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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Descobrindo as mulheres de Xógum

Em um período opressor para as mulheres japonesas, quatro personagens da saga comprovam sua astúcia e importância na narrativa

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 1 mar 2024, 18h30 - Publicado em 1 mar 2024, 08h55

Na semana de estreia de Xógum, nova série da Star+, seria impossível não resgatar as histórias das mulheres nessa saga que há quase 50 anos encanta o mundo. O livro, de 1975, chegou à TV em uma premiadíssima série em 1980, mas igualmente problemática.

Dividida em seis episódios e estrelada por Richard Chamberlain, foi uma febre mundial, trazendo o exotismo do oriente, aventura e uma base histórica para um drama fascinante de conflitos religiosos, políticos e culturais.

Não seria errado resumir a série como a mescla de Game of Thrones e Vikings japonesa, sem elementos mágicos. Portanto, a refilmagem 44 anos depois é nada menos do que uma grande oportunidade de resgatar um fenômeno.

O livro de James Clavell, que já tinha renome em Hollywood graças seus roteiros em filmes como O Homem-Mosca (The Fly), Fugindo do Inferno (The Great Escape) Ao Mestre Com Carinho (To Sir, With Love), surgiu da mais improvável e corriqueira situação.

Ele estava estudando com sua filha, Michaela (produtora da série de 2024), quando viu uma frase no seu livro: “em 1600, um inglês foi ao Japão e se tornou um samurai”. Imediatamente, se debruçou para desenvolver essa história – verdadeira – e fascinante. Assim nascia Xógun, sua obra mais famosa.

Obviamente, era uma história voltada para o público masculino, até porque a cultura japonesa, ainda mais em 1600, não era, como podemos dizer, fácil para as mulheres. O que não significa que elas eram fracas!

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Em Xógun, veremos algumas delas interferindo no destino de grandes senhores e samurais. Aliás, elas mesmas são lutadoras! E sim, você vai se cansar das referências de Xógun como o “Game of Thrones japonês, mas são inevitáveis.

Mais ainda porque, de alguma forma, elas “ajudam” a decifrar mais rápido quem é quem dentro de uma cultura tão complexa como a japonesa em tempos feudais.

Em um universo sufocante masculino, quatro mulheres terão destaque e estou aqui para – evitar o máximo possível spoilers – e ajudar a decifrar as mulheres de Xógun.

TODA MARIKO: Sansa e Arya Stark em uma só pessoa

série xógum Toda Mariko
Anna Sawai no papel de Toda Mariko (Star+/Divulgação)

Do trio de papéis principais da série (incluindo aqui os dois homens), é a atriz Anna Sawai que tem o maior desafio de todo elenco. Isso porque, em 1980, o incrível papel de Toda Mariko rendeu à atriz Yoko Shimada o Globo de Ouro de Melhor Atriz, o primeiro de uma atriz asiática nos Estados Unidos, além de ter sido indicada ao Emmy.

Se no ano passado tivemos Michele Yeoh quebrando a principal barreira no Oscar – a Categoria de Melhor Atriz – ainda há um longo caminho para outras estrelas para se firmarem em Hollywood. Só para perceber, o hiato de mais 40 anos entre a vitória de Yoko até Michele é significativo.

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Além disso, no Xógun original, Yoko Shimada ganhou destaque também por ser a única atriz que falava alguma coisa de inglês. Sua vitória no Globo de Ouro trouxe grande prestígio no exterior, mas ne tanto no Japão, onde a repercussão da crítica foi negativa graças à visão estereotipada da história.

Só para imaginar, embora seja inspirada em um período histórico real do Japão, John Blackthorne (Richard Camberlain em 1980, Cosmo Jarvis em 2024) conduzia a trama.

De olho no momento e corrigindo o passado, a nova versão de Xógun dá protagonismo aos japoneses e a própria Mariko será ainda mais ativa do que na versão anterior. Ou seja, uma grande oportunidade para Anna, que é neozelandesa de nascimento e criada no Japão.

Para os mais atentos, vale lembrar que ela esteve no elenco de Velozes e Furiosos 9, em 2021, além de participar em Monarch e Pachinko, séries da Apple TV Plus. Como Mariko 2.4, certamente ganhará mais espaço no mercado americano.

A misteriosa Mariko é, de fato, fascinante e astuta, como os episódios iniciais já deixaram claro, e é a principal personagem feminina da saga. Quando a encontramos, ela já faz parte da facção que apoia Toranaga Toshi (Hiroyuki Sanada), o principal candidato à posição de xógun. Mesmo cercado de grandes guerreiros, ela é uma das pessoas de maior confiança dele, e logo entendemos a razão.

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A chave da sagacidade de Mariko é o fato de que há 14 anos ela é considerada “filha de um traidor” (entendeu a referência às irmãs Starks?) e, na cultura da época, não apenas ele, como toda sua família, deveria cometer seppuku (harakiri). Ficar vivo é a pior punição, pois tem que conviver com a vergonha de seu sangue. Complexo, mas a regra se aplicava a todos sem distinção de gêneros. E Mariko, como sabemos, não morreu com seus parentes.

