A poética coleção do designer Domingos Tótora chega a Paris
Objetos de papelão de Domingos Tótora estão expostos no bairro de Marais, em Paris
É no alto da Serra da Mantiqueira, MG, que o designer produz seus objetos de papelão reciclado. Também de lá, parte deles foi despachada cuidadosamente em caixas de madeira de demolição para a Cidade Luz. Desde novembro do ano passado, Tótora é representado pela galeria James, que fica no descolado Marais, na capital francesa. Para o mineiro, isso sinaliza o espírito universal de suas criações.
Como se deu o contato entre você e Paul Vigier, galerista da James?
Em março do ano passado ele me mandou um e-mail elogiando muito o meu trabalho e dizendo que queria ter algumas peças com ele em Paris. Não nos conhecemos pessoalmente ainda, mas ele sabia bastante sobre minhas peças, foi muito cuidadoso e já pediu exatamente as quais queria, a distância mesmo.
Ele não havia visto nada antes?
Não aqui no Brasil. Então as embalei em caixas de madeira de demolição e enviei para lá. Quando chegaram, ele me mandou outro e-mail. Ele ficou muito agradecido e emocionado, elogiou as embalagens, o que me deixou muito feliz.
O que é para você ter a sua obra exposta em um lugar como esse?
É uma conquista ver o meu trabalho sair de Maria da Fé, esse lugar isolado, e ganhar vida do outro lado do Atlântico. E acho que significa que o meu trabalho cria um diálogo muito bacana com as outras peças que estão lá. Estou ao lado de Lina Bo Bardi, Geraldo de Barros, Oscar Niemeyer e outros. Isso é ser universal. Penso que é um pouco como diz aquele poema de Alberto Caeiro em que ele diz que é do tamanho daquilo que vê e não do tamanho de sua altura. Aqui, estou no alto da colina, enxergo longe e chego longe.
Fora do país, a galeria James é a única que te representa?
Não, estou também representado em Los Angeles e na Bélgica.
Entre criações de Lina Bo Bardi (1914-1992), Geraldo de Barros (1923-1998) e outros modernistas brasileiros, o trabalho de Tótora se destaca na galeria James: o Disco Plano Relevo (1,30 m de diâmetro); os vasos orgânicos Casca 3, 1 e 4 (45, 48 e 37 cm de altura, respectivamente); e o banco Terrão (2,50 m x 44 cm x 43 cm*) são algumas das obras exibidas.