de proferi-lo.

Mas cuidado: grandes procrastinadores, adverte Grant, não abrem mão de seus sonhos. “Eles procrastinam estrategicamente, testando e refinando diferentes possibilidades.” É tudo uma questão de timing.

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