Mariko já estava casada com Toda Buntaro (Shin’nosuke Abe), o filho do principal general de Toranaga, Toda Hiromatsu (Tokuma Nishioka), um samurai de temperamento forte, machista e abusivo, mas fiel ao seu mestre. Mulheres modernas não compram o que está no livro, que diz que Buntaro é apaixonado pela esposa, mas violentava e batia em Mariko porque podia. Sem surpresa, ela o odeia.

Voltando à Mariko: quando sua família foi punida, ela foi exilada por oito anos no norte do Japão, onde estudou latim, português e se converteu ao catolicismo. Como samurai, ela é uma exímia lutadora, e junta as habilidades de combate e estratégia. Em outras palavras: nossa Lagherta (de Vikings).

Ao longo da história, sua fidelidade à Toranaga será testada, assim como suas convicções quando ela e Blackthorne se apaixonarem. Sua participação é vital para o xogunato, e, infelizmente, sei que prometi evitar spoilers, mas preparem-se: sua trajetória é emocionante.

E um detalhe a mais: Mariko é inspirada em uma mulher real, Hosokawa Gracia, uma japonesa convertida ao cristianismo, depois que seu pai assassinou um inimigo. A “verdadeira” Mariko jamais conheceu o “verdadeiro”John Blackthorne, o navegador William Adams, ela faleceu no mesmo ano em que ele desembarcou no Japão. Mas pra isso que existe ficção, não é?

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OCHIBA NO KATA: uma Cersei Lannister?

Fumi Nikaido no papel de Ochiba no Kata
Fumi Nikaido no papel de Ochiba no Kata (Star+/Divulgação)

A personagem Ochiba No Kata (Fumi Nikaido) tem mais camadas de cinza e está em uma posição aparentemente tão oprimida como a de todas as mulheres no Japão feudal. Ela é a mãe do herdeiro, Yaemon, e ex-consorte do Taiko, fundador do Conselho de Regentes.

O livro diz que ela sempre foi apaixonada por Toranaga e, por isso, quando há a oportunidade, ela é dada em casamento a ele. Ochiba fará tudo que estiver ao seu alcance para ver seu marido vitorioso, mas sua lealdade reside apenas nela mesma e em seu filho. Cersei Lannister vem à mente? Que surpresa…

Mas sabe qual é o principal “problema” de Ochibo? É que o maior rival de Toranaga, Ishido Kazunari (Takehiro Hira), é apaixonado por ela. Isso contribuiu para sua inveja e ódio do companheiro de Conselho e aqui está possivelmente sua principal motivação para tentar destruir Toragana. Em um momento, Ochibo terá de fazer uma escolha e certamente ela determinará o destino de Xógun.

Assim como Mariko, Ochiba é inspirada em uma figura que existiu no período: Yodo-dono. Uma mulher com interesse político e que foi crucial na à última resistência ao xogunato de seu marido.

USAMI FUJI: Uma Aliada Importante

Usami Fuji série xógum 2024
Moeka Hoshi no papel de Usami Fuji (Star+/Divulgação)

A atriz Moeka Hoshi é também dançarina japonesa e conhecida no cinema e TV japoneses. Em Xógun, ela é Usami Fuji, viúva de Uragi, que no primeiro episódio insulta Kazunari e por isso comete seppuku, também matando seu filho. Fuji, como Mariko, não tem autonomia para escolher com quem se casar e será “dada” por Toronaga à Blackthorne, como sua consorte.

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Ela e Mariko, portanto, foram um triângulo amoroso com o protagonista estrangeiro, e há algo extremamente trágico em tudo isso. É complexo para nós, ocidentais modernos, e Xógun explora muito isso, entender a honra no harakiri.

Para Fuji, sua vida deveria ser encerrada com o marido e filho, por isso ela pede, e é aceito,  para seguir o procedimento em seis meses.

Para surpresa mútua dos envolvidos, Fuji e Blackthorne vivem bem juntos e ela se prova corajosa em batalhas. No entanto, quando a amizade começa a ser possivelmente amor, ela tem que escolher entre a honra do que pediu ou manchar sua memória ficando viva.

Pelo menos é assim no livro, mas devemos nos preparar para ver como a série vai mostrar .Em geral, Fuji representa o papel da “esposa obediente e leal”, virtudes valorizadas na sociedade japonesa feudal, mas é com resiliência e astúcia que não apenas sobrevive, mas até prospera em um ambiente cruel.

KIKU: a gueixa que desperta paixões

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Yuka Kouri no papel de Kiku (Star+/Divulgação)

Kiku (Yuka Kouri) é outra personagem feminina importante em Xógun. Uma cortesã bonita e talentosa (uma artista de alta classe especializada nas artes tradicionais japonesas), que é explorada comercialmente e emocionalmente por homens e mulheres, representando o papel oprimido das mulheres naquele período, especialmente se não fossem nobres.

Quando um dos filhos de Toranaga se apaixona perdidamente por ela, ele a “compra” para acabar com a “distração” de seu filho. No entanto, ele mesmo desiste dela e a presenteia à Blackthorne.

É nessa hora, em conjunto com o que testemunha com as outras personagens, que o navegador britânico vai sendo apresentado à arte e estrutura social da época. Ele também se encantará por Kiku, mas o amor dos dois terá barreiras culturais intransponíveis, uma vez que ela é cortesã e ele estrangeiro.

Para Yuka Kouri, que está no elenco de Tokyo Vice (Max) e Invasion (Apple TV+), é mais um papel de destaque no ocidente.

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