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Cultura vira ferramenta de luta na Marcha das Mulheres Indígenas

A 3ª edição da Marcha das Mulheres Indígenas contou com a presença de diversas lideranças femininas

Por Caroline Apple
Atualizado em 20 set 2023, 16h26 - Publicado em 20 set 2023, 15h31

Estar com os povos indígenas é sempre uma oportunidade de entrar em contato com uma forma diferente de sentir e interpretar a vida. Porém, ter a chance de conviver com 8.000 mulheres durante os três dias na Marcha das Mulheres Indígenas, que aconteceu entre os dias 11 e 13 de setembro, em Brasília, foi uma forma de se deixar afetar pela causa dos povos originários num lugar profundo.

Nós, como mulheres, temos pontos de convergência na luta pelo direito à vida, mas abismos nos separam quando falamos da violência contra as mulheres indígenas e das ferramentas necessárias e disponíveis para combater esse cenário de violação de direitos.

Entre o arsenal político de fortalecimento das mulheres indígenas está a arte em geral, que vai muito além de uma visão ocidental muitas vezes simplória das culturas indígenas, onde, na verdade, o artesanato é carregado de significados, a pintura corporal com jenipapo vem como proteção, os cantos sagrados conscientizam, as danças invocam a força da terra e o toque do maracá mexe com as energias espirituais.

O que parece uma festa adornada para quem olha de maneira superficial, é, na verdade, uma forma de usar o corpo como instrumento de promoção de políticas públicas na luta contra o machismo, a misoginia, o racismo e outras violações dos Direitos Humanos, além da defesa da biodiversidade, que engloba a luta por demarcação de terras.

Liderança indígena em terras Guarani, no Jaraguá, em São Paulo, Tamikuã Txihi estava toda pintada de onça e adornada com cocar e artesanato de sementes nativas em frente ao Congresso Nacional. Txihi relembra que as culturas indígenas estavam presentes antes da invasão portuguesa e que esses costumes e tradições foram “rebaixados” pelo colonialismo.

Tamikuã Txihi.
Tamikuã Txihi reitera que a cultura indígena esteve presente no Brasil antes da invasão portuguesa. (Carol Apple/CLAUDIA)

“Tratam como se fosse uma pintura rupestre. A arte é instrumento de luta e de defesa dos corpos, dos territórios e também na nossa existência como povo originário. Nós, como mulheres indígenas, estamos dizendo: nossa arte é vida. Nossa arte é a nossa existência. Somos como sementes fortes que a colonização não conseguiu matar. E assim seguimos com essa semente, usando a arte, falando, comunicando, sentindo e curando através das cores e das belezas que todos os seres e a mãe terra nos presenteia.”

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“A cultura está dentro do nosso corpo”

Chirley Pankará na Marcha das Mulheres Indígenas.
Na Marcha das Mulheres Indígenas, Chirley Pankará representou a Mata Atlântica. (Carol Apple/CLAUDIA)

Com o tema “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais”, a marcha levou para as ruas da capital federal uma linha de frente composta por representantes de cada bioma, entre elas estava Chirley Pankará, coordenadora geral de Promoção a Políticas Culturais do Ministério dos Povos Indígenas. Apesar de ter nascido na caatinga pernambucana, Chirley representou a Mata Atlântica, já que mora há 24 anos na Grande São Paulo.

Para a coordenadora, a cultura é pedagógica e abre possibilidades para a promoção da educação formal e informal, transformando tradições e costumes em ferramentas de política pública.

“Quando estou trazendo a minha vestimenta, quando estou colocando o meu corpo, quando eu estou cantando…tem política pública maior do que essa? Já teve momentos da minha vida que eu tive que justificar o injustificável, porque as pessoas não conseguiam entender que mesmo que fosse para falar de uma normativa, uma legislação, eu preciso antes entrar com a força do território e pisar no chão, que é a mãe terra e o cuidado com ela. Quando aquele monte de mulher entra cantando e batendo o pé com suas vestimentas e grafismos é pura política pública. A cultura está dentro do nosso corpo, não é algo deslocado”, afirma Pankará.

Como um grupo plural, nem sempre a visão política é compreendida da mesma maneira pelos povos indígenas, porém, a potência cultural sempre tem espaço de destaque quando a intenção é falar sobre os instrumentos de luta.

União e preservação

Emi Kayapó na Marcha das Mulheres Indígenas.
Emi Kayapó é filha da cacica e liderança indígena das mulheres Nhakanga Kayapó, na aldeia Gorotire, no Pará. (Carol Apple/CLAUDIA)

Emi Kayapó é filha da cacica e liderança indígena das mulheres Nhakanga Kayapó, na aldeia Gorotire, no Pará. Emi estava com um grupo de mulheres do seu povo que chamava a atenção por onde passava. Sempre juntas, as mulheres exibiam seus artesanatos nas cores amarelas ou com a estampa no estado do Pará. Os vestidos usados são propositalmente feitos para serem parecidos e o cabelo raspado no topo da cabeça era uma das marcas registradas da comitiva. Juntas, formavam uma espécie de batalhão uniforme e inconfundível que atraíam olhares sempre que chegavam.

Porém, a indígena Kayapó revela que o povo da sua aldeia não é adepto da política institucional, mas reconhece que as escolhas dos artesanatos, das roupas, dos grafismos e dos cantos são para mostrar a luta da mulher e um “grito por sobrevivência”.

“Usamos nossa cultura para nos proteger, para nos enriquecer e também mostrar para outros povos indígenas a importância de preservar [a cultura]. Não pode deixar morrer. Não falamos em política porque acreditamos que ela causa conflitos. A política separa e queremos união. Mas sabemos que precisamos desses conhecimentos de fora para proteger nossos costumes, nossas tradições. E fazemos isso através do grafismo corporal, do artesanato e do corte de cabelo, que nos diferencia de outros povos”, explica a indígena Kayapó.

A Marcha das Mulheres Indígenas está na terceira edição e contou com a presença de diversas autoridades majoritariamente mulheres, entre elas Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial do Brasil, e Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, e Célia Xacriabá, deputada federal eleita por Minas Gerais, além de lideranças indígenas de diversas partes do Brasil.

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