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Casa-ateliê em Recife traz peças que contam a história do morador

A casa do artista Marcelo Silveira tem espaços em que a vida se entrelaça à arte. Ela fica no Centro Histórico de Recife e guarda objetos que trazem múltiplas lembranças

Por Reportagem Aldi Flosi e Mariana Lacerda I Fotos Marco Antonio
20 mar 2012, 17h19

No sobrado de cinco pavimentos, tudo são passos nos degraus da escada. No estreito prédio de número 94 na r. do Apolo, centro histórico do Recife, pessoas e objetos se movem de forma tão natural que quase nem se  ercebe. Não existem hierarquias entre os andares, tampouco entre o que é trabalho, vida familiar ou encontro de amigos. Quem está na cozinha e corta o peixe que será servido no almoço divide a mesa com o artista Marcelo Silveira. É ali que o dono da casa recorta, desenha, rasga, cola, desfaz e faz suas criações enquanto ouvem-se os pés do menino que, recém-chegado da rua, sobe as escadas. A arte não está em um pedestal; ela se mistura à vida.

Conheça o artista Marcelo Silveira

 

Marcelo Silveira nasceu em Gravatá, cidade serrana de Pernambuco, distante 85 km do Recife. Passou sua infância no engenho Amora Grande, de seus pais. Daquelas terras, e do pai, “uma grande pessoinha”, lembra Silveira, ganhava achados pequenos e inusitados. Foi aprendendo assim a observar e a reinventar objetos. De sua infância enfurnado entre as prateleiras no armazém do avô (o armazém M.G.Silveira), parece ter trazido a maestria em organizar, lado a lado ou sobrepondo, pedaços de vidros, de madeira, de papel. Ao fazer isso, sugere novos e outros sentidos a coisas e materiais há muito já existentes no mundo. “A obra se esvazia quando pretende dizer tudo. A riqueza do trabalho é justamente que ele deixe questões abertas. Cada pessoa lê e observa, ela própria, com o que ela é, e enxerga coisas distintas”, diz. Marcelo Silveira veio para o Recife aos 17 anos. Estudou. Foi aprendiz na Oficina Guaianases de Gravura, em Olinda, um dos movimentos artísticos mais significativos de Pernambuco entre as décadas de 1970 e 1980. Viajou um pouco pelo mundo. Tornou-se um artista universal, criador de uma obra que, como disse o curador Moacir dos Anjos “embora se deixe, em contato ligeiro, classificar como escultura, parte significativa dela não cabe nas convenções”. Em sua coleção de natureza imprecisa constam objetos de afetos. Afetos por materiais como a madeira esquecida entre os canaviais e então transformada por Silveira em peças de arte. Afetos por frascos de vidros, linhas, bordados, pedaços de couro, livros. E também por algo que necessariamente não se vê, mas que se faz presente: o modo de trabalhar aprendido com trabalhadores manuais e artesãos – o que acontece quando o ateliê do artista se deslocapara outras cidades de Pernambuco, num projeto que ele denominou de Correcaminho. No sobrado-ateliê de Marcelo Silveira reside um inventário construído dessas muitas trajetórias. “E que resultam de apropriações de tudo aquilo que eu desejo compartilhar com os outros”, diz ele.

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