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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

A musa e história (verdadeira) que inspiraram a série ‘Irma Vep’

Série estrelada por Alicia Vikander recupera a história de uma das maiores estrelas do cinema mudo francês, Musidora

Por Ana Claudia Paixão
24 jun 2022, 11h07
série irma vep
Alicia Vikander na série 'Irma Vep', papel de Musidora em 1915 (HBO MAX/Divulgação)
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A série Irma Vep está rapidamente ganhando um público que ama conteúdo cult. Estrelada por Alicia Vikander, a série da HBO Max é uma revisitação do filme de mesmo nome de 1996, por sua vez, uma homenagem ao clássico francês do cinema mudo, o filme Les Vampires, de 1915. E é ainda mais interessante por poder despertar o interesse por um dos maiores ícones do cinema mudo, a francesa Musidora.

Fã da obra de Louis Feuillade, o diretor Olivier Assayas é o responsável por revisitar seu próprio filme, de 1996, estrelado por Maggie Cheung e recontá-lo como o original, em série de 8 episódios. Para quem já trabalhou com produção original, os conflitos novelescos dos bastidores são tão precisos que é diversão pura. Mas vamos aos poucos. A trama do Irma Vep de 2022 gira em torno da estrela americana Mira (Alicia Vikander), uma atriz famosa por trabalhar em filmes gigantescos, mas que busca recuperar credibilidade e esquecer um recente escândalo sobre sua vida pessoal. Por isso, aceitou trabalhar na produção de baixo orçamento na França, a adaptação Les Vampires.

O filme de 1915 foi um sucesso incrível durante a Primeira Guerra Mundial, e fez da atriz principal, Musidora, um ícone fashion. Na série da HBO, Mira – que podemos argumentar ser levemente inspirada em Kristen Stewart – lida com o caos de sua vida pessoal assim como das filmagens. Ela é fã de Musidora, o que a conecta com o conteúdo que está trabalhando.

E quem foi Musidora? Jeanne Roques nasceu em Paris, em 1889, e adotou o pseudônimo de “Musidora” para trabalhar no teatro. Atriz, diretora, escritora, produtora e jornalista francesa, ela contribuiu para imortalizar o arquétipo de mulher fatal que ficou clássico nos primeiros anos do cinema. Leitora ávida, era filha de um compositor e de uma crítica literária feminista.

Estreou nos palcos aos 16 anos, já com o nome artístico “emprestado” do romance Fortunio, de Théophile Gautier (ex-bailarinas identificam que é o libretista do balé Giselle). Musidora rapidamente virou uma musa para o movimento surrealista, e se apresentava em comédias e pantomimas. Estrelou em uma das obras de Colette, Claudine à Paris, e teve um romance com o marido da autora, Henri “Willy” Gauthier-Villars, antes de conhecer, ficar amiga e se tornar colaboradora da própria Colette.

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Sua estreia no cinema foi em 1913, em um filme produzido pelo coletivo de cinema socialista Cinéma du Peuple. O sucesso a levou assinar um contrato de dois anos com o Gaumont Studios e, entre 1914 e 1916, estrelou várias comédias e dramas. Foi trabalhando no estúdio que conheceu e ficou amiga de Louis Feuillade, autor de sucessos do cinema francês. O diretor a convidou para estrelar o que veio a ser sua obra prima, Les Vampires. Nele, a atriz deu vida a Irma Vep (anagrama de vampira em francês), uma cantora de cabaret que faz parte da sociedade secreta Les Vampires. “Os vampiros” era um grupo de delinquentes liderados pelo Grande Vampiro e tinha Irma Vep como sua parceira. Um jornalista e seu amigo se envolvem na tentativa de expor e parar os crimes do grupo. Assim como a série da HBO Max, o original era dividido em episódios e que totalizam quase 7 horas de duração, por isso é considerado um dos filmes mais longos já feitos. A curiosidade é que a trama foi inspirada em uma história real, a da gangue criminosa conhecida como Gangue Bonnot, um grupo anarquista que cometeu uma onda de crimes em Paris, entre 1911 e 1912.

Jeanne Roques, called Musidora
Jeanne Roques, a Musidora, em foto de 1921.  (adoc-photos / Colaborador/Getty Images)

Comparada a Theda Bara, Musidora causou sensação ao aparecer vestida da cabeça aos pés com um collant preto justo e usando uma máscara de carrasco, além de fazer suas próprias cenas de ação, uma vez que era acrobata também. Sua caracterização no papel fez dela a mais famosa vilã vamp do início do cinema francês. Os gestos, a maquiagem, a figura diferente e inesquecível colaboraram para transformar a obra em cult. Aliás, foi a popularidade da atriz que impediu que o filme fosse banido dos cinemas, afinal a Polícia condenou a série por sua aparente glorificação do crime.

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Por amor, Musidora viveu um tempo na Espanha, onde trabalhou como roteirista, diretora, produtora e intérprete de três filme. Quando voltou para França, em 1926, ainda estrelou em um último longa antes de abandonar o cinema para voltar para o teatro, em 1927, mesmo ano em que se casou com o médico Clément Marot. Escreveu livros, peças teatrais, canções, ensaios e poemas, mas abandonou os palcos em 1952. Após a Segunda Guerra Mundial, trabalhou como caixa na Cinémathèque Française e apenas poucos clientes a reconheciam. Musidora morreu em Paris, em 7 de dezembro de 1957. Tinha 68 anos.

Agora, 65 anos após sua morte, a homenagem da série com Alicia Vikander revive seus passos e o nome dessa estrela volta a ser popularizado, assim como sua obra. Como ela mesma explicou uma vez, “É vital ser fotogênica da cabeça aos pés. Depois disso, você tem permissão para exibir alguma medida de talento”, resumiu. Quem é lenda pode ter esse argumento, não é?

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