Dorothy Draper: a primeira mulher da decoração
Glamourosos, excêntricos e sofisticados. Assim eram os ambientes assinados por uma das primeiras mulheres da decoração, que inspiram até hoje uma legião de designers.
A máxima “menos é mais”, cunhada pelo arquiteto alemão Mies van der Rohe, era o oposto do que pregava sua contemporânea, a americana Dorothy Draper. Para ela, mais era mais e melhor. A definição dos ambientes com sua assinatura vinha acompanhada de adjetivos como exuberantes, excêntricos, sofisticados, glamourosos. Quando decorou a casa onde vivia com o primeiro marido, ela recebeu tantos elogios dos amigos que logo a convidaram a fazer o mesmo em suas residências. Dorothy é considerada pioneira ao estabelecer um dos primeiros escritórios de design de interiores nos Estados Unidos, em 1923, tornando a decoração um negócio profissional. Dessa maneira, ajudou a abrir as portas para mulheres talentosas trabalharem nessa área. Nascida de uma rica família no estado de Nova York, Dorothy era prima e muito amiga de Eleanor Roosevelt, esposa do presidente Franklin D. Roosevelt. Os amigos da alta sociedade nova-iorquina, as viagens que fez à Europa, o interesse pela arte, pela história e pela natureza contribuíram para formar o eclético e refinado repertório de Dorothy, que começou a imprimir um toque de fantasia ao estilo clássico predominante na época. O piso xadrez preto e branco, os revestimentos de gesso bastante decorados, os puxadores gigantes, a mistura de estampas e de cores vibrantes, os tetos vestidos com tecidos eram algumas de suas marcas. Ela sabia trabalhar muito bem as proporções de móveis e objetos para causar impacto. Em 1939, Dorothy Draper lançou o livro Decorating Is Fun!: How to Be Your Own Decorator.
Nele, ressaltou que a decoração não deveria ser algo rígido e sério, mas sim audaz, arriscado e divertido. Estimulava a coragem para que as pessoas experimentassem, encontrassem seu próprio gosto e expressassem sua personalidade dentro de casa. Uma de suas frases era: “Se parece certo, então está certo”. E nenhum ambiente seria perfeito para ela se não tivesse o conforto em sua essência. “Decorar é pura diversão; um deliciar-se em cores, uma consciência pela harmonia, um desejo pela iluminação, um senso de estilo, um entusiasmo pela vida e um prazer pelos acessórios do momento”, escreveu. Ainda que boa parte de seu trabalho estivesse voltada para projetos comerciais, os ambientes residenciais também recebiam infuência de seu estilo. Durante os anos 1950, Dorothy assinava textos em colunas de jornais e revistas, como a Good Housekeeping, em que oferecia dicas de como viver melhor em casa, como receber os amigos para festas e jantares e como decorar os ambientes e deixá-los acolhedores. “Uma das lições mais preciosas que aprendi com Dorothy é que cor é magia. E ela sempre dizia: ‘Não me mostre nada que se pareça com gravy [molho de carne], nada de ambientes com apenas tons de bege e cinza’”, lembra o designer de interiores Carleton Varney, presidente da Dorothy Draper & Co. Inc., que trabalhou com Dorothy de 1966 até o ano em que ela morreu, em 1969, com 80 anos. Ele é autor do livro In the Pink, que conta a história dessa mulher visionária. “Achei que era importante para as pessoas conhecerem a criatividade de Dorothy e sua grande contribuição à indústria do design de interiores”, diz Varney sobre a mestra que não tinha medo de gestos ousados. Na segunda metade do século 20, hotéis como o Greenbrier, na cidade de White Sulphur Springs; o Grand Hotel, na ilha Mackinac, em Michigan; e o Quitandinha, em Petrópolis, tornaram-se projetos emblemáticos por contar com a assinatura de Dorothy. O Palácio Quitandinha era um hotel cassino monumental erguido na região serrana do Rio de Janeiro. Dorothy foi convidada para decorá-lo durante a Segunda Guerra Mundial. Em um período de austeridade, ela seguiu o caminho contrário, criando uma atmosfera esplendorosa que atraía políticos, empresários, cineastas e atores de Hollywood. Por onde deixou sua assinatura, a decoradora arrebatou admiradores féis.