Ron Arad virá para a Expo Revestir! Confira a entrevista
Ron Arad marca presença no Fórum Internacional de Arquitetura e Construção, da Expo Revestir, de 1 a 4 de março, em São Paulo. CASA CLAUDIA conversou com ele
Fã de experimentações, o arquiteto e designer israelense Ron Arad também é engajado. “Já recusei convites por razões políticas”, diz. “Minha meta não é acumular projetos. Agora sou muito seletivo.”
1. O que as pessoas esperam de um designer?
Apenas que ele projete coisas boas, que elas possam usufruir e as façam felizes. Mas pessoas diferentes apreciam coisas diferentes, e isso vale para designers, ninguém agrada todo mundo. O que eu espero de um bom chef, por exemplo? Espero que ele faça a comida que eu gosto, e seria bom que essa comida também fosse saudável, e que fosse bonita, tivesse uma boa aparência. Depende dos seus objetivos. Às vezes você cria um projeto de produção em massa, outras vezes uma edição limitada, e às vezes você simplesmente desenha para si próprio. Então, espera-se coisas diferentes de designers diferentes e de projetos diferentes. Não há regra nem receita, nem um jeito único de fazer as coisas. Você faz aquilo que te apaixona, segue seu instinto, e com sorte aquele projeto vai apaixonar outras pessoas também. Eu ficaria arrasado se fizesse coisas pelas quais ninguém se apaixona, nem estaríamos tendo essa conversa se fosse assim…
2. Uma vez você disse que tinha o desejo de criar algo que ninguém precisasse e que ninguém tivesse dinheiro suficiente para comprar…
Sim, eu quis exemplificar que você nem sempre quer servir o mercado e seu desejo, às vezes, não é nem mesmo servir a outras pessoas. Muitas vezes, a gente faz coisas simplesmente porque está curioso sobre no quê aquilo vai dar. O que aconteceria se eu fizesse assim, ou assado? Curiosidade é o maior combustível para qualquer realização.
3. Qual o papel social do design?
Olha, é muito, muito importante projetar de forma que não seja ruim para o meio ambiente, e que não explore outras pessoas. Vários produtos que usamos são feitos por pessoas muito mal pagas, que trabalham horas demais, ou que nem deveriam estar trabalhando e sim estar na escola. Mas isso não é assunto só dos designers, é do consumidor também. Todos têm que agir para minimizar esses problemas. Dito isso, nem sempre essas serão as questões centrais, embora sempre tenham que ser levadas em consideração. Agora mesmo estou envolvido no projeto do Watergate Hotel, em Washington, e minha preocupação lá é garantir que os hóspedes vão ter uma ótima experiência do espaço e se divertir muito. Já o projeto do hospital em Israel (Beit Shulamit, centro de tratamento de câncer que atenderá pacientes judeus e muçulmanos) tem uma grande relevância social – nosso foco é manter pacientes e seus familiares tão confortáveis e felizes quanto possível num momento tão delicado. Então o papel social de cada um desses projetos é muito diverso, e eu gosto dos dois.
4. E qual a relação entre design e política? Você já disse também que recusou propostas para trabalhar em países sob regimes políticos fechados.
Você tem que ser cuidadoso para não apoiar pessoas que não deveriam receber nenhum apoio. Usar seus conhecimentos não só ao sabor do desejo de projetar aquele edifício, mas pensar sobre onde esse edifício estará. Às vezes, você tem que dizer “sinto muito, volte quando o regime mudar”. Mas se você me perguntar onde aconteceu isso, eu vou dizer “próxima pergunta!” (rsrsrsrs). Pois nada no mundo é só preto e branco, há semitons. Sempre há uma dúvida, tipo, “e o povo, como fica?” Então é complicado, é preciso julgar caso a caso com o máximo de prudência…
5. Às vezes, projetando para uma sociedade que está sob um regime fechado, você estará ajudando as pessoas de lá…
Sim, temos que considerar isso também. Às vezes, quando estão lutando por uma causa, as pessoas merecem que você participe. É o mesmo sobre países sob boicote. Foi certo, por exemplo, não fazer nada na África do Sul durante o apartheid? Sim… Mas depende do quê. Lá funcionou, de certa forma… Mas também seria importante ir a esses lugares que você preferiria evitar. Eu não sou ativista, não sou político, sou só alguém que quer acreditar que está fazendo o melhor que pode com aquilo que sabe, sabendo também que de vez em quando você olha para trás e vê que errou. Não há garantias.
6. Entre estética e funcionalidade, o que deve prevalecer?
Forma e função não precisam brigar entre si, frequentemente elas estão lado a lado. Ou você sacrifica alguma coisa porque pensa “ah, seria legal se isto tivesse esta aparência, mas seria mais funcional se fosse de outro jeito…” Tenho dito que estética e funcionalidade são melhores amigas, não inimigas. Mas às vezes… Numa cama onde você tem os melhores sonhos e faz o melhor sexo do mundo, talvez você possa perdoar sua aparência.
7. Que assuntos você trará para a Expo Revestir?
Estou ansioso para ir. Sabe, nós temos uma arquiteta brasileira aqui no estúdio, a Júlia (Júlia Almeida, filha da ceramista Paula Almeida), ela é muito dedicada, chega cedo e no fim do dia tenho que mandar ela ir para casa “vai Júlia, não precisa acabar isso hoje!” (rsrsrs). Ainda não decidi, mas talvez fale sobre alguns projetos em Londres sobre os quais estamos muito entusiasmados.