A Casa Verde: um charmoso apê em Florianópolis com inspiração britânica
O lar da professora Shana Schroder, à frente do @acasaverde65, e sua filha é repleto de inspirações inglesas — a 5 minutos da praia em Florianópolis
Mais de 10 mil quilômetros separam as idílicas colinas inglesas de Cotswolds, famosas pelos chalés em pedra calcária cor de mel, e o lar da professora de inglês Shana Schroder, de 38 anos, e sua filha Clara, de 11 anos.
O apartamento de pouco mais de 60 metros quadrados está a 5 minutos da pacata praia da Barra da Lagoa, no leste de Florianópolis. Ainda assim, é um retrato da fusão do aconchego britânico e a tranquilidade manezinha.
As cores suaves e formas orgânicas das cestas repletas de limonium, das cadeiras de palha, dos vasos com hastes de eucalipto, das luminárias de linho, das persianas de madeira e dos painéis até a metade das paredes contrastam harmoniosamente com a cozinha laqueada em verde petróleo. Ao entrar, temos a impressão de que tudo ali foi disposto para acolher.
Apesar de sempre ter se interessado por decoração, Shana foi conquistada pelo estilo dos lares ingleses em sua primeira visita ao país.
“Comecei a reparar onde me hospedava, o que é que me causava aquela sensação de bem-estar, de casa que abraça. Foi ali que percebi o poder da decoração, que muito desse impacto vinha da combinação de cores e texturas, das capas dos sofás e cobertas, da iluminação quente e indireta, e me apaixonei por aquilo.”
Desde que comprou o imóvel há três anos, Shana vem moldando o apartamento para ser um local de segurança e conforto. Mas o desejo de ter um lar para onde ela e a filha possam voltar é um sonho antigo que há muito começou a ser sonhado.
“Quinze dias antes da Clara nascer, meus irmãos [com quem morava na época] e eu levamos um golpe no aluguel e ficamos sem casa, a pessoa até já foi presa porque era uma golpista famosa na cidade. Fui para a maternidade sem saber para onde voltar. Entrei no hospital dia 29 de fevereiro e, ainda bem que foi uma cesárea e a Clara nasceu só no dia 1 de março, porque nesse tempo minha irmã conseguiu fechar o contrato de outro lugar”, conta.
A “Casa Verde” que dá nome ao Instagram onde a professora compartilha o dia a dia, reformas, reflexões sobre maternidade e autocuidado, e viagens dela e da filha foi alugada seis anos depois. “Mãe, mãe, conta da casa azul!”, grita Clara do corredor e as duas riem lembrando.
“A Barra tem muitos imóveis detonados. Quando a Clara tinha uns 5 anos, nós visitamos uma casa para alugar que estava caindo aos pedaços. Ela se impressionou, acho que vai lembrar pra sempre.”
Beleza em todos os cantos
O apartamento atual foi encontrado por uma junção de acasos, segundo Shana. Na volta de um passeio no parque, escolheu o caminho mais longo, por ser o mais bonito. Viu um anúncio de vende-se, tirou uma foto e esqueceu daquilo. Comprar um imóvel não estava em seu horizonte.
“Tenho muito orgulho do que consegui fazer, mas não recomendo! Não dá pra romantizar, foi pesado. Se eu soubesse, não teria feito e estaria ainda pagando aluguel.”
Shana Schroder, criadora do @acasaverde65
À tarde, sem motivo aparente, a luz acabou e, sem poder dar aula online, começou a limpar as imagens do celular. Viu a foto e ligou para a imobiliária, marcando a visita.
“Comprei naquele mesmo sábado. Era um apartamento alugado para veraneio, não tinha a manutenção necessária. Quando entrei, já sabia que mudanças queria fazer. Eu achava que com R$ 10 mil conseguiria reformar. Era o dinheiro que tinha. 10 mil e um sonho, né?”, conta às gargalhadas.
Shana tocou toda a reforma sozinha, projetou os móveis e decorou por conta própria, sem ajuda de arquitetos.
“Tenho muito orgulho do que consegui fazer, mas não recomendo! Não dá pra romantizar, foi pesado. Sabe aquela história de que a ignorância é uma bênção? Se eu soubesse, não teria feito e estaria ainda pagando aluguel. Às vezes, a gente não precisa saber de tudo, a gente só tem que fazer.”
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Apesar de já ter ajudado amigos a decorarem suas casas e muitos seguidores pedirem um toque “casa verde” em seus lares, Shana garante que por enquanto só quer arrumar a própria casa.
“Sou professora de inglês, é isso o que eu amo fazer. Depois de 16 anos dando aula em escolas, criei o meu próprio negócio e tenho mais de 230 alunos particulares. É nisso que me considero expert“, diz, mostrando os bilhetes em inglês escritos pela filha na porta da geladeira.
“Você sabe o que é perrengue?”
Recentemente, em uma viagem pela França, mãe e filha contavam com a cafeteria do trem para fazer um lanche durante a viagem, mas o vagão estava fechado e ficaram sem comer durante o trajeto.
“Compartilhei isso rindo da situação e as pessoas reagiram como se fosse o maior problema do mundo. A viagem foi ótima, nós nos divertimos, rimos um monte, chegamos na estação e comemos. Mas recebi mensagens como ‘que horror’, ‘que perrengue’, ‘que tipo de mãe sai sem uma comida na bolsa pra dar pro filho?’, fiquei pensando no tanto de coisas que a Clara já não teve. Sou de família pobre, nunca passei fome. Meu pai é mecânico e minha mãe, professora de escola pública. Mas ter condições de viajar, de realizar os nossos sonhos, é algo recente. Então ela sabe o que é perrengue.”
Natural de uma cidade de 4 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul, Shana mudou-se para Florianópolis logo após terminar a faculdade, e pouco tempo depois engravidou do então namorado inglês. Ele foi embora do Brasil e o pai de Shana, ao saber da gravidez, só voltou a falar com a filha depois que a neta nasceu. Ela descreve como um período de “total abandono emocional e afetivo”.
Porto seguro para duas
Hoje, o quarto de Shana é o lugar favorito de Clara, e o de Clara, o favorito de Shana. “Não é o cômodo mais bonito, nem o mais bem decorado. Ainda quero fazer alguns ajustes. Mas é o mais emocionante. Quando a vejo receber as amigas, guardar as coisinhas dela, saber que tem um lugar pra ela depois de anos dormindo comigo, eu me emociono”, diz Shana.
“Cada vez que a gente começava a se sentir em casa nos outros locais em que moramos, pediam o imóvel e tínhamos que recomeçar do zero. Tudo o que eu queria era segurança. Na verdade, era o que a gente precisava para prosperar.”
“Gostaria que as pessoas soubessem o quanto eu sou otimista e sonhadora, e como sou feliz com o que venho conquistando. É como uma viagem. Se você só compra a passagem e vai sem planejar, parte da viagem é perdida.”
Ao lado da porta principal do apartamento, latas de tinta que trouxeram de sua última estada na Inglaterra e um bastidor bordado com um chalé inspirado nos de Cotswolds chamam a atenção.
“Sonhos para uma futura casa, quem sabe”, brinca Shana. Mãe e filha podem estar com as malas prontas para conhecer o mundo, mas construíram um lindo porto seguro para onde voltar. Juntas.