Sobrado centenário no Horto, Rio de Janeiro, cheio de obras de arte
O sobrado foi comprado por um galerista americano para servir de pouso em suas passagens pelo Rio de Janeiro. ali, a arquitetura preservada e a coleção de obras de arte criam um diálogo harmônico
*Matéria publicada em Casa Claudia Luxo #31 – Novembro e Dezembro de 2012
Em Nova York, o galerista Brent Sikkema vive em um loft original dos anos 1920, ex-sede de uma gráfica industrial, com pé-direito duplo, amplas janelas e paredes grossas. Em Havana, é dono de uma típica casa colonial. Em Long Island, sua casa de praia traz um estilo modernista clássico, assinado por um arquiteto renomado. As diferentes épocas em que os imóveis foram construídos não são mera coincidência: esteta por natureza, ele escolhe seus endereços pelo mundo com o mesmo cuidado (e imenso prazer) que seleciona o grupo de artistas representados por sua galeria, a Sikkema Jenkins, em Chelsea, no sul de Manhattan. E foi justamente um dos nomes do seu repertório, o brasileiro Vik Muniz, que o apresentou à região tombada das casinhas da Chácara do Algodão, no Horto, em uma de suas visitas ao Rio de Janeiro, cidade que faz parte do roteiro cultural – e profissional – de Sikkema. “Esse bairrinho traz uma mistura de diferentes tribos: tem as famílias, os artistas, as galerias descoladas e os simpáticos bistrôs. E, acima de tudo, essa área está a poucos passos do Jardim Botânico, um parque delicioso. Adoro esse clima”, diz ele.
Não precisou de muito tempo para Brent se tornar o feliz proprietário de um sobrado na região e convocar o arquiteto Francisco Hue para fazer a reforma completa do imóvel. “Eu vi o trabalho dele na vizinha H.A.P. Galeria e fiquei encantado com a forma com que adaptou o espaço, anteriormente compartimentado, aos planos abertos de uma galeria de arte, sem deixar de respeitar a estética original do imóvel. Logo percebi que Hue tinha o mesmo cuidado que eu com os detalhes. Uma afinidade essencial para essa nossa parceria”, diz. O arquiteto devolve o elogio. “Ele é um cliente como poucos, exigente, mas que sabe exatamente o que quer. Ao mesmo tempo, confia e delega. Só pediu que deixássemos a área de baixo vazia, pois ali é sua galeria particular”, explica. Na verdade, Brent tem sua própria versão sobre o que chama de ambiente vazio. “Entre a escada de madeira, inspirada no traço modernista de Hue, e a fantástica restauração do mosaico de pedras original nas paredes, há um diálogo nítido, que relaciona esses dois momentos tão distantes no tempo. Adoro ficar nesse espaço sozinho e tentar absorver tudo isso. No final das contas, somos consumidores efêmeros de tudo o que construímos e colecionamos”, fala ele, que, para este ensaio fotográfico, aceitou selecionar peças e obras de arte para dar um tom mais quente ao estar de sua casa. Nada excessivo, e tudo feito no Brasil. “Acho que, antes mesmo de escolher os lugares onde vou morar, começo a me interessar pelos móveis e peças que os representam esteticamente. Em Nova York, me tornei colecionador de móveis de designers brasileiros já há um bom tempo. A partir desse momento, era inevitável eu acabar comprando uma casa no Rio e conviver de perto com esta cidade tão efervescente”, afirma.
*Matéria publicada em Casa Claudia Luxo #31 – Novembro e Dezembro de 2012