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Kika Gama Lobo

Por Kikando na Maturidade Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Focada na maturidade como plataforma pessoal, a jornalista Kika Gama Lobo escreve sobre as sensações e barreiras que as mulheres 50+ vivenciam

Impostora, eu?

A colunista Kika Gama Lobo traz um questionamento que nem sempre é fácil de admitir: o interno. “Sou de fato um bom exemplo?", pergunta a si mesma

Por Kika Gama Lobo
Atualizado em 22 jul 2020, 16h07 - Publicado em 22 jul 2020, 13h40
 (Yulia Sutyagina/Getty Images)
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Amigas têm me relatado que – durante esse isolamento – têm duvidado de si mesmas. “Será que sou toda essa Coca-Cola?”; “ Será que o que eu falo nas redes é relevante?”; “ O que eu tenho pensado para o futuro do meu mundinho faz sentido?”; “ Influencio pessoas da maneira correta? “; “Sou de fato um bom exemplo?”.

Eu nunca me inflei de certezas, sou um pássaro que frequenta ninhos desfeitos. Acho que por ser meio gauche, não dou muita importância para o eco da sociedade. Mas fiquei encafifada com a fala da amiga. Alta, bonita, magra, phyna – como aquele mulherão podia titubear diante do conjunto de sua obra? E aí mergulhei fundo em minhas neuras.  Resultado: sim, eu também tenho meus gargalos.

Não sou exatamente um porto seguro e, por vezes, sou um pote até aqui de lágrimas. Oitenta mil mortos, desempregada, mais gorda, brigando com marido dia sim e outro também, com raiva das minhas antigas escolhas que viraram novelos de problemas, eu senti sim um pouco do que a amiga sentiu. E mais. Fiquei pensando em quantas fragilidades me rodeiam e, mesmo com a vulnerabilidade em alta (graças à Brené Brown), não gosto dessa maneira pouco heroica de me ver refletida no espelho da vida. Sentimentos nefastos vêm a galope e comparações, perfeccionismo, inseguranças ajudam a eu ter a certeza que sou uma fraude. Dramática né? Mas fui pesquisar sobre o tema e vi que o buraco era muito, muito mais fundo.

Um estudo dos anos 70, feito com 150 mulheres poderosas da época, revelou que elas achavam que estavam ali no topo por erro de alguém ou por pura sorte. Isso explica muito da escravidão de costumes em que a mulher ainda está inserida. Achatada em todas as suas qualidades, por anos (séculos), a mulher que içou posições mais altas ou tinha dado pro chefe, ou era amiga do Rei ou as forças ocultas a tinham levado ao estrelato. Quando vemos sagas como as de Elizabeth, Catarina, Isabel, só pra ficar no meio Real – sempre teve um empurrão/casamento/morte do acaso que as ascenderam ao ápice. Trazendo pros dias de hoje, aqui em nosso Brasil castigado por problemas, debatendo a inclusão social, racial, religiosa, de gênero – no mercado de trabalho febril e frágil, o amargor irriga nossas papilas gustativas. E o que eu posso fazer? Voltar pra análise? Dar uma intensivada nas meditações on-line? Conversar com amigos próximos? Pingar Rivotril no leite?  Escrever cartas de gratidão e ver o copo cheio do que fiz até aqui?

Vacilo em recorrer a essas bengalas para dar outro sentido à narrativa da minha existência. Acho que uma solução é digitar esse artigo e perguntar para você que me lê: Sofres do mesmo mal?

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