Casa de Luis Barragán é marcada pela simplicidade no México
A casa criada pelo arquiteto Luis Barragán é um oásis raro e perfeito em meio ao caos da Cidade do México.
Ao entrar no táxi para visitar a Casa Barragán, na Cidade do México, uma leve sensação de tontura. “Terremoto”, avisa o motorista. É um sismo de consideráveis 7,4 graus na escala de Richter. Nas ruas, caos e, sim, postes balançando como se feitos de gelatina. Depois do trânsito, a chegada ao antigo bairro de Tacubaya, hoje Colonia Daniel Garza, onde mães apressam seus pequenos na saída antecipada do colégio. A fachada não impressiona, com suas aberturas discretas e aparência sem acabamento. De propósito. Porque o arquiteto Luis Barragán, vencedor do Prêmio Pritzker de 1980, que começou a construí-la em 1947, não queria insultar os vizinhos, em sua maioria moradores de construções baixas e simples. Dentro, não poderia estar mais calmo. Fora alguns outros turistas e estudantes de arquitetura, nem sinal de que um terremoto tinha acontecido lá fora. Ao final da visita, dá para perceber que é assim que Barragán, morto em 1988, quer: um pequeno oásis em plena Cidade do México. Acima de tudo, um oásis sem ostentação, quase sagrado. Na Casa Barragán, reina a cor forte, mexicana, aliada ao branco bem branco, sereno. Na pequena portaria, é como se o arquiteto dissesse: “Esqueça tudo o que você viu lá fora, aqui a minha história começa”. O amarelo-sol inunda as paredes, contrastando com as pedras vulcânicas, quase negras, normalmente utilizadas em áreas externas. A porta lá do fundo, camuflada na parede, permite acesso ao hall com algumas paredes rosas, a esconder outras portas e com uma escadaria para o piso superior. No alto dela, um quadro dourado reflete a luz, tingindo de rosa-claro as paredes alvas. É um dos seus truques favoritos usar objetos espelhados, aberturas estratégicas e fontes indiretas para iluminar. Por uma das portas se acessa a sala principal, separada da biblioteca por discretas meias-paredes em combinação com o pé-direito duplo sustentado sobre vigas de madeira. Ali, uma mostra bem evidente de que o interior do projeto é bem diverso da fachada para a rua: uma janela ocupa toda uma parede. O melhor seria mesmo chamála de parede de vidro, pensada como um proscênio de teatro, com o jardim exuberante transportado para dentro do ambiente. Mais do que uma separação, uma fronteira, é um convite para o verde entrar. Os caixilhos da Casa Barragán são uma atração. Vista do jardim, a fachada posterior é uma coleção de aberturas grandes, variadas, assimétricas e harmoniosas, em que madeiras fininhas impõem limites a quadradinhos ou quadradões de vidro, faixas, retângulos. Contraditório como todo bom homem deve ser, o arquiteto era bastante religioso, como se percebe nas tantas imagens de santos e anjos espalhadas apenas pela área íntima da casa, mas também adorava a arte pagã africana. Seu quarto lembra um pouco a cela de um monge, com móveis ainda mais discretos do que os dos outros ambientes. Ao mesmo tempo, fazia questão de ser o centro das atenções quando reunia amigos em casa. Encostada na parede, a mesa de jantar só tem uma cabeceira, reservada ao anfitrião. Uma das tantas esferas prateadas da casa foi colocada estrategicamente no móvel ao lado, permitindo ao dono controlar quem estava entrando no espaço. Com ideias tão brilhantes em uma mescla do modernismo com a tradição, Luis Barragán sintetiza o que a arquitetura talentosa deve ser: atemporal e, simplesmente, deliciosa.