The Gilded Age volta mais afiada: por que você deveria ver a 3ª temporada
O luxo, a luta e o legado: The Gilded Age retorna mais afiada e necessária do que nunca

Nunca fiz segredo de quanto a-do-ro The Gilded Age, por isso meus domingos estão salvos por oito semanas com a volta da terceira temporada na Max. Em tempos de crises reais e simbólicas, não há escapismo mais fascinante do que mergulhar em uma era onde os tecidos eram suntuosos, as festas exageradas e as disputas sociais travavam-se à base de leques, cartas e alianças matrimoniais.
A série criada por Julian Fellowes, o mesmo arquiteto de Downton Abbey, nos relembra que, mesmo envoltas em rendas e pérolas, as batalhas femininas por espaço, liberdade e pertencimento sempre foram reais — e continuam sendo.
Sobre o que é ‘The Gilded Age’?
Para quem chegou agora: The Gilded Age se passa na Nova York do fim do século 19, um momento histórico conhecido justamente como “a era dourada” — não porque fosse moralmente brilhante, mas porque o ouro e a aparência de opulência escondiam abismos sociais, desigualdades raciais e guerras silenciosas entre o “dinheiro velho” e o “dinheiro novo”.
Se em Downton Abbey observávamos o declínio da aristocracia inglesa com olhos nostálgicos, aqui vemos a ascensão impiedosa de uma nova elite americana, emergente, industrial, voraz. A escada social existe, sim — mas cada degrau é disputado com sangue frio.
A série nasceu como uma ideia antiga de Fellowes. Antes mesmo de concluir Downton, ele já manifestava desejo de ambientar uma trama no “Novo Mundo”, onde as convenções sociais ainda estavam sendo escritas — ou melhor, rasgadas.
Seria uma prequel de Downton Abbey, contando como Cora, uma herdeira milionária americana, se casou com com Lord Robert Crawley, que estava falido e precisava da fortuna para salvar Downton. Os dois eventualmente se apaixonam de verdade, mas Fellowes queria explorar o período das “bucaneiras” ou as “princesas do dólar”. Desistiu, mas usou o vasto material de pesquisa para uma série original: sorte nossa!

A HBO comprou o projeto, que inicialmente seria para a NBC, e o transformou em uma produção de luxo: figurinos impecáveis, cenários grandiosos e um elenco que parece ter saído diretamente de um sonho (ou de uma temporada da Broadway).
Na primeira temporada, conhecemos Marian Brook (Louisa Jacobson), jovem órfã que se muda para Nova York para viver com as tias Agnes (Christine Baranski) e Ada (Cynthia Nixon), representantes da velha guarda social.
Ao lado da recém-chegada Bertha Russell (Carrie Coon), esposa de um magnata das ferrovias, o eixo central da trama se forma: de um lado, as damas da tradição, firmemente ancoradas nas regras não escritas da sociedade novaiorquina; do outro, os arrivistas determinados a comprar não apenas propriedades, mas status e legitimidade. E entre esses polos, há uma série de personagens negros, especialmente Peggy Scott (Denée Benton), que desafiam o apagamento histórico com suas próprias jornadas — profissionais, pessoais e políticas.
Algumas personagens são inspiradas em pessoas reais mas recontadas com nomes diferentes (o caso de Bertha que repete a história de Alva Vanderbilt) e outras são pessoas que existiram, como Caroline Astor (Donna Murphy), agora reimaginadas e dramatizadas.
A mescla é perfeita porque são fieis à história, mas incluem curiosidades e outros dramas. Para os fãs é uma diversão antecipar o que pode e vai acontecer e ver como é revisto na série.

O que acontece na 3ª temporada?
A nova temporada retoma os embates “usuais” com ritmo mais confiante e menos didatismo. A Bertha de Carrie Coon, cada vez mais poderosa e decidida a dominar o cenário social através da ópera e do prestígio, está irresistivelmente astuta. Ela é uma anti-heroína perfeita pois gostamos dela, mas sua ambição pessoal sacrifica seus filhos e possivelmente seu casamento.
Já Marian, que começou como uma heroína um tanto ingênua, agora parece entender melhor as regras do jogo — e como dobrá-las a seu favor. A beleza de The Gilded Age é justamente essa: mesmo quando os diálogos são carregados de sutilezas, o que está em disputa são estruturas inteiras. Quem pode amar, quem pode ser vista, quem pode falar.
Talvez o maior trunfo da série seja sua coragem em mostrar como tudo aquilo que parecia “apenas sociedade” era, na verdade, política pura. A ascensão de Bertha não é só sobre entrar para a elite, mas sobre desafiar um sistema excludente com as próprias armas.
As articulações de Peggy não dizem respeito apenas a uma carreira como jornalista, mas ao direito de narrar o próprio destino em um país que teima em silenciar vozes negras. E Marian — bem, Marian começa a compreender que, às vezes, o maior ato de coragem é simplesmente recusar o papel que escreveram para você.

O sucesso da série também revela um movimento curioso do público. Depois de anos de distopias e hiperrealismo, há um retorno ao desejo por narrativas com estética cuidada, arcos românticos, conflitos morais e espaço para silêncios carregados de significado. The Gilded Age nos dá isso — e, de quebra, como já falei, oferece um banho de referências históricas, com participações de personagens reais como Clara Barton, Ward McCalister e Booker T. Washington, entre muitos. É entretenimento, mas é também memória.
Com a HBO renovando o investimento na série e o elenco cada vez mais entrosado, a expectativa é que The Gilded Age continue fazendo aquilo que Downton Abbey ensinou tão bem: emocionar com delicadeza, criticar com elegância e, acima de tudo, nos lembrar que o passado — por mais luxuoso que pareça — nunca está totalmente fora do presente. Como a 4ª temporada ainda não foi confirmada, assistirei a cada episódio como se fosse o último, adorando cada minuto!
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