Nada além do essencial
Graças à planta enxuta e ao uso racional de matéria-prima sustentável, este bangalô conquistou o Prêmio Planeta Casa 2004 na categoria Projeto Arquitetônico
Arquiteta: Beatriz Meyer
Área: 130 m2
Localização: Tatuí, SP
Por que é ecológica: madeira de manejo sustentável, móveis de madeira certificada, boa gestão da obra (que evitou desperdícios), tijolos da região, planta enxuta e poucos materiais
Estrutura pronta em dez diasAo ser convidada para reformar a sede do sítio em Tatuí, SP, a arquiteta Beatriz Meyer su-geriu erguer um anexo onde a família pudesse receber as visitas. Com cinco filhos e uma legião de amigos, o casal de pronto aceitou a proposta. “Afinal, é neste terreno, e próximos da natureza, que nos refugiamos da agitação de São Paulo”, conta a proprietária. Ao cabo de dez dias nascia a estrutura do bangalô de 130 m2, no qual cada detalhe denota a preocupação ecológica. O tempo recorde da obra (ao todo 90 dias) foi possível porque o esqueleto chegou pronto ao canteiro, evitando desperdícios. Segundo o júri do prêmio, o ponto alto da construção é o uso de madeiras provenientes de manejo adequado – no caso, pilares de itaúba e vigas de garapeira fornecidos pela Ecolog, construtora que obteve o selo FSC em abril deste ano. “O projeto se adaptou ao princípio do manejo sustentável, em que é preciso estar aberto às espécies de madeira disponíveis e não ficar preso a modismos”, explica a arquiteta.¿
Outro ponto que chamou a atenção do júri foi a simplicidade da planta, que conta com apenas três cômodos circundados por varandas:¿ uma sala – que reúne bancada de apoio com pia e frigobar – e duas suítes. Essa opção pelo simples se reflete também na seleção dos materiais de acabamento – fundamentalmente vidro, madeira e tijolo -, criando uma linguagem visual harmônica. “Em busca da funcionalidade, fiz um projeto racional, sem contudo abrir mão de detalhes arquitetônicos mais elaborados”, acredita a profissional, fã do livro Cidades para um Pequeno Planeta, no qual o arquiteto italiano Richard Rogers discorre sobre o desenvolvimento urbano sustentável. “É um projeto que oferece uma clara compreensão do todo e também remete às casas bandeiristas, residências rurais típicas de São Paulo da primeira metade do século 18”, comenta Jurema Machado, coordenadora do setor de cultura da Unesco e integrante do comitê julgador do Prêmio Planeta Casa 2004.
A parede de tijolões produzidos nos arredores do sítio e assentados com junta seca enfatiza o ar rústico da construção. As amplas esquadrias de freijó favorecem a iluminação e a ventilação natural. Tapete de palha de buriti e algodão executado por artesãos do Piauí (Vladimir Boniconte Decorações). Arandelas de cobre da LightWorks.
Arejada, a suíte conta com um pé-direito generoso. Localizada em frente ao armário de freijó, a bancada com cuba fica fora do banheiro. Cama e criado-mudo são de eucalipto reflorestado (Futon Company). Painel de folhas secas do Projeto Terra.
Amplas, as janelas do banheiro apostam na transparência e transformam o jardim em uma extensão do boxe. Para reduzir o consumo de energia elétrica, a água que alimenta o bangalô conta com um sistema de aquecimento solar (Heliotek). No detalhe, cuba de cerâmica executada pela artista plástica Alice Felzenswald.
Por que optar pela madeira certificada?O selo fornecido pelo FSC (Conselho de Manejo Sustentável) é a única garantia de que dispomos para saber se a madeira foi extraída de maneira não predatória, respeitando as leis de regeneração da mata nativa. Rigoroso e abrangente, o selo garante ainda que a madeireira que o detém atende corretamente às leis trabalhistas e fiscais, além de critérios éticos, como uma boa convivência com a população local. Em resumo: quem opta pela madeira certificada tem a certeza de que está contribuindo decisivamente para a conservação de nossas florestas e dos povos que nelas habitam.