O apartamento de Vilma Eid vira uma galeria de arte popular brasileira
É tamanha a paixão pelo trabalho, que a colecionadora e galerista Vilma Eid transformou seu apartamento numa galeria particular de arte popular brasileira.
Transformar o próprio lar em galeria de arte. Foi esse o pedido da colecionadora Vilma Eid ao jovem arquiteto Pablo Alvarenga, do escritório AMZ, quando resolveu mudar da casa em que morou durante 42 anos para viver em um apartamento. E ela não estava exagerando. Foi preciso um ano e meio para quebrar muitas paredes e adaptar os 505 m² para receber cerca de 220 obras. Mas, ao adentrar o apartamento de Vilma, depara-se com um tipo de arte diferente do senso comum. Organizadas meticulosamente em grandes nichos num corredor, esculturas de madeira e cerâmica dão o tom em toda a casa. Aos poucos, observando parte por parte, percebe-se que a colecionadora vai além. Faz combinações inusitadas, como um quadro abstrato de Sérgio Sister na parede junto da série de leões de barro do pernambucano Nuca de Tracunhaém. Em outro canto, a monotipia de Mira Schendel é contraposta à madeira maciça de duas onças gigantes, talhadas por Itamar Julião. Para Vilma, não há distinções: todos devem ser apreciados como arte. Desde a década de 1980, quando recebeu o convite para ser sócia do galerista Paulo Vasconcellos, Vilma se dedica à arte popular. O veterano foi seu grande mestre, com quem aprendeu a desenvolver o olhar crítico para esse tipo de obra. Mas o contato com Vasconcellos foi só o desabrochar de uma semente que havia sido plantada dez anos antes. Quando levada pelos pais à extinta galeria Cosme Velho para escolher seu presente de casamento, a jovem sentiu-se atraída por um quadro com dois boizinhos do artista José Antonio da Silva. Não o levou, mas aquela imagem ficou em sua lembrança. Hoje, obras do paulista integram o acervo de sua Galeria Estação, que completa 1 década este ano. O foco não poderia ser outro: são 59 artistas, a maioria do Nordeste ou do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, que desenvolvem o que Vilma chama de “obra espontânea”, ou seja, aquela puramente intuitiva, realizada longe dos centros urbanos. De tanto carinho pelos seus achados, a colecionadora faz questão de ter em sua casa pelo menos um exemplar de cada artista que compõe o acervo de sua galeria. E, se entra ali, “não sai mais, torna-se afeto. Estruturamos a casa para receber a coleção”, conta Vilma. Esse cuidado se expressa em cada detalhe. Tanto no projeto de iluminação, que ressalta as minúcias das obras ou a entrada de luz natural pela sacada aberta à sala, quanto nos nichos de alvenaria e ferro para aguentar o peso das esculturas. Nada ali é mais importante do que as preciosidades da casa. “A arte popular é muito verdadeira e me emociona sempre”, confessa. A ela é que Vilma Eid se dedica todos os dias.