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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

Biografias: o reflexo da realidade mais interessante do que a ficção

As biografias, em filmes ou em séries, nunca estiveram tão em alta

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 8 abr 2022, 16h11 - Publicado em 8 abr 2022, 16h10
biografias no cinema
As biografias estão em alta nos filmes e séries.  (The Rocketman/Divulgação)
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Trabalho com conteúdo há muitos anos, seja em formato pronto ou em desenvolvimento, portanto acompanho de perto as ondas e tendências que regem o mercado e que influenciam o que vemos e o que buscamos nas nossas horas de diversão. Ninguém dúvida que estejamos vivendo, já há alguns anos, o momento das biografias e de documentários que revelam outras narrativas para pessoas das quais, muitas vezes, pensávamos que sabíamos tudo. É quando vemos que a máxima popular de que a “realidade é mais interessante do que a ficção” tem fundamento.

Como jornalista, sempre amei ler biografias e conhecer as histórias das pessoas, sempre foi, para mim, mais emocionante do que a incrível imaginação de autores, embora em nada rejeite a ficção. Ao contrário, para quem me acompanha aqui sabe que paradoxalmente amo fantasia e biografia em igual medida. Porém, há algo diferente na onda de biopics que vale um alerta. Desde que a verdade passou a ter posse, ou seja, as pessoas passaram a compartilhar “suas verdades” e a vida virou um roteiro em que todos querem (e devem ter) o controle da narrativa, todo conteúdo biográfico passou a demandar de nós uma dose maior de cinismo. Afinal, entender que alguém queira mudar narrativas também demanda entender a razão pela qual quer alterar o que poderia ser chamado antes de “verdade”.  

Raros biografados são abertos e honestos como foi Elton John em The Rocket Man, por exemplo. Ele não se poupou, não apontou muitos dedos de culpa para terceiros quando estava em momentos mais complicados e abriu seu coração com os fãs de uma maneira criativa e poética. Eu amo o filme e passei a gostar ainda mais do artista. Já Bohemian Rhapsody, por exemplo, que teve o aval da banda Queen, foi aberto, mas mudou datas e situações (como a de colocar o Rock In Rio em ano diferente do que aconteceu) para contextualizar como queriam que víssemos a trajetória de Freddie Mercury. Emocionante, lindo, mas muito menos ousado do que Rocket Man. E tudo pela “narrativa”.

Madonna, por exemplo, está trabalhando em sua biopic e ela não apenas escreveu o roteiro como parece que vai dirigir o filme. Que distanciamento ela poderá ter para contar a “sua verdade”? Eu vou ver e amar de qualquer forma, não se iludam. Sou fã, mas não é uma versão imparcial.

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Lily James e Sebastian Stan como Pamela Anderson e Tommy Lee. (Divulgação/Divulgação)
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Nas plataformas, a onda de biopics ou bioseries também ainda segue forte com excelentes conteúdos que revisitam personagens mais recentes, como WeCrashed, da AppleTV Plus, contando a história de Adam e Rebekah Neumann com Jared Leto e Anne Hathaway. Lily James e Sebastian Stan foram Pamela Anderson e Tommy Lee, Amanda Seyfried está brilhando como Elizabeth Holmes em Dropout, da StarPlus. Assim seguimos, e o que não vai faltar são exemplos.

Aliás, o Oscar 2022 foi quase temático de biografias! Jessica Chastain ganhou de Kristen Stewart e ambas eram estrelas de biopics. Will Smith tirou o Oscar de Melhor Ator de Andrew Garfield e igualmente os dois estavam recontando histórias reais. Em um mundo onde o reality show bate a ficção, não há como competir com o drama verdadeiro, ou assim parece.

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Cena da minissérie The White Princess. (The White Princess/Divulgação)
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O que é mais delicado do que biopic autorizada ou documentário ou bioseries é a tendência também vigente de “revisitações históricas”. Vikings, febre mundial, reconta a história verdadeira de maneira romanceada (assim como The Last Kingdom). The Great, uma das minhas séries favoritas, traz Elle Fanning como uma jovem Catarina da Rússia com uma narrativa tão nonsense que o que surpreende muitas vezes é que o bizarro seja real e o “ordinário” seja ficção. Além dela, há uma trilogia reexaminando o protagonismo das rainhas inglesas do Starz Plus, que reconta a história de Catarina de Aragão (The Spanish Princess), Elizabeth de York (The White Princess) e a de Elizabeth Woodville (The White Queen).  Um onda que abriu caminho para as próximas que vão revisar as histórias de Catarina de Medici e a da juventude de Elizabeth I.

Sim, mas, se você não se preparar e estudar um pouco pode estranhar liberdades como a de colocar o famoso corcunda Rei Ricardo III retratado como um belo e jovem galanteador, sem nenhum defeito físico, como aconteceu em The White Queen. Faz parte do gênero conhecido como “ficção histórica” e que mencionei em outra coluna e será usado para a série Blonde, com Ana de Armas como Marilyn Monroe, mudando um pouco como foi a história da lenda de Hollywood. De novo, eu adoro, mas me preocupa que algumas pessoas assistam a filmes e séries como se fossem documentários, sem buscar fontes que tragam os fatos. Liberdade criativa não pode gerar fake news!

Por isso estou animada para a segunda temporada da série da HBO Max, Gentleman Jack, que vai estrear no dia 10 e que conta a história verdadeira de Anne Lister, uma mulher homossexual, moderna e que “ousou” desafiar a sociedade vitoriana para viver uma história de amor com Ann Walker. Com tanta gente interessante quebrando tabus e sacudindo a História, fica cada dia mais desafiador precisar de imaginação, não é? 

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