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Trabalho dos irmãos Bouroullec é resgatado em mostras na Bretanha

Ronan e Erwan Bouroullec voltam às origens

Por Texto: Liège Copstein
Atualizado em 25 Maio 2022, 10h57 - Publicado em 4 mar 2016, 16h42

Terra natal dos brothers franceses, a Bretanha receberá quatro mostras da dupla na cidade de Rennes – uma delas numa praça – focadas nos temas sensibilidade, delicadeza, poesia e precisão, conceitos-chave no processo criativo dos profissionais, que não dispensam o auxílio luxuoso da tecnologia de ponta. “Gostamos da ideia de deixar que as pessoas refitam sobre como o objeto deve ser usado”, diz Ronan. Confira a entrevista a seguir. 

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1. Quais são os prós e os contras de trabalhar em dupla, e como funciona seu processo criativo? Existe uma rotina, tarefas ou competências separadas para cada um, por exemplo?

Ronan: Para nós, ter pontos de vista bem diferentes trabalhando em dupla é o melhor jeito de fazer acontecer. Somos irmãos que cresceram juntos, com a mesma formação e a mesma profunda interação com as formas e as cores, com um entendimento compartilhado sobre as coisas em geral. Porém ainda assim discordamos. Cada projeto é discutido por um longo tempo, durante cada etapa. E no final o importante é chegar a um ponto de vista comum, uma solução que satisfaça a ambos. Fazemos de tudo para entrar em acordo. Por outro lado, alguns projetos são, em alguns momentos, mais concebidos por um de nós enquanto o outro fica na retaguarda, e vice-versa. Não há, a priori, uma divisão de tarefas. Depende do projeto, do momento e do contexto.

2. Vocês têm um jeito todo próprio de imprimir uma abordagem contemporânea a elementos tradicionais ou mesmo retrô, como foi o caso, por exemplo, da Serif TV para a Samsung e do candelabro suspenso Gabriel para o Palácio de Versailles. Quais são os seus critérios para a criação de peças que realmente combinem criativamente essas duas referências?

Ronan: Nós tentamos sempre trazer algo novo, marcado pela criatividade e inovação. Todas as criações têm que ser considerados dessa forma, mesmo que algumas pareçam formalmente mais específicas. Por exemplo, tanto na Serif TV como no candelabro Gabriel, tentamos alcançar inventividade, aperfeiçoamento técnico e novidade tipológica. No final, um pode parecer futurista e outro mais inspirado na natureza. Mas ambos vêm do mesmo processo e da mesma busca por questionar o objeto. Porém quase sempre o desenvolvimento da maioria das formas é guiado pela abordagem construtiva e não pelo preconceito formal.

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3. Se vocês tivessem que escolher apenas uma entre peças icônicas para ter em casa, qual seria e por quê?

Ronan: Em nossa paisagem doméstica, existem poucos objetos. Não somos fetichistas; não estamos rodeados por milhares de coisas. Talvez o fato de que design seja nosso trabalho nos ajude a manter certo distanciamento… (Ronan é casado com a também designer Inga Sempé) Nós possuímos pouquíssimas peças assinadas, até mesmo poucas peças nossas. Acho que um músico não ouve seu próprio CD, e um escritor não lê seu próprio livro … Em francês, dizemos: «sont les cordonniers qui sont les plus chausses mal» (« são os sapateiros que andam sempre pior calçados ») Esta expressão é, talvez, verdade no nosso caso …

É sempre muito complicado enfrentar um projeto antigo. Eu sempre vejo um problema, algo que eu gostaria de mudar. É uma forma de desafiar a nós mesmos, um lembrete de que nós temos que fazer melhor, mas é doloroso, por vezes, ver algo que fizemos anos atrás..

Erwan: A resposta seria a cadeira Thonet 14, hoje chamada Thonet 214, porque ela encarna uma espécie de perfeição do design. A harmonia sutil da forma somada à técnica inovadora de trabalhar a madeira a tornaram um clássico atemporal. Cada detalhe, que deve ter exigido um trabalho altamente rigoroso, parece no entanto casual e leve. Sua simplicidade e poesia são ainda mais impressionantes considerando sua técnica, que obedeceu a numerosas limitações para submeter-se aos padrões desse tipo de objeto, e a excelente solução proposta para a montagem inteligente da cadeira. Foi uma verdadeira revolução naquele tempo e fez da Thonet uma das primeiras cadeiras industrializadas em massa. Um bom design é sempre uma alquimia complexa e equilibrada, feita de vários fatores que nem sempre são compatíveis à primeira vista. E quando o objeto torna-se simples e honesto no final, é um grande sucesso. Nesta cadeira, a economia de meios e a simplicidade das linhas transmitem uma leveza que esconde o rigor extremo de sua concepção. Mas além de todas essas razões concretas, há outra que torna esse objeto especial. Uma espécie de inexplicável sensualidade emana desta cadeira e atiça o desejo por ela. Mais do que uma boa cadeira, é para nós um projeto extraordinário.

… e entre sua próprias criações, qual atingiu maior sucesso ou é sua favorita, e quais as razões?

Com o passar do tempo, alguns poucos projetos de design se tornam aquilo que as pessoas chamam «clássicos ». Essa denominação descreve objetos que foram muito bem aceitos pelo público ao mesmo tempo em que se mantiveram originais. Há um tipo de atemporalidade e sutileza neles. Esses projetos parecem existir e não existir ao mesmo tempo. Essa sutileza é algo que tentamos atingir. Num certo sentido, ficaríamos realmente felizes se algum dos nossos projetos se tornasse um « clássico ». Não é exatamente o objetivo, mas seria uma prova de que atingimos certa excelência.

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4. Quanto de design de qualidade está presente no cotidiano das pessoas comuns, como isso afeta suas vidas, e qual seria o seu conselho para quem quer viver com funcionalidade e estilo?

Erwan: As pessoas se sentem melhor e mais felizes quando suas casas atendem às suas necessidades e são bonitas de se ver. Conforto também é muito importante, mesmo que seja apenas um dos aspectos a considerar. Com relação ao papel do design na vida cotidiana, nós sentimos que o usual « esqueleto » definido de uma casa pode vir a desaparecer. A preferência pode vir a ser por novas soluções que permitam reorganizar os limites e o volume das casas. Assim as pessoas serão capazes de se adaptar às mudanças de vida, por longos períodos de tempo, é claro.

Ronan: A missão do design no futuro é talvez acompanhar e antecipar a evolução do nosso ecossistema, compartilhado de maneira mais correta. No nosso caso, estamos interessados em ajudar as pessoas a reorganizar o seu espaço de trabalho e também seu espaço de vida. Fazemos questão de projetar peças que possam ser integradas aos interiores de todas as pessoas, qualquer que seja seu contexto cultural. Isso resulta em projetos que gostaríamos de descrever como “não invasivos”. Mas, em certo sentido, esta é a própria lógica do design industrial, cujo objetivo é o grande mercado. Como não sabemos exatamente o contexto em que cada um dos nossos objetos vai acabar, tentamos suprimir tudo que parece desnecessário. Precisão é muito importante para nós, mais do que simplicidade. Observamos o comportamento das pessoas na vida cotidiana para entender suas necessidades mais comuns. De fato, temos um profundo interesse, uma verdadeira paixão pelos pequenos detalhes da vida.

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