Home office: duas histórias de sucesso de quem trabalha em casa
Duas histórias de quem deixou o estresse no passado e, hoje, vivencia uma rotina com mais tempo e liberdade.
Falta de tempo para a vida pessoal e trânsito caótico são queixas comuns de quem mora nas grandes cidades. Em busca de uma rotina mais leve, cerca de 30 milhões de brasileiros, segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), decidiram instalar seu local de trabalho em casa. Entre eles, os protagonistas destas duas histórias, que, com coragem e disciplina, transformaram para melhor seu dia a dia.
“Minha vida é bastante dinâmica, trabalho quase 24 horas por dia”, avisa Alexandre Kiss Segundo, por telefone, enquanto caminha em direção ao endereço de um de seus clientes. Formado em publicidade, exerce, aos 27 anos, o cargo de diretor de marketing da empresa da família – ofício que demanda viagens e muitas reuniões na rua. Para quem vive em São Paulo, por menor que seja a distância percorrida, o trânsito sempre pode pregar uma peça e atrapalhar a agenda. Por isso, na maioria das vezes, Alexandre prefere não ir ao prédio da firma, situada na vizinha Guarulhos, SP. É no apartamento de 130 m² onde mora há um ano e meio, num edifício icônico da av. Paulista, que ele se empenha, sem telefonemas nem distrações. Responde e-mails, faz planilhas… Tudo o que exige um olhar minucioso se resolve no home office, instalado no living aberto, livre de paredes. O batente começa cedo: o rapaz acorda às 6 da manhã, veste uma roupa de trabalho, toma café reforçado e parte para a maratona de visitas a escritórios. “Dou conta do que é preciso e volto para casa.” Aí, fica até tarde da noite no computador. As tarefas fluem bem na companhia de móveis de design e toy arts, bonecos e outros objetos (seus vícios de coleção), acomodados em diversos nichos da estante e na escrivaninha de tampo irregular – ambas projetadas pelo arquiteto Filipe Ramos, autor da reforma do espaço e amigo de longa data. E, se bate o cansaço no final da tarde, basta girar a cadeira para observar o pôr do sol, que invade a janela do 18o andar, revigorando as energias. “Cada detalhe aqui tem a minha cara. Isso me deixa motivado para lidar com a rotina tão intensa. Agradeço todos os dias por morar neste lugar e usufruir desta vista linda”, conclui.
“Lembra a primeira noite aqui? Tudo fazia eco…”, pergunta o designer Marcos Korody à namorada, a ilustradora Kalina Juzwiak, durante a entrevista para esta reportagem. Claro, ela recorda: “Ficamos o dia todo arrumando o pouco que tínhamos. Estávamos tão exaustos e felizes que não conseguíamos dormir”. Foi em janeiro deste ano, um verão abafado em São Paulo, que o casal deu o passo decisivo: sair da casa dos pais. No namoro de quatro anos e meio, tanta coisa já aconteceu. Ela, hoje com 28 anos, terminou o curso de arquitetura, trabalhou em alguns escritórios e chegou a dividir a sociedade de um deles, sempre preocupada em fazer tudo certinho – e, se algo não ia bem, desenhar era sua válvula de escape. Ele, 25 anos, formou-se em desenho industrial e trabalhou numa construtora, além de ter atuado em outras áreas. Em 2012, a saúde de Kalina deu o alerta. “Fiquei doente e descobri ser intolerante a glúten. Estava infeliz. No fundo, sempre quis viver de arte”, conta. Marcos, por sua vez, desejava ser o próprio patrão. “Trânsito e estresse não são para mim. Larguei tudo para estudar como viabilizar meus projetos”, explica. Enquanto ele se debruçava sobre os livros, ela foi esfriar a cabeça na Europa por um semestre. Cansaram do mundo, porém não um do outro, e resolveram alugar um cantinho só deles. Escolheram um apartamento de 70 m², com vista para a copa das árvores e repleto de paredes brancas, prontas para receber as pinceladas de Kalina e os objetos que Marcos produz com itens descartados na rua. Unindo cavaletes a um tampo de madeira, criaram a descolada mesa de trabalho, e bolas de pilates ocupam o lugar de cadeiras. Da cozinha saem pães fresquinhos (sem glúten!), sucos e chás feitos com as ervas da horta. A demanda diária continua intensa, mas, sem dúvida, enfrentá-la ficou mais prazeroso.