Diálogo com o tempo
Precisamos agradecer pela oportunidade e, mais do que isso, precisamos sentir
Quanto tempo o tempo tem? Falo do meu tempo. Do nosso. Dizem que acaba quando menos esperamos. Dizem que está cada vez mais longo. Dizem. Mas cabe fazermos o nosso tempo. E ele é invariavelmente agora.
Pra que enrolar? Achar que dá pra esperar o amanhã. Quase sessentona, vai esperar o que? Cair de madura? Apodrecer? Eu decidi que vou viver adoidadamente o que me aparece. Andar de bike? Vou. Festinha de neto de amiga? Vou. Fim de semana na serra? Vou. Churrasco na laje da favela? Vou. Estou assim, intensa.
Acho que me dei conta do finito. Sim, já sabia. Mas agora sinto. Sinto que os 60 anos são de fato uma permissão para suar, cansar, amar, correr, viver. Antes parecia apenas sobreviver. Boletos, filhos, trabalhos…. Agora chegou a hora de sentir essa vivência. Elevar à potência máxima esse repertório e celebrar. Precisamos agradecer pela oportunidade e, mais do que isso, precisamos sentir. Estou nessa de arrepiar. Minha consciência passa pela pele, e nessa nova casca sensorial viverei meus últimos anos. Quem vem comigo?