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Conheça o Museu Kröller-Müller na Holanda

A apenas duas horas de carro de Amsterdã, nos arredores da cidade de Otterlo, na parte central da Holanda, existe um parque nacional com 55 km2 que abriga o Museu Kröller-Müller, um dos maiores jardins de esculturas da Europa e o segundo maior acervo de Van Gogh do mundo.

Por Reportagem e fotos Henk Nieman
Atualizado em 25 Maio 2022, 18h33 - Publicado em 11 jun 2015, 17h57

Um museu incomum numa paisagem estonteante – eis o Kröller-Müller. Localizado no Parque Nacional de Hoge Veluwe, com cerca de 55 km2, o museu divide a cena com pântanos, dunas, bosques e planícies. A população do entorno, além das obras de arte, é composta de cervos, javalis, carneiros-selvagens, gazelas etc. Para ver tudo, você pode se valer das ciclovias que cortam todo o parque. A instituição, inaugurada há 77 anos, é o resultado do trabalho de uma vida inteira de Helene Müller e Anton Kröller, que adquiriram mais de 11 mil obras de arte e glebas e mais glebas de terra neste lugar paradisíaco. O casal tinha o sonho de construir um museu integrado à natureza e, para isso, convidou no início da década de 1920 o arquiteto belga Henry van de Velde. De Velde trabalhou no projeto por quase seis anos, mas o prédio sonhado nunca chegou a existir, pois no final dos anos 1920 a família enfrentou dificuldades financeiras e teve de interromper a construção. Em 1935, Helene e Anton doaram o acervo à Holanda com o compromisso de que o governo o transformasse em um museu. Três anos depois, o Kröller-Müller foi inaugurado – Helene foi sua diretora por um ano apenas, pois morreu em 1939. Para ela, arte, natureza e arquitetura deveriam coexistir em perfeita simbiose. Helene foi também uma das primeiras a descobrir a dimensão colossal de Van Gogh e a apostar nele. Passou 20 anos garimpando para ter uma seleção representativa do artista. Conseguiu cerca de 270 obras, que até hoje são o eixo do Kröller-Müller. A coleção reúne também uma extensa lista de grandes artistas dos séculos 19 e 20, entre eles Mondrian, Braque, Gauguin, Picasso, Bourgeois. O museu foi constantemente remodelado. Após 15 anos de sua inauguração, foi construída uma nova ala interna e uma galeria de esculturas. A galeria, chamada Rietveld Pavilion, assinada pelo arquiteto holandês Gerrit Rietveld, concebida como uma estrutura temporária, se tornou permanente. O prédio, de uma simplicidade geométrica estonteante, usa blocos de tijolos de concreto, vidro e vigas metálicas. Em 1977, foi inaugurado um projeto de expansão, de autoria do também holandês Wim Quist, que integra o prédio ao cenário e conta com um sistema de controle de luz natural ajustável. Ele apostou na luz espontaneamente filtrada e suave do norte da Europa para gerar o melhor efeito possível na iluminação das obras de arte. Porém o grande espetáculo acontece sobre a grama – os limites são as árvores e os campos vastos. O lugar das obras é determinado pela paisagem, que vai ganhando contornos diferentes à medida que ali chegam novas esculturas e que as estações do ano se alternam. É um santuário habitável, explorável, possível. Tudo é misturado, fundido, nos desafia a nos sentirmos mais próximos de nós mesmos e ao mesmo tempo nos retira da realidade conhecida. Impossível não fazer uma reflexão de nossa relação com o mundo que nos rodeia. A própria situação das obras contribui para isso. Algumas delas necessitam da companhia de outras peças por perto, outras vivem do silêncio de seu próprio mundo. Neste espaço é possível recontextualizar a arte, a fim de percebê-la de outra maneira. Aqui o natural e o construído, o originário e o inventado convivem, se confundem e trocam de lugar. Quem participa da experiência sai diferente de quando entrou. Essa interação entre arte, natureza, arquitetura e gente faz do museu o Éden possível.

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