Sustentável e versátil: porque a cortiça não é popular no Brasil
Ainda que tenha características valiosas, o material ainda não possui tecnologia própria para o seu melhor desempenho
Proveniente do sobreiro, árvore de origem europeia, a cortiça é um material sustentável e muito versátil, pois é um excelente isolante térmico e acústico, e possui longa durabilidade e grande leveza.
Países como Portugal, Espanha, Itália e França – onde o cultivo do sobreiro acontece – possuem inúmeros exemplos de design e arquitetura que apostam no uso do material. Sem dúvidas, suas propriedades ecológicas são um grande atrativo.
“Em seu estado natural, sem o uso de colas e outros químicos, quando descartada, a cortiça biodegrada e retorna à natureza”, explica Christian Ullmann, professor de design para sustentabilidade e inovação social no IED.
Em solo europeu, o material dá origem à linhas inteiras de mobiliários e objetos decorativos, no entanto, aqui no Brasil, ele não é tão popular assim. “Isso porque a árvore de onde a cortiça é extraída não é de origem brasileira. E mesmo que seja cultivada por aqui, seu crescimento e regeneração são lentos”, aponta Ullmann.
Para a extração da cortiça, o sobreiro deve ter em média 40 anos. A partir dessa idade, sua casca pode ser retirada, dando origem ao material, e, ao contrário de muitas espécies, em nove meses ela se regenera e pode ser extraída novamente.
“Simples para regiões onde a espécie já é cultivada há milhares de anos, mas um processo lento para quem deseja começar hoje”, reflete o professor. Outro detalhe que explica sobre o pouco uso do material por designers e arquitetos brasileiros é o transporte. Para importar a cortiça para o Brasil, além do custo, perderia-se muito da questão sustentável no trajeto.
Enquanto isso, países ao redor do mundo encontram em sua própria flora espécies semelhantes. “Por aqui, temos a palmeira buriti, que possui uma madeira maleável e é muito utilizada no artesanato e na produção de brinquedos”, detalha Ullmann.
Aliás, é o processo de produção e utilização da madeira que guia a forma como a cortiça é trabalhada. Ainda que os estudos sobre o sobreiro e usos do material tenham sido explorados no sul Europeu, com origem na extensa produção de vinho da região, não houve o desenho de técnicas e melhores práticas dedicadas exclusivamente à cortiça.
“Pensamos ela como se fosse madeira e impomos nossa forma de projetar ao material. Por isso, quando precisamos de uma volumetria maior, colamos as folhas de cortiça umas sobre as outras. E aí, perdemos muito de seu caráter biodegradável”, aponta o professor.
A falta de tecnologias dedicadas a cada material também atinge, por exemplo, o uso do bambu. “Pensando sob um olhar de design regenerativo, precisamos evoluir para que possamos tirar o melhor proveito da cortiça, como acontece com o metal. Temos domínio do material e conseguimos extrair o melhor dele”, explica Ullmann, que também aponta onde encontrar as respostas: na natureza.
“Precisamos olhar para ela, prestar atenção.”Unindo design regenerativo e biomimética, aprendemos como ser um pouco sustentáveis. “Porque ninguém é sustentável. A gente pode evoluir e ter atitudes que andam por esse caminho e é importante que tenhamos”, declara.
Já sobre a cortiça, uma curiosidade final, Portugal possui um museu totalmente dedicado ao material, o Planet Cork, em Vila Nova de Gaia, no norte do país. A instituição promete uma visita educacional e divertida para crianças e adultos.