Claudia Liz mostra detalhes de seu deslumbrante apartamento-ateliê
Um dos principais nomes da moda entre 1980 e 1990, artista segue apaixonada pela performance, mas hoje reserva sua criatividade para as ilustrações
Não é por acaso que as cores se fazem presentes no lar de Claudia Liz. Se hoje as paredes e as obras de sua autoria flertam com um colorido vigoroso é porque, por muitos anos, sua vida parecia passar em preto e branco.
A arte foi um dos pilares aos quais a artista se agarrou para conquistar o lugar de felicidade em que se encontra hoje — e seu apartamento em São Paulo é testemunha desse momento cheio de realizações.
Foi ela mesma a responsável por todo o design de interiores do lar. “Eu fui movida pela vontade de fazer o meu espaço, de pensar em como gosto de viver, então cada canto foi planejado”, explica a moradora. As paredes em tons terrosos foram criadas a partir de uma técnica rústica, de autoria da artista Paola Rossi, que faz misturas de uma tinta sem petróleo até chegar no tom desejado.
“Ela me disse que, com essa massa, a parede respira, e eu quero que meu apartamento respire”, explica sobre a textura com imperfeições em um tom queimado de rosa. Além de brincar sem receios com as pigmentações para trazer boas vibrações ao espaço, foi na iluminação que ela encontrou uma excelente forma de atrair mais vivacidade para seu dia a dia.
Claudia já buscava há tempos um lar que tivesse uma entrada de luz natural vantajosa, até encontrar esse refúgio perfeito para produzir suas telas no cavalete, posicionado no estar. Para conquistar ainda mais claridade, ela contou com a ajuda de profissionais que transformaram a estrutura de seu apartamento-ateliê.
Sendo assim, os cômodos — antes divididos numa casa comum com sala, quartos, banheiros e cozinha — ganharam nova formatação para favorecer a sensação de amplitude e garantir mais respiro. Essas pitadas de alegria que ilustram sua moradia vêm de uma necessidade pela busca do bem-estar, além de deixar para trás tempos difíceis.
Transição de carreira
Claudia se define como uma artista multimídia, que se expressa por meio de performances, seja nas passarelas ou em seu ateliê. Sua carreira começou muito cedo, aos 13 anos, quando se mudou de Goiás para São Paulo para atuar como modelo. Logo se tornou um dos principais nomes entre as top models brasileiras no final da década de 1980 e início de 1990.
Ela desfilou em diferentes semanas de moda pelo mundo, incluindo Paris, Milão, Nova York, Madri e Tóquio, sendo o rosto de grifes como Chanel, Comme des Garçons e Yohji Yamamoto.
Sua vontade de transitar por todas as vertentes do meio artístico a fez migrar para a televisão, onde estreou em novelas em 1995, com Cara e Coroa. Estrelou ainda, também na TV Globo, sucessos como Pecado Capital e Uga Uga. No total, foram cinco novelas, uma minissérie e uma atuação como apresentadora no MTV A Go-Go, posto que ocupou em 1995.
Seu currículo inclui ainda quatro longas-metragens, com destaque para As Meninas, de Lygia Fagundes Telles, que rendeu a Claudia o prêmio de Melhor Atriz, junto a Adriana Esteves e Drica Moraes, no Festival de Cartagena.
“Eu tive depressão por muitos anos por causa do coma. Então, lutei por um longo período numa areia movediça, num ciclo negativo”
Claudia Liz, modelo, artista plástica e atriz
As páginas em preto e branco de sua trajetória se devem a um acontecimento de 1996, quando a atriz, um dos nomes mais reconhecidos da moda brasileira naquele momento, entrou em coma após ser internada para uma lipoaspiração em uma clínica, aos 27 anos.
“Eu tive depressão por muitos anos por causa do coma. Então, lutei por um longo período numa areia movediça, num ciclo negativo.” Em 2021, a artista fez parte de uma exposição a céu aberto na Avenida Paulista, com o tema “Feminino Plural” e curadoria de Lilian Pacce, e aproveitou a ocasião para revisitar esse sentimento, com a obra Apequenar-se e Apequenar o Outro.
Nela, Claudia fala sobre o sofrimento de querer se enquadrar dentro de um padrão: “Uma vez, uma jornalista escreveu que eu estava gorda e me comparou com uma mulher, que acho linda, mas o intuito dela era criticar a aparência dessa mulher e a minha. Me senti ridicularizada, diminuída, exposta e por causa disso fui fazer a cirurgia e entrei em coma. Ninguém tem o direito de apequenar o outro”, chegou a declarar à época em suas redes sociais.
Hoje, Claudia considera o assunto página virada, prefere focar no que a vida reserva em seus próximos capítulos — e sempre há novidades.
A artista acaba de lançar a coleção “Entrelinhas”, em colaboração com a Donatelli Tecidos, inspirada na estilista Emilie Flöge e no pintor Gustav Klimt. Os tecidos em jacquard apresentam estampas com elementos característicos da Art Nouveau, como curvas orgânicas, linhas sinuosas e uma fusão entre formas naturais e geométricas.
A coleção têxtil aparece nos revestimentos da casa da moradora, e também vestem seu corpo, já que os desenhos viraram peças de roupa nas mãos do estilista João Pimenta.
“A Emilie é conhecida como a musa do Klimt. Eu acho o lugar de musa muito legal, mas ela foi muito mais do que isso. Foi uma mulher vanguardista, que empregou costureiras em seu ateliê, que não quis casar e ter filhos. Então, eu quero levar cor e alegria, mas há um conceito pra gente dialogar”, reflete sobre a vontade de sempre trazer referências em seus trabalhos.
O maior exemplo disso ocorreu há dez anos, quando recebeu um convite da Folha de S.Paulo para ilustrar a coluna Tendências e Debates. Atualmente, segue na publicação, mas agora transformando em arte os textos da antropóloga e escritora Mirian Goldenberg.
“Por mais que eu ilustrasse política, sempre quis levar pras pessoas uma alegria. Como fiquei deprimida por muitos anos, sei o impacto da cor, como ela nos desperta. Tenho também essa coisa fluida, dos braços e pernas longas, como se não tivesse ossos”, explica.
Não só no seu trabalho, mas também no seu lar a fluidez se mostra presente. Claudia adora andar descalça, receber amigos para um bolinho e garantir que as visitas sintam-se acolhidas.
A “Sala Marrocos”, repleta de itens vindos do país africano, é um convite para o relaxamento, assim como os muitos aromas e flores que perfumam todos os cômodos. O olhar otimista para o presente a fez apreciar os pequenos prazeres da vida, “como uma boa taurina”, nas suas palavras.
“Depois de longos anos de depressão, eu faço exatamente o que queria fazer quando era criança. Porque eu adoro modelar, performar, pintar e estar em casa. Eu luto para ser feliz, sabe? Eu sou perseverante”, finaliza a nossa xará.
Créditos de reportagem
TEXTO Marina Marques
FOTOS Bruno Geraldi
EDIÇÃO DE ARTE Jessica Hradec
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