Casa de estilista é vestida com painéis metálicos
Haute couture: habitada por uma estilista, esta casa foi vestida com painéis que, a exemplo de uma boa roupa, valorizam suas formas e atraem olhares de quem passa
O flerte entre a moda e a arquitetura não é novidade – a exemplo da casa com “paredes” de tecido desenhada pelo japonês Shigeru Ban em Tóquio e das coleções que homenageiam o brasileiro Oscar Niemeyer assinadas por Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço, entre outros estilistas. “E não é a arquitetura a arte de vestir um espaço?”, indaga Arthur Casas, com a autoridade de quem vem criando obras únicas que, como a alta-costura, imprimem um estilo que se renova com o passar dos anos sem perder sua essência. Assim como Valentino se reinventa com os vermelhos, Arthur não deixa faltar em suas propostas os vidros, as linhas limpas e o branco – neste caso, combinado com toques de azul e rosa-antigo, cores quase inéditas em sua paleta, escolhidas pelos proprietários. “Adoro quando os clientes me permitem buscar esses novos caminhos, testar ideias. Possuo minha assinatura, mas a casa, como uma roupa bem cortada, deve ter a cara do dono, se ajustar a quem vai usá-la”, diz. Foi exatamente por pensar dessa maneira que o casal com duas filhas pequenas contratou o arquiteto, já que a morada comprada ainda em construção, embora oferecesse uma boa base, pedia ajustes para se adaptar ao seu gosto e às suas necessidades. Arthur, guiado pela elegância que lhe é característica, investiu em fluidez, impressa na integração entre os ambientes (que pode ser revertida em alguns casos, graças à aposta em portas-camarão e aberturas de correr), em leveza, como denotam as esquadrias quase imperceptíveis, as cortinas diáfanas e os poucos acessórios, e em conforto, obtido com peças garimpadas no antigo endereço dos clientes e em lojas escolhidas criteriosamente. Já à principal solicitação dos clientes – privacidade –, o arquiteto respondeu de modo original: com painéis metálicos, cuja superfície perfurada lembra o desenho de uma folha. Inspirada em seculares fotografias de temática botânica descobertas em um livro, essa delicada trama ganhou novos significados ao ser aplicada na moradia. “O conjunto lembra uma renda. De certa forma, vesti a casa com esse tecido metálico, garantindo a ela o resguardo pedido pelos donos, mas sem fechá-la completamente para a rua”, afirma, satisfeito com a solução duplamente feliz – a morada envolta em renda é, coerentemente, habitada por uma estilista. Embora não tenha se pautado exatamente na moda ao conceber o projeto, Arthur compara sua obra a uma peça de alta-costura. “Se fosse uma roupa, estaria num desfile do Azzedine Alaïa”, conclui, justificando a escolha pelo talento que o costureiro tunisiano possui para criar peças de acento clean, porém sempre dotadas de detalhes que, cuidadosamente pensados, arrebatam a plateia.