O rei dos móveis de vidro e espelho
Entrevistamos Vittorio Livi, o italiano que criou a FIAM — uma empresa especializada em móveis de vidro e espelho.
Vittorio Livi é o que se pode chamar de self made man tanto da sua própria vida, quanto do rumo que deu para a FIAM, empresa que completa 40 anos em 2013 e é uma das mais respeitadas quando o assunto é mobiliário feito em vidro e espelho. Da infância modesta ao interesse pela arte, sua história começa com a curiosidade exacerbada, nos anos 1960, em torno do vidro “bombato” (forma côncava) para emoldurar figuras religiosas. Depois de dominar essa arte, aproximou-se dos livros do período Bauhaus e imaginou, pela primeira vez, desenhar uma coleção de móveis feita em vidro. Oito anos depois (1968) ele desenhava o primeiro banco feito totalmente em vidro. “Naquele período, ainda não existia tecnologia para curvar esse material tão rígido”, lembra. E foi nesse momento que surgiu a primeira ideia da FIAM, colocada em prática em 1973 e especializada no design del vetro curvato. Sempre com um olhar aguçado para o mercado interno e externo, Vittorio foi reinventando a empresa no decorrer do tempo, fazendo parceria com grandes designers como Ron Arad, Danny Lane, Philippe Starck, Christophe Pillet, até chegar às coleções de espelhos que marcam 2013, assinados por Daniel Libeskind. Paralelamente, ele foi montando o seu acervo de arte contemporânea e, atualmente, tem na sua coleção particular, mais de 60 obras, que incluem nomes como Bruno Munari, Gianni Colombo, Arnaldo Pomodoro, além de 1000 obras que marcaram o século XVI, mais precisamente o Clássico e o Moderno. Em entrevista exclusiva à CASA CLAUDIA LUXO, ele fala de simplicidade, dos caminhos para driblar a crise que ainda assusta a Europa e a essência do seu trabalho por meio da FIAM.
A FIAM desenvolve produtos que tem o luxo como base, mas com foco no vidro e no espelho, explorando as suas mais variadas formas. Como moldar um material aparentemente tão difícil e fazer um mobiliário que seja atraente para um público tão exigente?
Atualmente, um dos lados mais sofisticadas do luxo é a simplicidade. E é com base no “Menos é Mais”, que tanto pregou Mies Van De Rohe, um dos maiores arquitetos do século passado, que nos baseamos. Com essa frase, que jamais será apagada com o tempo, ele quis dizer que a beleza dribla os excessos, ela é objetiva, clara e, para ser belo, é necessário somente o essencial. Esse pensamento faz parte da identidade das nossas coleções.
O que você destaca como pontos fortes das peças criadas pela FIAM nesses 40 anos completados em 2013?
A inovação é um dos traços que mais me chamam a atenção, porque sempre tivemos como objetivo transformar o vidro em algo que possa ser inserido em todos os contextos, quando o assunto é decoração, seja clássico ou contemporâneo. O motivo é simples: por ser transparente, ele é um material que não ocupa e nem compromete, visualmente falando, nenhum espaço e que consegue dialogar com todos os estilos, valorizando-os. Além disso, são como diamantes, quando bem tratados, duram para sempre.
Existem designers que assinam linhas para a FIAM, ou todos os produtos são desenvolvidos pela equipe da empresa?
Esse é um aspecto interessante, porque faz parte de uma das formas de nos reinventarmos. Nossos produtos sempre foram projetados por mestres internacionais de design que representam e representaram as tendências mais importantes. Para você ter ideia do nosso preciosismo, o catálogo que produzimos não funciona apenas como uma ferramenta de vendas, mas como referência da história do design, mostrando os principais movimentos que marcaram as escolas mais importantes. Nele é possível encontrar o Racionalismo, o Minimalismo, o Bolidismo, o Ecletismo e o Destrutturalismo italiano. Isso se deve ao trabalho de designers como Vico Magistretti, Cini Boeri, Ron Arad, Danny Lane, Philippe Starck, Christophe Pillet, até chegar às coleções de espelhos que marcam 2013, assinados por Daniel Libeskind, mestre de desconstrutivismo, e Massimiliano Fuksas, um grande intérprete do romantismo, além de Xavier Lust. Cada um deles deixou uma marca indelével na história com seus estilos.
O mercado europeu está, aos poucos, reagindo a uma crise forte. Quais as soluções encontradas pela FIAM para driblar esse momento?
O segredo está em apresentar propostas cada vez mais atraentes para o mercado. A coleção que apresentamos este ano capta bem esse aspecto, seja pela qualidade, seja pela pesquisa e, sobretudo, pelo design: aspecto muito cobiçado pelos nossos parceiros comerciais, apontado como uma das atrações de público. Por isso, a importância de termos produtos criados por grandes mestres do design. Precisamos criar oportunidades para nossos parceiros e, dessa forma, fortalecer a nossa marca para o público.
Como a FIAM enxerga o mercado brasileiro?
Com muito bons olhos. O público do Brasil tem uma cultura bastante semelhante à italiana e compartilha o estilo de vida de prazer e beleza que aspira as marcas italianas. O apreço pelo que é de qualidade é também um investimento para o futuro, tanto pelo valor cultural, quanto por sabermos que temos condições de satisfazer essa demanda.