Lauro Cavalcanti comanda o Instituto Casa Roberto Marinho
O pavilhão envidraçado, com vista para flamingos rosa espalhados pelo jardim traçado por Burle Marx, é o quartel-general do Instituto Casa Roberto Marinho, que abre as portas, a partir de 2016, no lugar que serviu de moradia ao jornalista, no Cosme Velho. Em plena gestação, o espaço será um centro cultural, sob o comando do arquiteto, antropólogo, escritor e ex-diretor do Paço Imperial Lauro Cavalcanti.
Para entrar no número 1105 da rua Cosme Velho, é preciso passar pela guarita, se identificar e esperar alguns minutos. O controle restrito vem dos muitos anos em que a casa, guardada por um portão imponente e seguranças de terno, foi residência oficial dos Marinho, o sobrenome por trás das Organizações Globo. Em 2003, o patriarca, Roberto, faleceu. Dona Lili, sua esposa, continuou vivendo ali, mas, depois de sua morte, em 2011, o espaço ficou vazio. Só os flamingos continuavam saçaricando pelo jardim. O tempo passou, a família pensou em ceder o lugar para a sede carioca da Unesco, mas optou por um projeto maior e mais ambicioso: transformar o local no Instituto Casa Roberto Marinho. Previsto para inaugurar em meados de 2016 e já em plena fase de desenvolvimento, o centro cultural abrigará a impressionante coleção de arte (cerca de 1,3 mil obras) modernista, iniciada na década de 1940 e que por muitos anos recheou as paredes do imóvel com telas de Guignard, Portinari, Pancetti, entre outros. Mas a ideia é ir além, com uma programação que inclua duas exposições temporárias por ano e uma agenda de cursos e oficinas. À frente dessa empreitada está um expert no assunto: Lauro Cavalcanti, que, depois de 22 anos na direção do Paço Imperial, se diz entusiasmado com a nova função. “Participar de cada etapa do nascimento de um espaço como esse é um grande privilégio”, aponta ele, que também comemora o lançamento de seu primeiro livro de ficção, 18 Graus, pela editora Língua Geral, inspirado livremente na época da construção do Palácio Gustavo Capanema, no Rio. Durante nossa conversa regada a café e de olho na vista estonteante, com os flamingos dando o ar da graça, foram muitos os momentos em que os olhos de Lauro brilharam. O entusiasmo vem à tona quando mostra as perspectivas em 3D da implantação do instituto, assinadas pelo arquiteto Glauco Campello, autor também da reforma do Paço e convidado para fazer a adaptação da casa, de estilo neocolonial de 1939, para um centro cultural adequado às demandas do século 21. “Na verdade, a estrutura externa se manterá quase intacta. Dentro, o desenho dos pavimentos muda, já que precisamos criar superfícies planas para as exposições. Embaixo, fica o glamouroso salão principal, com o antigo piano de cauda Steinway. Em cima, a configuração é de uma área de exposições. De resto, criaremos um novo pavilhão para a reserva técnica e ao lado haverá um bloco-escola, com cursos e atividades abertas ao público. Tudo isso envolvido pelo jardim de espécies de mata Atlântica, com esculturas e pontos de contemplação, o primeiro feito por Burle Marx para uma casa particular”, revela ele, que já marcou visita a vários museus de pequeno formato pelo mundo afora. “Estamos estudando exemplos bem-sucedidos, como o Peggy Guggenheim, em Veneza, o Berggruen, em Berlim, e o Giverny, na França. No futuro, a ideia é fazer aqui um mix mais contemporâneo, com novas aquisições”, acrescenta, explicando que todo o conteúdo jornalístico, com a memória da trajetória dos Marinho, estará presente, exposto em mesas digitais interativas. “O instituto não depende de lei de incentivo. Tem financiamento da família, que quer reverenciar a memória do patriarca e tudo o que ele construiu, colecionou e prezou na vida.”