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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Billie Holiday e a canção da fruta mais amarga

Um novo filme sobre a cantora vai mostrar sua determinação para gravar Strange Fruit, um hino antirracista que marcou a carreira de Billie

Por Ana Claudia Paixão
27 fev 2021, 17h00

Sempre fui fã de Billie Holiday, porque meu pai, fã de jazz, tinha muitos álbuns seus. Cresci ouvindo música de qualidade. Com o tempo e maturidade, agradeço ainda mais ter tido acesso à genialidade logo cedo. Por isso, quando estudava jornalismo em Nova York e tive o privilégio de ter uma aula com o repórter David Margolick, vibrei.

David era um dos melhores repórteres do New York Times e autor do best seller, na época lançamento, Strange Fruit, the Biography of a Song (Strange Fruit, a biografia de uma Canção em tradução livre). Eu conhecia bem, porque era um dos principais sucessos de Billie Holiday e um hino importante do movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos. Mas ouvir do autor como foi fazer a biografia de uma canção, me impactou ainda mais.

Desde então, quem me conhece, sabe que sempre busco “biografar” as canções que me impactam. E a história de Strange Fruit é uma das mais tristes já vividas.

Mas Strange Fruit não é sobre David, é sobre Billie. Ela gravou a canção em 1939, quando tinha apenas 23 anos. A letra era um protesto pelo linchamento de negros americanos no sul do país, comparados na poesia de Abel Meeropol a frutos “estranhos” pendurados em árvores. Linchamentos eram comuns e aceitos nos estados sulistas naquela época e a escolha de não apenas gravá-la, mas cantá-la ao vivo foi vista como uma declaração de guerra. Billie não se importou.

A trágica vida de Billie Holiday já foi tema de outros filmes, um dele estrelado por Diana Ross, The Lady Sings the Blues. Porém, em 2021, ela pode ganhar força para o Oscar com o forte The United States vs. Billie Holiday, estrelado por Andra Day.

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O filme remonta a retaliação à cantora por ter feito de Strange Fruit um sucesso. Para o diretor Lee Daniels, a atualidade da canção, mesmo 82 anos depois, contribui para a importância de contar sua história.

Diana Ross
Diana Ross, em 1973, interpretando Billie Holiday no filme “Lady Sings The Blues”. Foto: (Central Press/Getty Images)

Strange Fruit, ainda que proibida nas rádios, era a canção que encerrava as apresentações de Billie Holiday. Antes de interpretá-la, as luzes eram apagadas restando apenas um único foco na cantora. Garçons paravam de servir e ela ficava em silêncio, orando por vários minutos até começar a cantar. Um impacto que entrou para a história.

Após a gravação, o Governo americano aproveitou o vício em heroína e bebidas de Billie para usar as drogas como argumento para prendê-la. Vício em drogas era crime naquele tempo. No fundo, o que queriam mesmo era impedi-la de seguir cantando Strange Fruit ao vivo.

Não foi surpresa que, em 1959, ela tenha morrido de cirrose hepática, insuficiência cardíaca e edema pulmonar. Magra, sem dinheiro e com policiais aguardando na porta do seu quarto para levá-la de volta à prisão, Billie Holiday tinha 44 anos e apenas 70 centavos no banco.

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Os críticos lamentaram o triste estado em que sua vida chegou ao fim, mas Billie nunca conseguiu escapar de homens abusivos. Sua coragem e determinação de transformar a canção em um clássico contribuiu para seu sofrimento em vida, mas Strange Fruit é, merecidamente, uma das maiores canções americanas já escritas.

Relembre a letra da canção:

As árvores do Sul estão carregadas com um estranho fruto,
Sangue nas folhas e sangue na raiz,
Um corpo negro balançando na brisa sulista
Um estranho fruto pendurado nos álamos.

Uma cena pastoral no galante Sul,
Os olhos esbugalhados e a boca torcida,
Perfume de magnólia doce e fresca,
Então o repentino cheiro de carne queimada!

Aqui está o fruto para os corvos arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Para o sol apodrecer, para as árvores fazer cair,
Aqui está uma estranha e amarga colheita.

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