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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

No Golden Globes 2024: nada de olhar pra trás

A cerimônia tem duas novas categorias, mas eliminou dois prêmios que eram pura nostalgia. Sinal dos tempos?

Por Ana Claudia Paixão
7 jan 2024, 19h04
Globo de Ouro 2023: as tendências do tapete vermelho.
Margot Robbie usando Chanel no último Globo de Ouro (Getty Images/Getty Images)
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Neste domingo (07), abrimos a temporada de premiações com o ‘novo’ Golden Globes (transmitido pela HBO Max e TNT). Em 81 anos, o Globo de Ouro sempre foi uma premiação meio diferenciada em Hollywood, justamente por ser organizada pela Associação de Imprensa Estrangeira. Talvez por isso também tenha sido meio saco de pancadas, alvo de piadas, muitas delas xenófobas e preconceituosas (afinal, quase todos os americanos brincam com o sotaque dos jornalistas ou dizem que eles não entendem inglês. Nunca achei graça nessa grosseria).

No entanto, não ajudou o evento que ao longo dos anos tenham-se acumulado escândalos de propinas e politicagem, tendo como gota d’água a investigação do Los Angeles Times, há três anos, que revelou que a organização não tinha jornalistas negros entre os membros. Em 2022 não foi televisionado, e foi suspenso em 2023, com artistas como Tom Cruise devolvendo os prêmios recebidos como protesto. O futuro parecia incerto.

Em junho de 2023, o Golden Globes foi comprado e transformando em um empreendimento com fins lucrativos. Agora são 300 jornalistas de 75 países que elegem os vencedores, com 60% de diversidade racial e étnica entre eles.

Já dando a cara nova, o anfitrião da noite é o comediante stand-up americano de origem filipina, Jo Koy, estreando em eventos desse porte. Outra novidade são duas novas categorias que incluem Melhor Performance de Comédia Stand-Up na TV e Conquistas Cinematográficas e de Bilheteria. Essa última é interessante pois pode reforçar ou por em dúvida os vencedores de Melhor Filme de Drama e Comédia, pois seria a resposta unificada do “melhor”.

Achei curiosa também porque nem sempre “conquista cinematográfica” é “conquista de bilheteria”, além de me deixar curiosa se quem ganha bilheteria é mesmo a maior do ano ou se os jornalistas vão votar no que consideram “cinema”. Quase uma crise existencial!

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Vale mencionar outra diferença que será percebida: ao contrário dos anos anteriores ou premiações similares, não teremos dois Prêmios ‘tradicionais’ da festa: nada de Cecil B. DeMille Award ou Carol Burnett Award em 2024. Pois é!

Os dois prêmios selecionam um artista pelo conjunto da obra, fazendo uma pausa para um momento nostálgico, onde as estrelas relaxam, se emocionam e relembram como é fazer parte e contribuir para as lendas de Hollywood.

Em outras palavras, o Golden Globes eliminou o momento que Hollywood mais adora: falar de si. A ausência desses dois prêmios em 2024 foi justificada como temporária pela mudança dos bastidores do evento, elas efetivamente foram substituídas pelas duas novas categorias que enaltecem o presente.

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Prêmio Cecil B. DeMille, que começou a ser distribuído em 1952, só tinha sido ignorado por três anos ao longo da história do Golden Globes, incluindo 2022. O foco era sempre a contribuição para o Cinema enquanto o Prêmio Carol Burnett focava em TV, tendo sido criado apenas em 2019.

A mudança pode ser temporária, mas como olhar para o passado nunca foi uma caraterística apreciada por jovens, menos ainda os millenials, me parece um teste. Em geral, e sei disso porque trabalhei em transmissões passadas, os momentos desses prêmios impactavam diretamente na audiência da noite.

Desfilar clipes em longos discursos de artistas que o público de plataformas digitais desconhece pode ser efetivamente um grande desafio. Será que fará alguma falta?

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Eu tenho natureza nostálgica, amo um clássico, mas entendo que eles estejam se perdendo. Não há, em nenhuma plataforma, a oferta robusta de filmes e séries clássicas mais antigas, é um acervo visto como sem valor e que está encostado. Talvez, se empacotado e distribuído de forma interessante, poderia ser “descoberto”. O que não tem sido o caso.

Fora isso, a lista de indicados atuais só não é ainda óbvia porque o Golden Globes é o primeiro da temporada de premiações, então guarda o frescor dos discursos e destaques nos tapetes vermelhos. Tenho certeza que até chegar o Oscar, em março, estaremos cansados de ver os mesmos rostos e ouvirmos os mesmos agradecimentos.

Nessa primeira noite não falta inclusão na festa: duas diretoras mulheres indicadas, etnias incluídas e com chances de ganhar, 27 artistas indicados pela primeira vez, uma resposta clara a qualquer dúvida de como os prêmios devem ser.

E é isso, sem olhar para trás, o novo Golden Globes sinaliza como está se posicionando. Para o futuro.

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