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Sustentável e versátil: porque a cortiça não é popular no Brasil

Ainda que tenha características valiosas, o material ainda não possui tecnologia própria para o seu melhor desempenho

Por Julyana Oliveira
22 Maio 2023, 08h05
Foto: Cortiça
A cortiça, conhecida pelo uso como rolhas de vinhos, é um material sustentável e muito versátil (Divulgação/Divulgação)
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Proveniente do sobreiro, árvore de origem europeia, a cortiça é um material sustentável e muito versátil, pois é um excelente isolante térmico e acústico, e possui longa durabilidade e grande leveza.

Países como Portugal, Espanha, Itália e França – onde o cultivo do sobreiro acontece – possuem inúmeros exemplos de design e arquitetura que apostam no uso do material. Sem dúvidas, suas propriedades ecológicas são um grande atrativo.

Escola Nía
A escola Nía, localizada na Cidade do México, carrega a assinatura do escritório de arquitetura Sulkin Askenazi. No espaço dedicado ao lazer das crianças, a cortiça foi a escolhida para garantir um ambiente seguro e acolhedor, já que o material possui toque macio (Foto: Aldo C. Gracia/Divulgação)

“Em seu estado natural, sem o uso de colas e outros químicos, quando descartada, a cortiça biodegrada e retorna à natureza”, explica Christian Ullmann, professor de design para sustentabilidade e inovação social no IED.

Em solo europeu, o material dá origem à linhas inteiras de mobiliários e objetos decorativos, no entanto, aqui no Brasil, ele não é tão popular assim. “Isso porque a árvore de onde a cortiça é extraída não é de origem brasileira. E mesmo que seja cultivada por aqui, seu crescimento e regeneração são lentos”, aponta Ullmann. 

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Ai Weiwei
Provando a versatilidade do material, o artista chinês Ai Weiwei apostou na cortiça para a produção de uma escultura em formato autorretrato. A obra foi desenvolvida em Portugal (Foto: Juliette Bayen/Divulgação)

Para a extração da cortiça, o sobreiro deve ter em média 40 anos. A partir dessa idade, sua casca pode ser retirada, dando origem ao material, e, ao contrário de muitas espécies, em nove meses ela se regenera e pode ser extraída novamente. 

“Simples para regiões onde a espécie já é cultivada há milhares de anos, mas um processo lento para quem deseja começar hoje”, reflete o professor. Outro detalhe que explica sobre o pouco uso do material por designers e arquitetos brasileiros é o transporte. Para importar a cortiça para o Brasil, além do custo, perderia-se muito da questão sustentável no trajeto.

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Enquanto isso, países ao redor do mundo encontram em sua própria flora espécies semelhantes. “Por aqui, temos a palmeira buriti, que possui uma madeira maleável e é muito utilizada no artesanato e na produção de brinquedos”, detalha Ullmann.

Serpentine Summer Pavilion 2021
Em 2021, o pavilhão da Serpentine foi idealizado pelo estúdio de arquitetura sul-africano Counterspace. Para o projeto de 200 m², o escritório apostou em diversos materiais sustentáveis, incluindo a cortiça, escolhida por sua maleabilidade e capacidade de moldação (Foto: Iwan Baan/Divulgação)

Aliás, é o processo de produção e utilização da madeira que guia a forma como a cortiça é trabalhada. Ainda que os estudos sobre o sobreiro e usos do material tenham sido explorados no sul Europeu, com origem na extensa produção de vinho da região, não houve o desenho de técnicas e melhores práticas dedicadas exclusivamente à cortiça.

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“Pensamos ela como se fosse madeira e impomos nossa forma de projetar ao material. Por isso, quando precisamos de uma volumetria maior, colamos as folhas de cortiça umas sobre as outras. E aí, perdemos muito de seu caráter biodegradável”, aponta o professor.

A falta de tecnologias dedicadas a cada material também atinge, por exemplo, o uso do bambu. “Pensando sob um olhar de design regenerativo, precisamos evoluir para que possamos tirar o melhor proveito da cortiça, como acontece com o metal. Temos domínio do material e conseguimos extrair o melhor dele”, explica Ullmann, que também aponta onde encontrar as respostas: na natureza.

Poltrona Oak Oak de Morten Husum Nielsen
A poltrona Oak Oak, assinada pelo designer dinamarquês Morten Husum Nielsen, combina minimalismo e funcionalidade. Nielsen criou um móvel com espaço para guardar objetos. De cortiça e madeira, a poltrona é montada a partir de um encaixe tipo quebra-cabeça, dispensando colas e outros aditivos químicos (Foto: Divulgação/Divulgação)
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“Precisamos olhar para ela, prestar atenção.”Unindo design regenerativo e biomimética, aprendemos como ser um pouco sustentáveis. “Porque ninguém é sustentável. A gente pode evoluir e ter atitudes que andam por esse caminho e é importante que tenhamos”, declara. 

Já sobre a cortiça, uma curiosidade final, Portugal possui um museu totalmente dedicado ao material, o Planet Cork, em Vila Nova de Gaia, no norte do país. A instituição promete uma visita educacional e divertida para crianças e adultos.

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